Como a alta da Selic interfere nas dívidas das empresas de capital aberto

No início de dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou o aumento da taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual, de 7,75% para 9,25% ao ano.

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Com a decisão, é esperado que alguns setores do mercado sofram com a notícia. Mas, em geral, a renda variável e principalmente a Bolsa de Valores perdem um pouco do atrativo que tinham quando a Selic estava mais baixa. Mas não0 só: a alta da Selic afeta fortemente as empresas com dívidas em estruturas pós-fixadas.

De acordo com Pedro Serra, gerente de Research da Ativa Investimentos, as companhias que possuem essas dívidas, especialmente no curto prazo, são as que mais sentem as oscilações dos juros.

“Empresas que costumam vender a prazo, com uso de capital de giro e desconto de recebíveis mais intensos, estão mais expostas a alta”, afirma Serra. “As empresas que têm dívidas pós-fixadas estão mais suscetíveis às oscilações e isso geralmente está no desconto de recebíveis”.

Para uma companhia com dívidas de longo prazo, em estruturas pré-fixadas, também estão expostas, mas com menor impacto. Entretanto, se houver necessidade de realizar uma nova dívida, terá um custo maior na hora de alongar.

E o Ibovespa?

Pedro Serra explica que há duas formas de entender como a alta da taxa Selic afeta a performance das ações das empresas no Ibovespa. A primeira, com as empresas mais endividadas, que precisam renovar ou alongar suas dívidas, como mencionado. A segunda é a necessidade de diminuir o valor das ações.

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“Quando os juros começam a subir, os investidores passam a exigir um potencial de ganho maior dos ativos na bolsa para poder investir. Ou seja, o seu custo de capital para entrar na bolsa de valores aumenta. Isso reduz o valor dos ativos e aumenta o prêmio de risco“, afirma o gestor.

Por outro lado, o Ibovespa já vem passando por esse reajuste de valores desde o início do ciclo da alta, pois o mercado já antecipou a curva de juros. “A não ser que o Banco Central surpreenda ainda mais”, lembra Serra.

Impactos setoriais

Outro ponto de atenção com a alta da taxa básica de juros são os impactos setoriais no mercado. Não é novidade que as empresas de varejo tendam a sofrer mais, porque a a taxa de financiamento fica mais alta e, portanto, passa a pesar mais no bolso do consumidor. O setor imobiliário é afetado pela mesma razão.

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O Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, já acumula queda de 73,42% no ano até 17 de dezembro. As ações da Lojas Americanas (LAME4) estão em situação parecida, com -76,73% acumulado no ano.

No lado de quem se beneficia, o setor bancário é o primeiro citado por Pedro Serra. Os bancos também fazem aplicações nas curvas de juros. Consequentemente, isso gera lucro para as empresas. As seguradoras também estão inclinadas a se beneficiar. “Boa parte do lucro de uma seguradora vem do resultado financeiro. Quando se tem uma taxa de juros mais alta, o resultado tende a melhorar. Desde que o posicionamento que a seguradora fez no mercado de renda fixa esteja acertado”, disse.

Próximo ciclo de altas da Selic

Após manter o “plano de voo” e elevar a Selic, o Copom sinalizou um novo aumento de mesma magnitude na próxima reunião, em fevereiro, para 10,75% ao ano. Ainda assim, o colegiado deixou a porta aberta para uma ação ainda mais forte na taxa básica de juros e prometeu perseverar até que as projeções de inflação voltem a estar ancoradas nas metas para os próximos anos.

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Victória Anhesini

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