IPOs 2021: Com piora de cenário, operações podem não sair do papel

Nas últimas semanas, a lista de pedidos de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) na B3 cresceu rapidamente. Até a manhã desta quarta-feira (10), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contabilizava 43 ofertas em análise, com prospectos preliminares já publicados. Não foram poucos os dias no início deste ano em que era protocolado mais de um pedido por dia.

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No entanto, a intensificação da crise econômica — e política — no Brasil também foi acirrada no período. Em meio a interferências do governo em estatais, dúvidas sobre a pandemia e dólar nas alturas, o pregão da última segunda-feira marcou o nervosismo dos investidores quanto à retomada dos direitos políticos do ex-presidente Lula, habilitando-o a disputar as eleições presidenciais no ano que vem.

Com todas estas incertezas em torno do mercado e um risco político cada vez maior, começam a surgir dúvidas sobre o volume de aberturas de capital que estão prestes a acontecer. Segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, o mercado pode se tornar cético em relação às novas ofertas, embora a visão não seja consensual.

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Preferência pode ser por tradicionais a IPOs

Com a forte volatilidade dos últimos dias, o ambiente ficou pouco propício para a chegada de novas empresas à Bolsa, uma vez que as companhias já listadas – com histórico comprovado – passaram a representar oportunidades de investimento.

“Se o cenário interno não melhorar, suponho que a minoria das empresas desta lista da CVM de fato fará IPO”, afirma João Arthur Almeida, sócio da Slice Investimentos e gestor do Jaú, clube de investimentos. Para ele, não haverá demanda no mercado para absorver todas as ofertas, sobretudo quando a “torneira” dos Bancos Centrais for fechada e a liquidez mundial diminuir.

“O excesso de liquidez é um aspecto importante que devemos manter sob o radar, pois amplia o apetite ao risco dos investidores. No entanto, caso os investidores passem a ficar com a liquidez mais curta, ou receosos com a recessão global, inflação e até com o cenário político, a concretização dos IPOs será dificultada.”

Em relatório divulgado na última terça-feira, a XP Investimentos afirmou que o risco político brasileiro deve pressionar as cotações de empresas de boa qualidade, abrindo oportunidades à frente.

“Empresas de qualidade tendem a sofrer nessas correções, que pouco tem a ver com o fundamento das companhias. Isso abre oportunidades de investimento a preços mais atrativos”, afirmaram os analistas. A previsão da corretora reforça a tese de que os IPOs terão que competir com bons papéis a preços baixos.

Para Paulo Ghedini, analista de ações e co-gestor da Perfin Asset Management, contudo, é difícil que o cenário lá fora com o encurtamento da liquidez possa interromper esse processo do crescimento do mercado de capitais no País. No entanto, ainda coloca o risco Brasil na conta. “Dependemos muito mais do governo atual, e do próximo, em fazer a lição de casa na política fiscal, para que continuemos em estabilidade.”

Estreantes precisarão convencer receosos

De acordo com os especialistas, os investidores tendem a ser mais criteriosos na hora de entrar em IPOs no cenário atual. Segundo uma análise prévia realizada pelo sócio da Slice sobre quatro IPOs de tecnologia — Unicoba, Privalia, Getninjas e LG Informática — chama atenção o fato de que todas (com exceção à última) operam em um mercado consumidor em crescimento e têm modelos de negócios interessantes, mas ainda não são lucrativas.

“E-commerce, saúde e serviços em geral são setores que devem se destacar nas listagens na B3. O que é positivo para os investidores, pois ainda temos uma Bolsa muito pautada em bancos e commodities, temas que já ficaram para trás nas economias desenvolvidas”, diz Almeida.

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Entretanto, para Miguel Vieira, Associate Manager da Peers Consulting, toda e qualquer empresa que venha ao mercado deve entender as demandas dos investidores, e não apenas apresentar um bom plano para o futuro.

“Os investidores esperam por sinais de consistência e continuidade do negócio, para que possam diminuir a chance de risco. As companhias precisam saber que passará a existir a cultura de dono após os IPOs.”

