O que é alavancagem e como funciona no mercado financeiro?

Principais destaques
  • Alavancagem é usar recursos de terceiros para aumentar as chances de retorno em um investimento;
  • Ao mesmo tempo que pode proporcionar crescimento em negócios, é um faca de dois gumes;
  • Na renda variável, é um procedimento utilizado principalmente em day trade, venda a descoberto e mercado futuro.

A alavancagem é uma das ferramentas mais poderosas — e perigosas — do mercado financeiro. Em termos simples, trata-se do uso de recursos de terceiros, geralmente por meio de dívida, para ampliar o potencial de retorno de um investimento. 

Ela permite que empresas, fundos e investidores operem com um capital maior do que o disponível, multiplicando ganhos em momentos favoráveis, e prejuízos quando o cenário muda.

Entre 2022 e 2024, o Brasil viveu um dos maiores “testes de estresse” da história econômica recente. O ciclo de alta da taxa Selic, que atingiu 13,75% ao ano, revelou como a alavancagem financeira pode ser uma faca de dois gumes. 

Empresas e fundos que usavam dívidas atreladas ao CDI viram seus custos explodirem, comprometendo lucros e até colocando negócios em risco. Em 2025, a lição é clara: mais do que o volume da dívida, o que define o risco é o indexador; o tipo de taxa que corrige o empréstimo.

A seguir, você verá o que é alavancagem, como ela funciona, seus principais tipos e indicadores, e por que esse conceito é essencial para interpretar o desempenho financeiro de empresas e investimentos. Continue a leitura!

O que é alavancagem?

Alavancagem significa usar capital de terceiros para potencializar os lucros. O termo vem da ideia física de uma alavanca: com pouco esforço, é possível mover um peso muito maior. No contexto financeiro, o “esforço” é o capital próprio e o “peso” é o retorno potencial que a dívida ajuda a alcançar.

Mas essa força também age no sentido contrário. Se o investimento não render mais do que o custo da dívida, as perdas se multiplicam. É por isso que se costuma dizer que a alavancagem é a ferramenta que “constrói impérios e quebra empresas”.

Na prática, estar alavancado significa operar com recursos emprestados. Uma empresa alavancada financia sua expansão por meio de empréstimos. Um investidor pessoa física alavancado usa crédito da corretora para comprar mais ações. E um fundo pode recorrer à alavancagem para turbinar a rentabilidade das cotas.

O conceito é aplicável em diferentes contextos — alavancagem financeira, alavancagem operacional, alavancagem comercial — e em todos eles a lógica é a mesma: aumentar a exposição, o retorno e o risco.

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Como funciona a alavancagem?

A ideia central é simples: usar um capital menor para gerar retornos sobre um volume maior de recursos. No setor financeiro, esse recurso pode ser acessado por meio de operações alavancadas, como a compra de ações com margem, o uso de produtos estruturados, contratos futuros e opções. No ambiente corporativo, a contrapartida costuma ser o endividamento — emitindo dívida ou tomando empréstimos para alavancar investimentos.

Quais são os tipos de alavancagem?

Existem diferentes formas de alavancar recursos, dependendo do contexto — seja empresarial ou de investimento. As duas categorias mais comuns são a alavancagem financeira e a alavancagem operacional, cada uma com características, riscos e objetivos distintos. A seguir, entenda como elas funcionam e em que situações são aplicadas.

1. Alavancagem financeira

A alavancagem financeira refere-se especificamente ao uso de capital de terceiros, como um empréstimo. Uma métrica comum para seu cálculo é a relação dívida líquida/EBITDA. Um valor elevado indica que a empresa recorre intensamente a capital de terceiros para gerar lucro operacional, aumentando o potencial de retorno sobre o capital próprio (ROE), mas também elevando o risco de solvência.

Quando a alavancagem financeira é útil

  • Empresas com fluxo de caixa estável podem usar essa alavancagem para crescer e melhorar sua eficiência.
  • Investidores com perfil moderado podem aplicar alavancagem financeira por meio de margens controladas, mas o mercado atual de juros altos no Brasil exige cautela redobrada.

2. Alavancagem operacional

A alavancagem operacional trata do uso de custos fixos para maximizar resultados com o aumento de vendas. Quanto maior a proporção de custos fixos na estrutura, maior a alavancagem. Ao crescer a receita sem crescimento proporcional de custos, o lucro cresce de maneira exponencial. No entanto, em momentos de faturamento baixo, esse modelo pressiona a rentabilidade.

Quando usar alavancagem operacional

  • Para investidores: pode render ganhos expressivos, mas exige gestão ativa de risco e conhecimento técnico. Trata-se de assumir uma exposição a variações ampliadas do mercado, o que pode potencializar tanto os ganhos quanto as perdas.
  • Para empresas: funciona bem quando o acionista visualiza retorno futuro consistente e tem caixa para honrar compromissos.

