Bancos dos EUA disparam em lucros e trazem boas perspectivas para o Brasil

Como tradicionalmente acontece, os bancos deram o pontapé inicial na temporada de balanços corporativos nos Estados Unidos. O segundo trimestre das instituições, mais uma vez, foi de expectativas majoritariamente superadas, mas ainda existem ressalvas.

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A safra de balanços sempre ficou no radar dos investidores não só norte-americanos, mas também internacionais. O desempenho dos setor nos Estados Unidos serve como um balizador do andamento da economia, o que se torna ainda mais importante em tempos de recuperação econômica no pós-pandemia.

Os números trazem referências importantes sobre o que esperar para os bancos no Brasil, sobretudo no volume de disponibilização de crédito na economia.

Isso, porém, sempre carrega um delay. dado o nível econômico entre os países e, obviamente, as diferentes reaberturas econômicas com a vacinação.

Por lá, o histórico recente é positivo, antecedendo uma forte recuperação.

O KBW Nasdaq Bank, índice dos maiores bancos estadunidenses, sobe 27% no ano, enquanto o S&P 500 avança cerca de 17%. O índice bancário bateu sua máxima histórica no mês passado.

Explosão de lucro bancário

A enxurrada de resultados foi iniciada na última terça-feira (13) por JP Morgan e Goldman Sachs. O primeiro, maior banco do País, registrou um salto de 155% no lucro líquido, que passou de US$ 4,7 bilhões para US$ 11,9 bilhões em 12 meses.

A receita líquida caiu 7,2% na mesma base comparativa, para US$ 31,4 bilhões, mas ainda acima das projeções dos investidores.

Especialistas pontuam, contudo, que as bases de comparação são fracas, uma vez que o segundo trimestre de 2020 foi amplamente impactado pela pandemia.

O Goldman não foi diferente e viu seu lucro disparar. No segundo trimestre do ano passado, os ganhos do banco de investimento foram de US$ 373 milhões. Neste ano, o resultado foi de US$ 5,49 bilhões, uma melhora de 1.371,84%.

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O lucro por ação (LPA) real superou em quase 50% as projeções compiladas pela FactSet. A receita total da instituição também não decepcionou e somou US$ 15,39 bilhões.

“O segundo trimestre dos bancos foi muito positivo, com balanços bem fortes”, comenta Priscila de Araújo, gestora de renda variável na Macro Capital.

“Existia uma grande preocupação com as perdas geradas pela segunda onda da pandemia. Mas os números mostraram que as instituições estão muito saudáveis, crescendo e com lucros acompanhando.”

Mercado de capitais mostra sua força

Em um outro espectro do setor bancário, a BlackRock, maior gestora de ativos do planeta, teve um lucro de US$ 1,38 bilhão no segundo trimestre.

Os ativos sob gestão cresceram 30% na comparação anual e as captações líquidas alcançaram US$ 81 bilhões. No fim de junho, a gestora se aproximava da marca de US$ 10 trilhões de ativos sob gestão, mostrando a força do mercado de capitais na atualidade.

Boa parte da melhora dos bancos, entretanto, é reflexo da liberação de bilhões de dólares que haviam sido reservados em Provisões para Devedores Duvidosos (PDD).

Segundo especialistas ouvidos pelo Suno Notícias, enquanto a qualidade da carteira de crédito aumenta, a tendência é de que esses recursos sejam liberados — algo que também já está acontecendo e continuará assim no Brasil.

Menores preocupações aliviam bancos

A reabertura econômica, ao menos nos Estados Unidos, com a vacinação avançada (cerca de 48% da população imunizada), está a todo vapor. As vendas no varejo divulgadas nesta semana mostram que a atividade está no patamar mais aquecido desde o início da pandemia.

Era esperada uma contração em junho, assim como foi em maio, mas o resultado foi de alta. Em alguns segmentos do varejo, o nível está acima do período pré-crise.

Dados da economia norte-americana mostram que a poupança e investimentos estão aumentando, novos empregos gerando renda e, consequentemente, fomentando o consumo.

O mercado tem observado com bons olhos a reversão de provisões neste momento. Por mais que a tendência seja de alta da inadimplência — principalmente pela base fraca do ano passado –, a carteira de crédito das maiores instituições parece estar controlada e de melhor qualidade.

