Token é nova alternativa no mundo dos investimentos, mas Brasil ainda está de fora

Hoje em dia, ter “cotas” ou “papéis” é o mais comum nas práticas do mercado financeiro. Assim como em outros segmentos, a influência da tecnologia pode (ou deve, segundo alguns especialistas) mudar esse paradigma, ao passar a oferecer um token aos investidores – cujo maior alvo são os mais jovens, justamente a fatia do público que mais entrou na bolsa nos últimos meses.

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A proposta do token é oferecer uma ferramenta que muda algumas possibilidades no cotidiano do investidor, e também amplia o leque de produtos a serem adquiridos. Em suma, um token é um criptoativo transacionável e de fácil acesso.

O item é relativamente novo para a maioria dos investidores. Mas, dado o dinamismo do mercado de criptoativos e similares, as mudanças e adaptações são velozes.

“Atualmente, vemos diversas inovações dentro do mercado de investimentos que ainda estão a ser regulamentadas. A tokenização de ativos reais já tem fundamentos bem claros dentro da lei americana e de diversas outras jurisdições”, explica o professor da Universidade da Califórnia, Alex Nascimento, estudioso do tema e autor do livro The STO Financial Revolution  – How Security Tokens Change Businesses Forever.

Dentro da jurisdição brasileira, contudo, não há clareza sobre como esse mercado deve se comportar, já que  as normativas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estipulam que, por ora, um valor mobiliário não pode ser tokenizado no Brasil.

Para Nascimento, é uma questão de tempo para que a regulamentação ocorra, dado que o Brasil já possui uma adesão muito positiva de produtos similares, como os derivados de criptomoedas.

Alguns exemplos são o fundo HASH11, da Hashdex, e outros produtos de instituições mais tradicionais – como o Citi e o BTG [BPAC11) – que são derivados de criptomoedas e “empacotados” de uma forma mais institucional.

Ausência de regramento dá vazão a negócios no exterior

A ausência de normativas acerca do tema ainda mantém os empreendedores do ramo com os olhos no exterior, caso da Fuse Capital, que inaugurou operações recentes no exterior na ausência de possibilidade em território nacional.

“O Brasil não foi muito cogitado pela Fuse porque atuamos sempre dentro da lei em um negócio institucional – trabalhamos com coisas inovadoras, mas buscamos segurança jurídica para que isso não adicione uma camada de risco”, relata João Zecchin, sócio da Fuse.

Assim, mesmo que a ação feita pelo fundo seja pioneira no mercado de venture capital (VC), sendo o primeiro fundo com um token lastreado por investimentos de VC na América Latina, a atratividade ainda fica no exterior por conta dos regramentos – ou da ausência deles.

No negócio proposto pela Fuse, os tokens são lastreados nas cotas do fundo, refletindo a valorização das startups investidas. Neste modelo, o investidor da Fuse poderá negociar o token além de detê-lo em carteira própria. Além disso, a inovação traz algumas facilidades no cotidiano na gestora.

“O onboarding do cliente passa a ser menos burocrático. Tudo isso será feito de forma digital e por sistema, sem uma pessoa coletar os dados. Os formulários são digitais”, afirma o executivo da Fuse.

“A parte de pagamentos, no nosso caso que pagamos dividendos, será feita em carteiras digitais, já que poderemos fazer esse pagamento sem bancos intermediários, por exemplo. Temos a possibilidade de pagar dividendos de forma automática e com ganhos de eficiência. A liquidez por si só é um primeiro passo para um negócio que achamos que é maior”, analisa Zecchin.

Leque maior ainda não é viável no Brasil

Apesar de uma das grandes vantagens do token ser a ampliação do número de produtos financeiros, dado que os criptoativos podem monetizar quase qualquer coisa, há ainda uma dificuldade em enquadrar alguns destes produtos nas normas. Com a regulação atual, novos mercados ainda patinam no Brasil.

Um dos produtos recentes foram os tokens que permitem o investimento em influenciadores, YouTubers e demais produtos vinculados à indústria do entretenimento – vinculando o preço dos ativos ao engajamento, publicidade e demais métricas dos mesmos.

A DIVI hub, startup concebida no Vale do Silício, idealizou o produto pensando justamente na liquidez e na praticidade dos criptoativos, e ainda mirando no mercado dos investidores mais jovens.

“É um assunto que todo mundo gosta, porque os ativos como CDIs, CRIs, LCIs, afins, não são tão familiares às pessoas. Quando trazemos ativos da economia criativa, fica mais próximo do público. No fim das contas, levantamos um valuation do canal do YouTube, ‘tokenizamos’ esse ativo e fizemos uma espécie de mini IPO, e uma pessoa fã daquele canal pode adquirir um DIVI”, explica o empresário Ricardo Wendel, fundador da startup.

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Contudo, ainda nesta semana, a CVM emitiu nota citando que suspendeu as ofertas vinculadas à plataforma pelo prazo de 30 dias.

“Segundo a área técnica da autarquia, o ofertante não é considerado pela Instrução CVM 588 como sociedade empresária de pequeno porte, pois as SCP não são registradas em registro público. A exigência de registro nas juntas comerciais tem a finalidade de excluir tipos societários de natureza contratual, notadamente a sociedade em conta de participação (“SCP”) diz o parecer da autarquia.
“Esse tipo societário oferece riscos demasiadamente altos para os investidores como, por exemplo, uma separação patrimonial clara entre o patrimônio da sociedade e dos sócios e a falta de formalização da sociedade, o que aumenta muito a chance de fraudes”, diz o documento.

Token: um futuro possível nos investimentos?

A grande discussão sobre a possibilidade de adesão ampla do mecanismo é praticamente a mesma do Bitcoin: com as normas que ainda estão por vir e as regulações governamentais, será possível que esses ativos sobrevivam?

O prognóstico dos especialistas sobre o tema é de que os mecanismos se adaptem e se integrem ao cotidiano.

Ou seja, devem seguir o conceito de “antifragilidade”, do matemático Nicholas Nassim Taleb, que é usualmente defendido pelos envolvidos com os ativos.

A adesão dos tokens por instituições mais tradicionais poderá seguir a lógica das aquisições de fintechs por parte dos bancos.

Atualmente, por exemplo, a estratégia principal dos grandes bancos americanos é comprar o maior número de fintechs possível ante uma competitividade que só aumenta desde o nascimento dos bancos digitais.

“Acho que todos os produtos tradicionais do mercado podem ser replicados no mercado de criptos. Nesse mês começamos um fundo de fundos para fundos de cripto na 7cc invest. Ele dá acesso à exposição dos grandes fundos de criptos. Não temos moedas, mas cotas de fundos. É um exemplo de produto institucionalizado, mas re-empactoado”, explica Nascimento.

“Acho que dentro do mundo tradicional, você terá uma conversão dos produtos institucionalizados re-empactoados para o mercado cripto, já que você fala de uma geração jovem que quer investir e não necessariamente quer investir em coisas tradicionais como ação da Petrobras (PETR4)“, acrescenta.

O mercado, assim, ainda conta com a volatilidade costumeira dos ativos similares. Segundo as cotações recentes, o token da Haven Protocol (XHV), mesmo após um ataque hacker, disparou 200% ao fim da primeira semana de julho, enquanto o Solrise Finance (SLRS) valorizou mais de 1.900% no fim de junho – salto astronômico e restrito a poucos ativos no mercado de capitais.

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Eduardo Vargas

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