Como calcular a alavancagem

  1. Alavancagem financeira = Dívida líquida ÷ Patrimônio líquido
  2. Alavancagem operacional = Variação porcentual do EBIT ÷ Variação porcentual das vendas

Esses indicadores ajudam a decidir se a estrutura de custos e financiamento é adequada ao risco e ao potencial de retorno.

Alavancagem no contexto de IPO

Empresas podem se alavancar no contexto de IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) para maximizar o valor captado ao abrir capital. No entanto, investidores devem analisar o balanço e a intenção de uso do recurso levantado.

Em IPOs recentes no Brasil, algumas empresas utilizaram os recursos para reduzir a alavancagem financeira, o que geralmente é visto como um sinal de disciplina fiscal. Outras demonstraram a estratégia de alavancagem comercial, investindo pesado em marketing ou expansão geográfica.

Alavancagem dos bancos

No sistema bancário, a alavancagem é inerente: bancos usam depósitos e recursos de terceiros para financiar empréstimos. Regulamentações como Basileia III definem limites de alavancagem para evitar riscos sistêmicos.

A alavancagem dos bancos (ativo total ÷ patrimônio líquido) normalmente varia entre 8x e 12x, conforme tolerância local e exigências das autoridades.

Principais métodos de alavancagem

  • Margem de garantia: utilizar recursos alugados da corretora para comprar mais ativos;
  • Derivativos: operar opções, contratos futuros e outros instrumentos que exigem menor volume de capital alocado;
  • Alavancagem comercial: intensificar canais de vendas para elevar resultados e diluir custos;
  • Alavancagem em aquisição de empresas: usar dívida para financiar compras estratégicas.

Como a alavancagem é utilizada em investimentos na bolsa de valores?

A alavancagem nos investimentos pode ser dada de três formas:

  • Mercado futuro;
  • Day Trade;
  • Venda a descoberto.

1. Mercado Futuro

Para aqueles que desejam operar os contratos no mercado futuro, é possível operar diversos índices, além de commodities (boi, café, milho e outros).

Nesse caso, essa modalidade pode proporcionar maior rentabilidade, mas também implica em um aumento do risco.

2. Day Trade

As operações de Day Trade consistem naquelas iniciadas e encerradas em um mesmo dia, e podem ser alavancadas para buscar maior rentabilidade.

Nesses casos, é preciso ficar atento ao pagamento de impostos, que costuma ser mais elevado em relação a operações de maior prazo.

3. Venda a descoberto (short selling)

No processo de venda a descoberto, é possível alugar uma ação e lucrar com a queda em sua cotação.

No entanto, para que esse processo possa ser alavancado é preciso deixar uma margem de garantia, que consiste em uma fração da posição relacionada à operação em questão.

Nesse tipo de operação, o investidor aluga as ações para vendê-las no mercado, para depois recomprá-las por um preço menor. Esse tipo de alavancagem também é conhecido como short selling.

Por exemplo, suponha que um investidor acredite que os papéis da empresa XPTO3, atualmente cotados a R$ 20, irão cair. Ele aluga as ações, vende no mercado por R$ 20, e, se o preço cair para R$ 15, recompra e devolve ao doador, embolsando a diferença (R$ 5 por ação), descontadas as taxas.

Vale a pena operar alavancado?

Operar alavancado pode ser vantajoso para investidores experientes que adotam uma gestão rigorosa de risco e possuem uma estratégia bem definida. A alavancagem permite multiplicar ganhos com uma quantidade menor de capital, mas essa mesma lógica também amplia perdas potenciais.

Para perfis conservadores ou iniciantes, os riscos costumam superar os benefícios. Assim, é essencial avaliar não só o apetite ao risco, mas também a capacidade financeira de absorver oscilações relevantes sem comprometer o patrimônio.

ACESSO RÁPIDO
Tiago Reis
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4 comentários

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  • augusto 13 de janeiro de 2021
    conteúdo excelente além da boa didática. aprendendo muito. parabéns!Responder
    • Suno Research 15 de janeiro de 2021
      Olá, Augusto! Tudo bem? Muito obrigado! Ficamos felizes em ajudar. Atenciosamente, Equipe Suno.Responder
  • Narayane 8 de janeiro de 2022
    Conteúdo muito informativo e ainda assim objetivo. Parabéns! Saberiam indicar alguns livros sobre o assunto (alavancagem financeira)?Responder
  • Ana 5 de dezembro de 2022
    Muito esclarecedor,de de leitura acessivel e realisteResponder