Fed aumenta taxa de juros em 0,50 ponto percentual e não descarta novas altas em 2023

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos, o Fed), aumentou em 0,50 ponto percentual a sua taxa de juros, para a faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano, conforme comunicado divulgado após reunião de política monetária nesta quarta-feira (14). A decisão foi unânime e está em linha com as expectativas do mercado financeiro.

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As últimas quatro altas de juros consecutivas foram de 0,75 ponto percentual e integravam um movimento agressivo do banco para conseguir combater a inflação americana, que chegou ao nível mais elevado dos últimos 40 anos no início de 2022.

O Fed ainda elevou taxa de juros paga sobre saldo de reserva para 4,4%, decisão que entra em vigor a partir da quinta-feira, 15, e a taxa de desconto em 50 pontos-base, para 4,50% ao ano.

Após o comunicado e o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, o Dow Jone passou a subir 0,17%, o S&P 500 ganha 0,27% e o Nasdaq avança 0,30%. O Ibovespa aumentou ganhos: +0,81%, a 104.376,94 pontos.

No comunicado do Fed os dirigentes disseram, no entanto, que esperam aumentos adicionais nas taxas para tentar reduzir ainda mais a inflação.

A inflação permanece elevada, refletindo os desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de alimentos e energia e pressões de preços mais amplas.

O banco central também afirmou que segue “altamente atento aos riscos de inflação”. Essa decisão do Fed chega um dia depois de o governo norte-americano revelar que a inflação ficou em 7,1% em novembro, em comparação com o resultado do ano passado, o que mostra um declínio deste indicador.

O comitê avalia que a inflação nos Estados Unidos permanece elevada, com desequilíbrios de oferta e demanda ainda relacionados à pandemia, registrando alta de alimentos, energia e pressões de preços mais amplas. Em comunicado de política monetária divulgado nesta quarta-feira, 14, o Fed antecipa que aumentos nas taxas de juros são necessários para “atingir uma política monetária suficientemente restritiva”.

Porém, a taxa segue em um nível acima do triplo da meta do Fed, que é de 2%.

Presidente do Fed vê juros perto de nível suficientemente restritivo

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou que os juros nos Estados Unidos estão próximos de um “nível suficientemente restritivo”. Apesar disso, ele enfatizou que os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) querem ter mais evidências de que a inflação no país está realmente em um caminho sustentado de baixa para pensar em cortes nas taxas.

“Continuamos a antecipar que os aumentos serão adequados para estabelecer uma postura de política monetária suficientemente restritiva para retornar a inflação para 2%”, disse o presidente do Fed, em coletiva de imprensa, no período da tarde desta quarta.

O Fomc anunciou nesta data um novo aumento na taxa dos Fed Funds, de 50 pontos-base, levando as taxas para um intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. Apesar da desaceleração, Powell disse que o patamar de aumento de 50 pontos-base ainda é “historicamente grande” e que o Fed ainda tem um “caminho a percorrer” na luta contra a inflação.

Segundo ele, os juros nos EUA terão de ser mantidos em um nível restritivo por um tempo uma vez que a experiência histórica advoga contra o afrouxamento prematuro da política monetária. “Acho que diria desta forma, não nos veria considerando cortes de juros até que o comitê esteja confiante de que a inflação está caindo para 2% de forma sustentada”, reforçou Powell.

O presidente do BC dos EUA disse ainda que a desaceleração em índices de inflação nos meses de outubro e novembro são bem-vindos. Mas reiterou que faltam mais evidências de que os preços caem de forma sustentada no país, o que deve ocorrer no próximo ano.

“Estamos chegando perto desse nível que consideramos suficientemente restritivo. Nós estabelecemos hoje quais são nossas melhores estimativas para chegar lá e realmente se resume a quanto tempo achamos que esse processo levará. E, claro, damos as boas-vindas a esses melhores relatórios de inflação dos últimos dois meses”, concluiu Powell.

Juros em níveis elevados

O presidente do Federal Reserve afirmou que a manutenção dos juros em patamares elevados nos Estados Unidos estreitam o caminho para um pouso suave. Por outro lado, a queda da inflação contribui para que a maior economia do mundo ainda consiga evitar um período recessivo.

Para Powell, ninguém sabe se os EUA vão entrar em recessão ou não. “Acho que isso juros altos estreita o caminho, mas leituras de inflação mais baixas, se persistirem no tempo, certamente poderiam tornar isso mais possível. Portanto, acho que ninguém sabe se teremos uma recessão ou não”, disse, em coletiva de imprensa.

De acordo com Powell, a queda da inflação vai contribuir para que a retomada da estabilidade de preços nos EUA, o que contribui para um menor aumento do desemprego. “Esperamos quedas significativas na inflação geral e no núcleo da inflação no próximo ano. E este é o tipo de leitura necessária para sustentar isso”, disse.

