Selic deve encerrar ciclo de cortes em 9,5%, projetam analistas após dados de inflação

A Selic deve ser reduzida em 0,5 ponto percentual, para 10,25%, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em maio, como o mercado prevê e o próprio Banco Central vem sinalizando. Os analistas da Genial Investimentos acreditam que a taxa básica de juros encerre o ciclo de cortes no segundo semestre em 9,5%. As projeções são baseadas em uma análise dos dados econômicos domésticos e das perspectivas globais após a divulgação dos mais recentes dados de inflação dos Estados Unidos.

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Para os estrategistas da Genial, assim como os do Itaú (ITUB4), o ambiente externo mais adverso, com a valorização do dólar e pressão nas taxas das treasuries, introduz um elemento de impacto nas projeções da Selic. Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, também acredita que o ambiente externo mais desafiador pode levar o Copom a adotar ao que chama de “postura mais cautelosa” em relação à política monetária brasileira.

No Brasil, aponta a Genial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou resultados que surpreenderam o mercado de forma positiva. Em março, a inflação medida foi de 0,16%, ficando abaixo das projeções que apontavam para 0,24%. Esse cenário foi influenciado pela desaceleração dos núcleos da inflação, trazendo o que tanto o Itaú quanto a Genial chamam de alívio para investidores e analistas.

“Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada voltou a desacelerar, para 3,93%, inferior a 4,00% pela primeira vez desde julho de 2023 e abaixo dos 4,50% observados na leitura anterior”, aponta em relatório a Guide Investimentos.

No entanto, especialistas ressaltam a importância de monitorar a consistência desse processo de desinflação nos próximos meses, especialmente diante do cenário de incertezas econômicas globais.

Nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) superou as expectativas, atingindo 0,40% em março, acima das projeções do mercado que apontavam 0,30%. Esses dados, combinados com uma composição preocupante do CPI, especialmente com os serviços mostrando sinais de aceleração, reduzem as chances de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) no curto prazo.

“A previsão de cortes de juros nos EUA – que na sexta-feira, de acordo com dados do CME Group, era de 53% para junho – mudou para um possível início a partir de setembro”, diz Inácio Alves, analista da Melver.

Essa perspectiva impacta não apenas os mercados americanos, mas também tem repercussões significativas em economias emergentes, como a brasileira.

Após sexto corte consecutivo, Selic caiu para 10,75% ao ano

O Banco Central do Brasil (BC) anunciou no dia 20 de março outro corte na taxa básica de juros do país, conhecida como Selic. Foi o sexto corte consecutivo, totalizando uma redução de 0,50 ponto percentual (p.p.), o que levou a Selic a atingir a marca de 10,75% ao ano.

Esse novo patamar representa o menor nível da Selic desde fevereiro de 2022, marcando uma trajetória de redução que teve início em agosto do ano passado. Essa série de cortes na Selic vem acompanhando uma melhora gradual do quadro inflacionário no Brasil, com o Banco Central adotando medidas para estimular a atividade econômica e o consumo.

Na teoria econômica, a redução dos juros básicos tem o potencial de tornar o crédito mais acessível e barato tanto para empresas quanto para famílias. Isso tende a estimular o consumo, os investimentos e, consequentemente, promover o crescimento da atividade econômica. No entanto, apesar das expectativas positivas, os números da economia podem não melhorar tão rapidamente ao longo do ano.

O processo de manter os juros básicos em patamares elevados é chamado de política monetária contracionista. Os cortes sucessivos promovidos pelo BC desde o ano passado são vistos como uma flexibilização dessa política, visando estimular a economia em meio aos desafios enfrentados, como a recuperação pós-pandemia e a inflação em alta.

A trajetória da Selic continua sendo acompanhada de perto pelos analistas e investidores, pois as decisões do Banco Central têm impacto direto em diversos setores da economia, desde o mercado financeiro até o consumo e os investimentos em empresas. A expectativa é de que os próximos passos do BC sejam guiados pela evolução dos indicadores econômicos e pela busca pelo equilíbrio entre o estímulo ao crescimento e o controle da inflação.

