Petrobras (PETR4) cai 12% nos EUA com dividendos e troca de presidente

As ADRs da Petrobras (PETR4) caem 12% nas negociações premarket – que precedem a abertura do pregão – na Bolsa de Nova York (NYSE). A oscilação sofre influência do pagamento de dividendos da companhia, já que a distribuição de proventos ocasiona um ‘desconto’ nos papéis. Além disso, a mudança se dá logo após o governo anunciar a troca do presidente da estatal, na noite de segunda (23).

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Isso porque os dividendos da Petrobras que foram anunciados no início do mês estipulam que, para as ADRs da Petrobras, negociadas na Bolsa de Nova York, a data de corte é neste dia 24 de maio. Os pagamentos serão nos dias 27 de junho e 27 de julho. Nas ações listadas no Brasil, os proventos são de R$ 3,715490, pagos em 20 de junho e 20 de julho.

Durante o pregão da véspera, algumas horas antes da troca do comando da estatal, as ações preferenciais da Petrobras, PETR4, saltaram 11,2% no intradia, para R$ 36,20, ao passo que as ordinárias, PETR3, subiram 10,31% para R$ 39,06. As oscilações, contudo, ocorrem também por conta da influência das datas de corte dos dividendos.

Com a decisão recente do Planalto, José Mauro Coelho foi dispensado do cargo de presidente da Petrobras, após permanecer apenas 40 dias no posto.

O executivo será substituído por Caio Mário Paes de Andrade, segundo nota do Ministério de Minas e Energia (MME). Paes de Andrade atua como Secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes.

Contudo, vale lembrar que apesar de a decisão já ter sido tomada pelo Governo, a indicação ainda precisa ser aprovada pelo conselho de administração da Petrobras.

Caso isso ocorra, Paes de Andrade será o quarto presidente da petrolífera durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Antes de Coelho, que assumiu o cargo em abril, passaram pela cadeira da estatal Roberto Castello Branco e o general Joaquim Silva e Luna.

A decisão de Bolsonaro se dá em meio a novas críticas do presidente no que tange às mudanças e reajustes da estatal.

Apesar de negar a possibilidade de interferir na política de preços, o mandatário já havia criticado presidentes e executivos por conta de decisões do gênero, como quando pediu para que Silva e Luna “aguardasse mais um dia” antes do reajuste de preço na gasolina, o que não foi feito.

Mesmo que a gestão atual tenha ficado no cargo somente 40 dias até então, as críticas se mantiveram.

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“A Bolívia cortou 30% do nosso gás para entregar para a Argentina. Como agiu a Petrobras nessa questão também? O gás, se tiver que comprar de outro local, é 5 vezes mais caro. Quem vai pagar a conta? E quem vai ser o responsável? É um negócio que parece orquestrado para exatamente favorecer vocês sabem quem”, disse Bolsonaro, em Brasília, a apoiadores, sem citar nomes.

No acumulado de maio até então, a estatal vem recebendo cerca de 30% a menos da quantidade de gás natural contratada com a YPFB. A importação média da estatal brasileira estava em torno de 20 milhões de metros cúbicos de gás, segundo fontes da empresa ouvidas pelo Poder360.

Outro ponto que movimentou o noticiário foi o reajuste recente no diesel, que também aumentou a tensão com os caminhoneiros. Ainda na primeira semana de maio a estatal aumentou preço do diesel nas refinarias, passando de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro.

À época, a Petrobras justificou o aumento no preço do diesel ressaltando que o último reajuste ocorreu há cerca de dois meses, em 11 de março, quando “refletia apenas parte da elevação observada nos preços de mercado“.

Com o cenário, o presidente editou Medida Provisória (MP) que permite a revisão da tabela do frete sempre que houver oscilação superior a 5% no preço do diesel em relação ao preço de referência. O gatilho do diesel anterior para o aumento dos valores do frete para os caminhoneiros era de 10%.

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XP vê oportunidade de compra de PETR4 com ‘barulho político’

Segundo a XP Investimentos, embora a notícia seja negativa por conta da “rotatividade de executivos”, a corretora não vê risco de mudanças drásticas na Petrobras nem risco à política de preços.

Os analistas da casa citam que a Lei das Estatais e o estatuto da Petrobras ‘blindam’ essas possibilidades, além de evitar um possível subsídio aos combustíveis como foi feito no passado.

Além disso, o relatório, assinado pelo Head de Óleo, Gás e Materiais Básicos, Andre Vidal, e pela analista de política Junia Gama, cita que Paes de Andrade é “fortemente ligado a Paulo Guedes”, e que o ministro não é a favor de mudanças na política de preços de combustíveis da Petrobras.

A recomendação da XP é de compra para as ações da estatal, com preço-alvo de R$ 47,80 para as ações brasileiras (PETR3 e PETR4) e US$ 18,40 para as ADRs listadas em Nova York

“Mesmo com tanto barulho político, ainda vemos o caso da Petrobras como assimétrico, respaldado por um múltiplo muito baixo (2,4x EV/EBITDA 2022 ante 3,4x das grandes petrolíferas ocidentais) e um forte fluxo de dividendos (yield de 24 % para 2022 e ~100% para os próximos 5 anos)”, diz a XP.

Veja outras demissões

Silva e Luna saiu após um desgaste da sua relação com o governo em meio ao forte aumento dos combustíveis em março, após quase 2 meses sem ajuste.

Na época, o barril do petróleo disparou com a invasão da Ucrânia pela Rússia, chegando perto de US$ 140 e pressionando os preços internacionais. O general deixou o cargo criticando Bolsonaro em entrevistas nos principais jornais e revistas.

O governo ainda passou pelo desgaste de ver o nome de Adriano Pires ser descartado após dificuldades de conciliação entre sua atividade empresarial e o cargo.

Após indicação de que seu nome não receberia recomendação do compliance da Petrobras para substituir Silva e Luna, Pires desistiu da indicação, dando sequência ao imbróglio da estatal.

Troca na Petrobras dá sequência à ‘dança das cadeiras’ do setor energético

Além das trocas na Petrobras, precedidas por críticas, o presidente também mudou o comando de pastas do setor energético recentemente. No dia 11, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, foi exonerado da pasta, trocado Adolfo Sachsida, que estava na chefia da Assessoria Especial do Ministério da Economia.

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A exoneração, dessa forma, se deu um dia após o reajuste do diesel. Além disso, alguns dias antes, em transmissão ao vivo nas redes sociais,  Bolsonaro criticou a política de preços da Petrobras e pediu que os mesmos ficassem congelados.

Na ocasião, o presidente chegou a citar nominalmente Bento Albuquerque, além de José Mauro Coelho, presidente da Petrobras, ao afirmar que os servidores “não podem” aumentar o preço dos combustíveis.

“Vocês não podem, ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro, da Petrobras, não podem aumentar o preço do diesel. Não estou apelando, estou fazendo uma constatação levando-se em conta o lucro abusivo que vocês têm. Vocês não podem quebrar o Brasil. É um apelo agora: Petrobras, não quebre o Brasil, não aumente o preço do petróleo. Eu não posso intervir. Vocês têm lucro, têm gordura e têm o papel social da Petrobras definido na Constituição”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro também criticou o lucro registrado pela Petrobras no primeiro trimestre deste ano.

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Eduardo Vargas

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