IPO: Como saber se vale a pena investir ou é uma cilada?

O avanço do mercado de capitais no Brasil é notório. Com a economia ensaiando uma recuperação, realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) passou a fazer sentido para empresas que buscam crescimento. Entretanto, 50% das empresas que abriram capital no ano passado veem suas ações caindo desde então — sinal de que nem sempre um IPO é uma boa opção para os investidores.

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Hoje, 46 empresas estão na fila da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para abrir capital na Bolsa de Valores de São Paulo. Além disso, com as plataformas de investimento para pessoa física, ficou cada vez mais fácil entrar em um IPO.

Entretanto, segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, não é incomum que novatos no mercado caiam em armadilhas que não eram óbvias quando o prospecto chamou atenção.

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A assimetria de informações entre os controladores, bancos coordenadores, investidores institucionais e pequenos investidores é grande em todo o processo de listagem. Por outro lado, boas oportunidades podem estar à disposição, e o caminho para os investidores é focar em:

  • Visão de longo prazo;
  • Múltiplos abaixo dos pares no mercado;
  • Histórico dos gestores e distribuidores da oferta;
  • Expectativas ancoradas na realidade.

Confira dicas de especialistas para se sair bem em um IPO, sempre pensando no longo prazo.

Bolsa não é cassino

Com o avanço da Bolsa no Brasil, diversas empresas enxergaram o mercado de capitais como uma forma de se capitalizar, crescer, se tornar mais rentável e atingir a maturidade de forma mais rápida e sustentável.

“O mercado de empresas de capital fechado é enorme no Brasil, há uma fila muito grande para entrar na Bolsa, tudo a depender da atual demanda do mercado. Então não acho que falte espaço”, diz o analista da SUNO Research, Rodrigo Wainberg.

Entretanto, quando as empresas vem a mercado e abrem mão de parte do controle e passam a ter milhares de sócios, querem que eles o acompanhem no processo de construção de um negócio ao longo do tempo.

Não é interessante para as empresas que os sócios larguem as ações após uma alta de 10% em uma semana, diz o gestor da Arena Investimentos, Maurício Pedrosa. Além disso, segundo ele, a prática de “flipar” um IPO (especulação que consistem em reservas as ações e vendê-las no primeiro dia de negociação após a oferta) é destrutiva ao mercado.

“O prazo da carreira de um investidor de verdade é longo. É melhor construir o patrimônio de forma gradual, segura e com bom embasamento. Não se trata de diversão, não é cassino”, diz Wainberg, em sua principal dica aos investidores que querem entrar em ofertas públicas.

O preço importa — principalmente no IPO

Assim como em todo e qualquer investimento — mesmo para o especulador –, o preço importa na hora de entrar em um IPO. Nem sempre é fácil de condensar as informações e chegar a um preço justo para a companhia no início, uma vez que o histórico de resultados é curto e pode ser um setor que ainda não existe na Bolsa.

Contudo, a avaliação por múltiplos é essencial para o sucesso do investimento. “Múltiplos são ótimos indicadores, mas precisam ser calculados com informações ajustadas em base recorrentes. Dados objetivos como geração de receita, caixa e lucros falam por si só, mas números para apenas um ano podem enganar”, afirma o especialista da SUNO.

Para Leandro Saliba, gestor de ações da AF Invest, a análise comparativa também é bem-vinda. “Comparar com as empresas que já têm capital aberto e perceber se está saindo com prêmio ou com desconto – e por quê — é muito importante. O prêmio ocorre por conta do crescimento? O que o justifica pagar mais por uma empresa que pode não ser consolidada?”

“Quando estamos falando em IPO, estamos falando em capital de risco. As empresas que vêm a mercado normalmente não têm um histórico grande para apresentar ao mercado, então os investidores precisam ficar atentos”, salienta Pedrosa.

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O gestor da Arena Investimentos, contudo, diz que a análise por múltiplos pode ser distorcida em alguns casos, como empresas de tecnologia, que podem abrir capital antes de registrarem lucros efetivamente. “Nesse caso, o importante é entender para onde a companhia vai, suas perspectivas, para ponderar se vale a pena pagar o preço.”

Wainberg dá outra dica: é importante entender as projeções de crescimento do setor de acordo com várias fontes. “Se o setor cresce rápido e a empresa tem um market share relevante e em crescimento, são dois indicadores positivos”, diz.

Ele cita o exemplo da Petz (PETZ3), que abriu capital em setembro de 2020. “Todo mundo percebe que as pessoas estão tendo cada vez menos filhos, e mais cachorros. Você vai no shopping, tem cachorro passeando com os donos, que sempre entram nas megastores“, comenta o analista.