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Dólar e juros futuros disparam após alta da inflação nos EUA

Nesta quarta-feira (10), os ativos locais enfrentaram um dia de desempenho negativo, influenciados principalmente pelo cenário de estresse observado no mercado de juros dos Estados Unidos. O índice de preços ao consumidor (CPI) americano, que ficou acima das estimativas de consenso, surpreendeu os agentes e gerou preocupações quanto a possíveis cortes de juros na metade do ano, resultando em uma onda de aversão a ativos de risco ao redor do mundo.

A alta da inflação nos Estados Unidos fez o mercado financeiro global ter um dia de nervosismo. O dólar, que passou os últimos dois dias perto dos R$ 5, encostou em R$ 5,08 e fechou no maior nível em seis meses. A bolsa caiu quase 1,5% após duas altas consecutivas.

O dólar comercial encerrou esta quarta-feira (10) vendido a R$ 5,077, com alta de R$ 0,07 (+1,41%). A cotação iniciou estável e passou a disparar após a divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos. Na máxima do dia, por volta das 14h45, a moeda chegou a ser vendida a R$ 5,08.

A cotação está no maior nível desde 13 de outubro do ano passado. A divisa acumula alta de 1,24% em abril. Em 2024, o dólar sobe 4,62%.

Os juros futuros também refletiram esse ambiente de aversão ao risco, registrando uma alta pronunciada.

Mercado nervoso com inflação e Selic pressionada

Os juros futuros fecharam o dia acompanhando a piora no mercado de Treasuries, com a taxa da T-Note de 10 anos se firmando acima de 4,50%, em movimento justificado pelo índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês) nos Estados Unidos. A ata da reunião do Federal Reserve, realizada há três semanas, ressaltou as preocupações com a inflação e manteve a pressão sobre os ativos. Internamente, o IPCA de março perto do piso das estimativas não foi capaz de se impor como vetor de redução para os prêmios.

No fechamento, as taxas longas subiam 20 pontos-base. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025, que ontem teve ajuste a 9,937%, estava em 10,020%. O DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 10,17%, de 9,98% ontem, e a do DI para janeiro de 2027 subia de 10,30% para 10,51%. A do DI para janeiro de 2029 superava 11%, a 11,05%, de 10,85% ontem.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, o índice DXY ultrapassou a linha dos 105,000 pontos e atingiu o maior nível desde novembro.

As bolsas de Nova York fecharam em baixa nesta quarta-feira, 10, pressionadas pela divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) americano de março. A inflação acima do esperado por analistas reforçou a visão de que o Federal Reserve (Fed) deverá manter os juros mais elevados por mais tempo, algo que contou ainda com indicações com a publicação da ata da última reunião de política monetária da autoridade.

O índice Dow Jones encerrou a sessão em baixa de 1,09%, aos 38.461,51 pontos; o S&P 500 caiu 0,95%, aos 5.160,64 pontos. O Nasdaq desvalorizou 0,84%, aos 16.170,36 pontos.

Somado ao payroll mais forte que o esperado divulgado na sexta-feira (5), o CPI praticamente mata as esperanças de um corte de juros em junho pelo Fed, afirmou a Capital Economics. Já a ata da última reunião do Fed reconhece que há riscos para um crescimento econômico mais baixo nos EUA, mas mantém o foco na ainda persistente inflação, afirma a Pantheon em nota a clientes, ao destacar também que a instituição pode demorar muito para cortar juros. “O risco de o Fed esperar muito tempo e agir lentamente está aumentando”, afirma, ao destacar que a instituição ainda se move nas sombras da “inflação transitória”.

O cenário doméstico teve a boa notícia da inflação no Brasil, mas seguiu, como se observou, a tensão da aversão ao risco lá fora. A alta moderada de preços no país não significa, claro, um cenário isento de tensão.

No IPCA, “um destaque negativo foi a inflação de serviços, que voltou a subir”, diz Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital. “Isso pode pressionar a inflação, tecla que tem sido batida pelo próprio BC, e pode impactar o ritmo de cortes da Selic ao longo do ano”, acrescenta, referindo-se à possibilidade de alterar as perspectivas do mercado, de um corte menor, no sentido de 0,25 ponto porcentual em junho, e não de 0,50 – para maio, já há consenso de -0,50 ponto, desenhado no próprio comunicado do Copom de março.

Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil

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Murilo Melo

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