Questionado sobre efeitos da China, que enfrenta problemas por conta da sua política de “covid zero”, Powell afirmou que é possível que a inflação no Ocidente seja afetada pelo país asiático. Ponderou, contudo, que não vê “efeitos materiais” para a economia norte-americana.

Mediana das projeções

Em meio a um ciclo de altas nos juros, os dirigentes do Fed passaram a prever a taxa dos Fed funds mais alta nos próximos anos. Para 2023, a mediana subiu de 4,6% da reunião de setembro para 5,1% no encontro de dezembro.

Para 2024, o avanço foi de 3,9% a 4,1% no período. Em 2025, que apareceu pela primeira vez na última projeção, em setembro, a previsão subiu de 2,9% a 3,1%.

No longo prazo, o consenso dos dirigentes aponta para Fed funds a 2,5%, o mesmo que em junho e setembro.

Expectativa dos dirigentes

Dentre os 19 dirigentes do Fed presentes na reunião do Fomc do Fed, 17 projetam que o juro básico nos EUA será de 5% ou mais até o fim de 2023. Os dois restantes preveem o juro na faixa entre 4,75% e 5%, segundo consta no gráfico de pontos atualizado da entidade monetária, publicado hoje junto à sua decisão de juros.

Entre os que projetam juro de 5% ou mais, dez acreditam que a taxa dos Fed Funds estará entre 5% e 5,25%, cinco preveem entre 5,25% e 5,50% e dois acreditam que estará entre 5,5% e 5,75%.

Para 2024, a projeção se encontra dividida, mas concentrada principalmente na faixa entre 3,75% e 4,0% (três dirigentes), entre 4,0% e 4,25% (sete dirigentes) e entre 4,75% e 5% (três dirigentes). Apenas dois acreditam que a faixa ficará acima de 5,0%.

Já para 2025, nove veem juro de 3,0% a 4,0%, enquanto sete esperam algo abaixo de 3,0%, e três projetam juro acima de 4,0%.

No longo prazo, 17 esperam juro entre 2,0 e 3,0%, com apenas um prevendo juro de 3,25%.

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Fed aumenta juros: veja as análises

Para Carlos Vaz, CEO e fundador da Conti Capital, o mercado não deve reagir abruptamente com esse aumento dos juros porque já esperava uma decisão nesta linha.

“Apesar desse afrouxamento, a resiliência do mercado de trabalho americano pode levar o Federal Reserve a manter o ciclo de aperto monetário acima do previsto, pelo menos até meados de 2023, podendo seguir até 2024″, destacou Vaz ao afirmar que os EUA podem viver um período de desaceleração econômica, mas com um menor indicativo de risco de recessão.

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Fabio Fares, especialista em análise macro da Quantzed, argumentou que uma das reações a este aumento dos juros é a elevação do dólar, o que faz com que a moeda volte a ficar interessante.

Beto Saadia, economista e sócio da BRA BS, observa: “O Fed prevê uma taxa de 5,1% no final do próximo ano, maior do que o esperado pelo mercado. A bolsa cai, mas as mudanças no mercado não são tão grandes quanto se imaginava porque os futuros de juros ainda precificam cortes até o fim do próximo ano, com uma taxa máxima em torno de 4,8%. Em setembro, nenhum dos 19 membros do Fed esperava que as taxas atingissem 5% no próximo ano. Agora são 17.”

Ele analisa: “Há chances de que a inflação possa cair sem um aumento substancial na taxa de desemprego (na verdade, temos visto isso recentemente). Mas se o Fed continuar sinalizando que isso não é possível, então a desaceleração da inflação (sem aumento do desemprego) não é um motivo para prevermos que a taxa de juros vai parar de subir ou cair tão cedo.”

Aumento das projeções das taxas

Rafael Marques, CEO da Philos Invest, comenta: “As projeções desse anúncio pioraram em comparação ao anterior, reforçando o trabalho duro que precisa ser feito, e que ainda não mostra resultado, principalmente na área de serviços.”

Marques acrescenta: “O aumento das projeções serve principalmente para acompanhar a piora das expectativas para a inflação. O núcleo do deflator do gasto de consumo pessoal, o PCE, que é um índice que exclui alimentos, passou de 4.50 para 4.805. Como a meta de inflação é 2%, por todas essas projeções, fica difícil esperar que ele consiga, que tenha uma diminuição dos juros ao longo de 2023. O FED vai continuar reduzindo seu balanço.”

Tasso Lago, fundador da Financial Move, acredita que com a estabilização dos juros pelo Fed, a expectativa é que os próximos anos sejam levemente mais positivos para os mercados e que novas ondas de alta, recuperação e topos históricos possam vir apenas em 2025 e 2026. “Os próximos anos serão para evitar uma possível recessão de mercado, uma possível recessão econômica, que seria pior”, comentou.

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Erick Matheus Nery

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