Olhar o que e quem está por trás da oferta

Um bom indício é olhar quem está por trás das empresas que querem oferecer um pedaço do capital aos investidores. “Saber quem está liderando a governança da companhia já mitiga a maioria dos problemas que podem aparecer algum tempo depois da oferta”, diz Pedrosa.

Se um gestor apresentou um histórico vencedor em alguma outra companhia, ou teve habilidade de conduzir a própria empresa durante ciclos econômicos conturbados, são bons sinais.

Da mesma forma, se o acionista controlador ou o fundador está abrindo mão da maior parte da participação na companhia, em uma oferta majoritariamente secundária (quando os recursos não vão para o caixa da empresa), é algo para ficar de olho.

“Oras, por que o controlador está saindo da empresa, se ela diz que possui perspectivas de melhor e crescimento?”, levanta o questionamento Saliba, da AF Invest. “Uma coisa é se um investidor de private equity sai para realizar o lucro de um investimento feito anteriormente. Mas se o fundador da empresa sai do negócio de forma massiva, é uma sinalização ruim.”

“Também vale a pena olhar quem está coordenando a oferta, os grandes bancos de investimento. Isso é importante pois você pode analisar se as instituições têm um histórico honesto de trazer boas ofertas ao mercado”, afirma Pedrosa.

Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura

Após uma forte onda de IPOs em 2020, mesmo com a economia do Brasil patinando e o Ibovespa não saindo do lugar, os investidores podem se perguntar se grandes desempenhos necessariamente acontecerão logo após a oferta. O mercado sempre extrapola ao futuro o que aconteceu no passado, dizem especialistas.

No ano passado, foram 26 aberturas de capital — as ofertas de ações totais, contando com os follow-ons, levantaram R$ 117 bilhões. O número só ficou atrás de 2007, quando foram realizados 64 IPOs, movimentando R$ 55 bilhões à época.

O retorno médio das empresas que abriram capital em 2020, até o fechamento da última quinta-feira (18), foi de 34,1%. Os investidores, contudo, não devem ficar vislumbrados com esse número, pois ele está contaminado pelo “efeito Locaweb (LWSA3)“.

Desde fevereiro do ano passado, as ações da Locaweb já subiram quase 400%. Desconsiderando a participação da companhia nesta lista, a mediana dos retornos (que exclui o melhor e o pior retorno da lista), é de apenas 1,2%. Poucos IPOs dão retorno em pouco tempo, caso esse seja o objetivo do investidor.

Após subir quase 600% desde o IPO, as ações da Locaweb caíram 30% no último mês.

“Investir em ações é um compromisso para anos, décadas e, quem sabe, gerações. Entender isso é fundamental. Não vale a pena fazer um giro louco das posições”, diz Wainberg.

O baixo resultado dos papéis nas ofertas do ano passado pode estar relacionado ao valuation esticado das ofertas, diz Saliba. “Boa parte dos IPOs que aconteceram foram a preços errados. Os grandes bancos aproveitaram a ampla rede de distribuição e ofertaram empresas a investidores que não fizeram as contas que deveriam.”

Somente nos primeiros dois meses deste ano, 14 empresas já tiveram suas ações listadas. Uma delas, a Mosaico (MOSI3), dobrou de valor logo no primeiro dia de negociação. Entretanto, desde então as ações da empresa recuaram e nunca mais voltaram ao patamar da estreia na Bolsa.

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Os indícios de um bom IPO

Embora não sejam maioria, existem IPOs que, de fato, valem a pena e materializam bons negócios.

“Podemos olhar para os campeões lá fora. O mundo está cada vez mais digital, e a pandemia acelerou esta transição do offline para o online. No entanto, também existem setores menos charmosos que podem dar bons retornos. É necessário olhar caso a caso”, afirma Wainberg.

Pedrosa, por sua vez, diz que é necessário olhar além de uma propagando bem feita dos coordenadores da operação.

“Os investidores não devem entrar em um IPO apenas por estarem olhando uma história de sucesso. Eles devem fazer o dever de casa, entender a qualidade daquilo, como a empresa ganha dinheiro e como estará daqui cinco ou 10 anos. E, claro, se o preço está adequado.”

Para ele, além disso, as projeções contidas no IPO devem ser condizentes com a realidade da empresa e com o cenário em que está inserida. “O desvio entre o que já foi entregue pela empresa e o que ela pretende alcançar não podem ser muito grandes. Caso algo saia do controle, pode dar errado.”

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Jader Lazarini

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