Lula volta a sinalizar que pode discutir autonomia do BC 'se economia não melhorar'

Após aliados terem se mobilizado para dizer que a autonomia do Banco Central não está sendo discutida pelo governo, apesar das críticas ao nível da taxa de juros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a sinalizar nesta quinta-feira, 16, que pode discutir o assunto, caso as ações da autoridade monetária não contribuam para melhorar a economia.

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“Isso nunca foi, para mim, uma questão de princípio. O que eu quero saber é o resultado. Um Banco Central autônomo vai ser melhor? Vai melhorar a economia? Ótimo. Mas se não melhorar, nós temos que mudar”, declarou Lula, em entrevista à CNN Brasil.

“Eu não me preocupo com a autonomia do Banco Central. Vamos ver qual é a utilidade que a independência do Banco Central teve para este País. Se trouxe para o País uma coisa extraordinariamente positiva, não tem problema nenhum”, emendou o presidente, ao dizer que o BC tem compromisso com a sociedade e com o Congresso.

Nos últimos dias, a autonomia do BC, aprovada pelo Legislativo em 2021, foi defendida pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O senador Vanderlan Cardoso (PSD-MG), que será o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, jantou na noite de ontem com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e também reiterou o apoio à autoridade monetária.

Meta de inflação não pode ser razão pela qual BC aumenta taxa de juros, diz Lula

Lula também afirmou que a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), não pode ser a razão pela qual o Banco Central aumenta a taxa básica de juros do País, a Selic. O petista também disse que o País não tem, no momento, inflação de demanda.

“Aumentar o juro é importante quando você tem uma inflação de demanda. Quando você tem a sociedade consumindo demais, aumenta o juro para diminuir o consumo. Mas não é o caso do Brasil. Não tem inflação de demanda neste País”, declarou o presidente, em entrevista à CNN Brasil.

“Que ele Roberto Campos Neto, presidente do BC entenda que a meta de inflação não pode ser a razão pela qual você aumenta a taxa de juros. A taxa de juros você aumenta se tiver excesso de demanda. Se você não tiver excesso de demanda, não é o juro que vai resolver”, disse Lula, ao comentar a relação com o chefe da autoridade monetária, sem citá-lo pelo nome.

O presidente afirmou que o CMN, composto por Campos Neto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, discute a meta de inflação, mas “não pode achar que do jeito está a coisa está boa”, em referência à economia do País.

Na reunião desta quinta, o CMN não discutiu a meta da inflação.

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Sobre Campos Neto: se não posso influir para reduzir juros, o que vou conversar?, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionou o que conversaria com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em um eventual encontro se não poderia influir para reduzir a taxa de juros ou falar sobre emprego, mas ponderou que não tem problema em dialogar com quem quer que seja.

“A única coisa que eu quero é que ele cumpra aquilo que está na lei que aprovou a independência do Banco Central. Ele tem que cuidar da inflação, ele tem que cuidar do crescimento, tem que cuidar do emprego”, disse Lula, em entrevista à CNN Brasil.

O petista, contudo, apesar de se referir a Campos Neto em diversos momentos, não citou diretamente o nome do chefe da autoridade monetária. Como mostrou o Broadcast Político ontem, aliados fizeram chegar a Lula que é momento de deixar as críticas a Campos Neto com os parlamentares da base e “despersonificar” o ataque aos juros altos.

“Eu acho que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad tem toda a disposição de conversar com o presidente do Banco Central, já conversou várias vezes e vai continuar conversando. Se for necessário o presidente da República conversar com o presidente do Banco Central, sobre alguma coisa que é do interesse do Brasil, eu também não tenho nenhum problema de conversar”, afirmou o petista.

“Mas se eu não posso conversar com ele sobre a taxa de juros, se eu não posso influir para reduzir a taxa de juros, se eu não posso conversar com ele sobre emprego, então o que eu vou conversar?”, emendou Lula.

O presidente também disse que a “cabeça política” de Campos Neto é diferente da dele e da cabeça dos eleitores que o elegeram, já que o atual presidente do BC foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, com aval do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

“Não cabe ao presidente da República ficar brigando com o presidente do Banco Central. Eu até teria direito, porque ele não é presidente do Banco Central indicado por mim. Ele foi indicado pelo Bolsonaro, ele foi indicado pelo Guedes. Então, significa que a cabeça política dele é muito diferente da minha e da cabeça daqueles que votaram em mim. Mas ele está lá, tem o mandato”, declarou Lula.

“Mercado está ‘muito conservador’ e precisa ter sensibilidade social, diz presidente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ainda que o mercado financeiro está “muito conservador” e “frágil”. Ao afirmar que nenhum outro chefe do Executivo “cuidou mais” da questão fiscal do que ele, o petista defendeu que os investidores precisam ter sensibilidade social e “mais seriedade”.

“Eu tenho consciência, no meu aprendizado, de que a gente não pode gastar mais do que ganha”, declarou Lula, em entrevista à CNN Brasil. “É isso que nós vamos tratar com muita responsabilidade, porque eu não quero enfiar o Brasil em dívida impagável”, emendou, ao ser questionado sobre a incerteza no mercado com relação à regra fiscal que vai substituir o teto de gastos.

O presidente defendeu que quanto mais pessoas forem de classe média, melhor será o País. Além disso, afirmou que os banqueiros deveriam ter “bom senso” e garantir primeiro o dinheiro de quem está passando fome. “Esse mercado é muito frágil, precisa ter um pouco mais de seriedade”, criticou Lula.

Com Estadão Conteúdo

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Redação Suno Notícias

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