“O medo de emprestar e não receber de volta diminuiu bastante. No segundo trimestre, o Bank of America liberou mais de US$ 1,6 bilhão. O Citigroup já soltou mais de US$ 2 bilhões de PPDs nos últimos meses”, comenta Gustavo Cruz, estrategista de investimentos da RB Capital.

Ponto positivo para os investidores: desde 30 de junho, os bancos norte-americanos podem retomar a distribuição de dividendos e recompra de ações.

Na pandemia, diz ele, todos ficaram receosos pois não havia como saber quando a economia voltaria ao normal. Em determinado momento não havia perspectiva de melhora. Agora, por outro lado, com a vacinação em massa avançando, a tendência é de volta à normalidade.

Vantagem brasileira

Outro ponto apontado por Cruz diz respeito ao spread bancário, a diferença que fica com o banco entre o custo de captação e o empréstimo aos clientes.

Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, a pandemia pressionou os bancos centrais a cortarem as taxas de juros para as mínimas históricas. Nenhum dos dois países haviam testado girar a economia com esse patamar de estímulo monetário, que acaba impactando negativamente os bancos.

Ainda em menor grau no segundo trimestre, mas com certeza maior a partir do terceiro e quatro trimestres, o ciclo de alta da taxa básica de juros da economia (Selic) por aqui certamente fará com que os bancos brasileiros retomem o caminho da lucratividade, segundo o especialista.

“A tendência é de que o BC termine o ano com a Selic ao menos em 6,5%, procurando um patamar neutro”, diz Cruz. “Uma vantagem para os bancos brasileiros.”

Hoje, os integrantes do Federal Reserve (Fed) preveem elevar a taxa de juros somente em 2023.

Reflexo aos bancos do Brasil

Para Araújo, da Macro Capital, quando pensamos no reflexo que os números dos bancos estrangeiros podem trazer sobre os locais, é necessário ponderar que estamos atrasados em relação à recuperação econômica e à vacinação da população.

“A expectativa para o segundo trimestre é de que seja uma temporada positiva, mas não tanto quanto foi nos EUA”, diz. “Podemos observar alguma melhora no crédito e, quem sabe, na linha dos lucros, e também nas operações de tesouraria.”

A visão consensual dos especialistas é de que, de qualquer forma, os números serão recebidos positivamente, seja pela redução dos provisionamentos ou qualidade de crédito.

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Custo de crédito mais baixo nos bancos

Para Leo Monteiro, analista do setor bancário da Ativa Investimentos, “o que esperar para o segundo trimestre é basicamente o espelho do que vimos no primeiro. Números muito fortes na comparação ano contra ano, impulsionado principalmente pelo custo de crédito, mais baixo que o mesmo período do ano passado”.

Naquele período, lembra ele, os lucros e o Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) foram muito prejudicados. A tendência é de que, paulatinamente, esse processo seja invertido. A discussão sobre ameaça de fintechs fica para uma outra hora.

No que se refere à carteira de crédito dos bancos brasileiros, é esperado um crescimento de duplos dígitos baixos ante o mesmo trimestre de 2020, puxado sobretudo por pequenas e médias empresas e pessoas físicas.

A inadimplência pode subir, mas ainda deve ficar em patamares confortáveis, dada a base comparativa fraca.

Questão cambial

De acordo com Araújo, alguns bancos por aqui podem ser impactados pela questão cambial, de forte volatilidade no período. Em especial, aponta ela, o Itaú (ITUB4).

O banco tem alta exposição à América Latina, que como um todo ainda sofre com a pandemia. “O banco também deve ser impactado pelo spin-off da XP, o que pode causar alguma contração nos lucros.”

Ainda sobre o Itaú, Monteiro ressalta que o custo de crédito pode surpreender negativamente, pois essa linha ficou muito abaixo do guidance no primeiro trimestre. Isso pode ser revertido nos números do período entre abril e junho, em termos de compensação.

“De fato, os resultados dos bancos, tanto lá como por aqui, são fortes balizadores para o desempenho da economia”, cita o especialista da Ativa. “A recuperação não deve ser tão acelerada, mas as expectativas são otimistas e o mercado já precificou parcialmente esse aspecto.”

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Jader Lazarini

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