Saúde e tecnologia se destacam na fila de IPOs

Na fila de empresas preparando IPO, destacam-se dois: saúde e tecnologia. Confira a lista completa de empresas se preparando para abrir capital, com atualização até esta quarta-feira:

EmpresaData do pedido
ALPHAVILLE14/08/2020
CFL INC PAR24/08/2020
W2W E-COMMERCE DE VINHOS03/09/2020
GRUPO BIG BRASIL19/10/2020
GRUPO FARTURA DE HORTIFRUT20/10/2020
UNI.CO21/10/2020
OLEOPLAN ÓLEOS VEGETAIS PLANALTO21/10/2020
BOA SAFRA SEMENTES22/10/2020
CTC – CENTRO DE TECNOLOGIA CANAVIEIRA22/10/2020
MÉTODO ENGENHARIA23/10/2020
VITTIA FERTILIZANTES E BIOLOGICOS17/11/2020
CORTEL HOLDING23/11/2020
KALUNGA04/12/2020
IGUA SANEAMENTO07/12/2020
GUARARAPES PAINÉIS16/12/2020
AGROGALAXY PARTICIPAÇÕES31/12/2020
CASA & VÍDEO BRASIL22/01/2021
CM HOSPITALAR03/02/2021
NADIR FIGUEIREDO05/02/2021
BLAU FARMACÊUTICA05/02/2021
LG INFORMÁTICA08/02/2021
NOVA HARMONIA10/02/2021
PRIVALIA BRASIL17/02/2021
HOSPITAL MATER DEI12/02/2021
ENTALPIA PARTICIPAÇÕES18/02/2021
HOSPITAL CARE CALEDONIA18/02/2021
LABORATÓRIO TEUTO BRASILEIRO19/02/2021
TRÊS TENTOS AGROINDUSTRIAL19/02/2021
DOTZ22/02/2021
GPS PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS22/02/2021
LIVETECH DA BAHIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO22/02/2021
SÃO SALVADOR ALIMENTOS PARTICIPAÇÕES23/02/2021
KORA SAÚDE PARTICIPAÇÕES25/02/2021
TEGRA INCORPORADORA26/02/2021
LIBRELATO S.A. IMPELMENTOS RODOVIÁRIOS25/02/2021
RIO BRANCO ALIMENTOS26/02/2021
GETNINJAS26/02/2021
PETRORECÔNCAVO26/02/2021
BIONEXO01/03/2021
GRUPO AVENIDA01/03/2021
INFRACOMMERCE CXAAS01/03/2021
RIO ALTO ENERGIAS RENOVÁVEIS01/03/2021
RIO ENERGY PARTICIPAÇÕES03/03/2021

“O que aconteceu com o Brasil nos últimos anos foi a alta dependência das commodities, gerando uma cultura de investimentos mais ligadas ao setor. Agora, o que estamos observando é um processo natural de melhor representação da economia real“, afirma Vieira.

“Saúde e tecnologia, que têm chegado com um certo atrasado em relação ao resto do mundo, são reflexo disso”, diz. O setor de saúde, sobretudo, tem se destacado no Brasil nos últimos anos e, principalmente, últimos meses.

Com o IPO da Rede D’Or (RDOR3), os concorrentes da empresa procuraram colocar os negócios em dia. Hapvida (HAPV3) e Intermédica (GNDI3) fecharam uma fusão de criará um gigante do setor, com aspecto verticalizado e eficiente operacionalmente. A Hospital Care, por sua vez, é uma das que está na fila para a abertura de capital.

“Esse setor possui um fator adicional: a precariedade do sistema público de saúde. Essa situação acaba dando espaço para que o setor privado tenha um protagonismo maior e que consiga ajudar a população com suas demandas”, afirma Ghedini.

“Em situações em que o Estado não consegue suprir as necessidades públicas de forma assertiva, como no Brasil e outros vários países, o setor privado passa a oferecer alternativas”, diz o gestor. “Se olharmos para os próximos 10 anos, ainda há muito o que ser feito no setor de saúde, em diferentes partes da cadeia produtiva no segmento.”

Daqui para frente, resta saber como o mercado vai se comportar diante das ofertas — e se haverá ou não espaço para tantos IPOs em 2021.

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Jader Lazarini

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