Getnet (GETT11) dispara 30% e dobra de preço após cisão; entenda o negócio

As ações da Getnet (GETT11), mais uma vez, ignoram o viés negativo da Bolsa brasileira e disparam. Na véspera, em sua estreia, os papéis chegaram a subir mais de 200%, marcando a conclusão da bem sucedida cisão da operação junto ao Santander (SANB11).

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Por volta das 12h desta terça-feira (19), as units da Getnet estavam em um novo leilão na B3, após atingirem uma alta de 28%, a R$ 9,88, mais que dobrando de preço sobre os R$ 4,72 da estreia. As ações ordinárias (ON), por vez, decolam mais de 80%, acompanhadas pelas preferenciais (PN), com alta de 67%.

O objetivo do bancão espanhol com a operação é transformar a Getnet em uma empresa totalmente autônoma.

Nos planos, estão a criação de uma marca global de adquirência sob o nome Getnet como parte da PagoNxt, fintech de pagamentos internacional com foco em tecnologia, subsidiária integral do Santander.

Com isso, o Santander distribuiu uma ação da Getnet para cada quatro papéis de sua emissão em posse dos investidores, com base na última sexta-feira (15). O volume financeiro por si só, não se alterou.

Em análise, o BB Investimentos disse que, mesmo com a empresa listada em Bolsa, a perda é mínima para o Santander.

“O banco deve continuar sendo o principal parceiro, se beneficiando das sinergias construídas com a adquirente ao longo dos anos”, comenta o banco de investimento. “Desde o anúncio da cisão, em março deste ano, o Santander Brasil já divulga os balanços trimestrais excluindo os números da Getnet.”

Quem é a Getnet

A história da Getnet começou em 2003, como uma startup no Rio Grande do Sul.

A especialidade em tecnologia levou a uma diversificação de operação, como recarga de celular, bilhetagem de transporte público nos anos seguintes, até ser autorizada pelo Banco Central (BC) a se tornar uma correspondente bancária em 2006.

A marca de 100 mil estabelecimentos em 2007 foi seguida da aposta do Santander, em 2009, na aposta em uma joint venture para a utilização da bandeira Mastercard.

A atividade de maquininhas, mesmo, começou em 2010. Quatro anos depois, o Santander assinou o acordo de aquisição de 100% das operações da Getnet, por R$ 1,1 bilhão. Outra tranche, em 2018, totalizou a compra em R$ 2,5 bilhões.

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Em 2016, ela se tornou a primeira instituição de pagamentos certificada pelo BC. Hoje, são 16% de participação no mercado de adquirência, com 876 mil clientes ativos e volume total de pagamentos (TPV) de R$ 274 bilhões, no ano passado.

Desde 2013, o market share da empresa cresceu 13% pontos percentuais. No pipeline para os próximos anos estão, entre outros objetivos:

  • Aumentar sua penetração dentro da base de clientes do banco;
  • Otimizar a originação de crédito por meio da licença de crédito direto obtida;
  • Fomentar o crescimento no e-commerce através de tecnologia.

A menina dos olhos da empresa, inclusive, talvez seja justamente o comércio eletrônico. A penetração no Brasil é de apenas 3%, frente a 8% dos Estados Unidos, 15% do Reino Unido e 16% da China.

O Santander quer aproveitar a onda de crescimento do Getnet para destravar valor. De acordo com o Safra, isso pode acontecer e seria na ordem de 5,5%, ou R$ 3 por ação. O banco manterá 90% do capital.

Concorrência pesada e mercado difícil

O setor de maquininhas vem sendo um verdadeiro mar de oportunidades, mas que também afunda quem não está preparado para enfrentar a concorrência pesada.

Há cerca de uma década, Cielo (CIEL3) e Rede eram as donas do mercado.

A primeira, sem conseguir acompanhar a evolução tecnológica do setor e, consequentemente, não mantendo o mesmo nível de rentabilidade, viu suas ações despecarem 92% desde a máxima histórica, em 2015.

Histórico das ações da Cielo

Ainda antes disso, a Rede fechou seu capital com a oferta pública de aquisição (OPA, na sigla em inglês) realizada pelo Itaú (ITUB4).

Em 2012, a operação movimentou mais de R$ 10 bilhões e fez com que a empresa se despedisse da Bolsa com uma rentabilidade acumulada de 45,74% em cinco anos. O desempenho de pouco mais de 9% ao ano fica próximo da média histórica do Ibovespa.

De lá para cá, novas empresas ganharam notoriedade. As duas notáveis são PagSeguro e Stone, ambas listadas nos Estados Unidos — onde o valuation é mais convidativo.

A PagSeguro, negociada na Nyse, atualmente possui um valor de mercado de US$ 12,44 bilhões (R$ 69,16 bilhões). Esse montante já foi consideravelmente mais alto, dado que nos últimos 12 meses as ações caíram mais de 30%.

Já a Stone, listada na Nasdaq, tem um market cap de US$ 11,53 bilhões (R$ 64,06 bilhões). A empresa tenta diversificar suas operações, inclusive com uma parceria com o Banco Inter (BIDI4), mas também passa por problemas.

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Hoje, as incertezas dizem respeito a uma perda em empréstimos de R$ 400 milhões com uma operação de crédito recém-lançada.

Via de regra, em função da competição agressiva, trata-se de um setor com margens exprimidas, o que acaba prejudicando o retorno sobre o capital investido.

A Getnet chegou à B3 com o múltiplo preço/lucro (P/L) em torno de 14,5 vezes o estimado para o ano que vem. Está mais cara que a Cielo (7,8 vezes), mas ainda bem abaixo de PagSeguro (29 vezes) e Stone (43 vezes).

Disrupção é o lema da Getnet

Na cerimônia de estreia, realizada no prédio da B3, o CEO da Getnet, Pedro Coutinho, disse que a companhia tem em seu DNA o propósito de trazer soluções disruptivas do mercado de pagamentos.

“Estamos prontos para atingir novos patamares no Brasil, na América Latina e no mundo. Somos motivados por desafios.”

Em relatório apresentado na última semana, a Genial Investimentos disse que o timing da operação é o melhor possível.

“A operação vem em um contexto de oportunidade para a companhia, dado que atingiu um market share equivalente ao do banco através da utilização do canal do Santander”, dizem os analistas, salientando as avenidas de crescimento da empresa de maquininhas.

As ações da Getnet negociarão na Nasdaq a partir da próxima sexta-feira (22). Cada American Depositary Shares (ADRs) equivalerá duas units.

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Jader Lazarini

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