Opinião: coronavírus provocará nova crise econômica, veja os 10 sinais

Quais serão as consequências da crise devido ao impacto do coronavírus (covid-19) no mundo? Agora aparece com clareza que haverá fortes repercussões negativas para a economia de todos os países e para a globalização em geral.

A produção e o comércio, assim como os demais setores da economia, sofreram quarentenas ou até lockdowns nos últimos meses, e não vão se recuperar tão rapidamente. Especialmente em um contexto onde mais da metade da população está ainda forçada ao isolamento social por causa do coronavírus.

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Os analistas estão avaliando a possibilidade que a pandemia leve para um cenário pior até da recessão iniciada nos EUA em 2007-2008, após a crise dos supbrime, desencadeada pelo estouro da bolha imobiliária que acabou aquele equilíbrio frágil.

Com toda a probabilidade, a emergência atual levará a uma crise que apresentará uma fraca recuperação em forma de U. Ou seja, uma recuperação gradual de todas as atividades que foram obrigadas a fechar as portas por causa da quarentena.

Mas há sinais que indicam como uma tempestade ainda mais forte e mais devastadora chegará nos próximos anos.

Após a crise financeira no final da primeira década dos anos 2000, uma série de erros foram cometidos pelos governos de muitos países, que aumentaram as desigualdades e os riscos da economia global, e que agora poderiam gerar uma nova e mais profunda crise.

O déficit público

O primeiro sinal diz respeito ao déficit público em vários países, e aos riscos associados a uma dívida pública instável e muito alta. Como resposta à crise provocada pelo coronavírus, de fato, muitos governos gastarão muito mais nos próximos meses, contribuindo para um aumento dos déficits fiscais.

Para o Brasil, por exemplo, a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) é de um colapso de 10%, com um déficit primário que deveria chegar em 11% sobre o PIB (lembrando que quando o PIB cai, o déficit aumenta pois é calculado em proporção ao valor da riqueza produzida no país ao longo do ano).

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Um cenário que se torna inda mais arriscado pelo fato que muitos países – como o Brasil – já tinham uma dívida pública alta.

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Além disso, muitas famílias e empresas sofrerão com uma drástica redução de sua capacidade de gastos, e isso resultará em possíveis falências e fechamento de negócios. Um cenário que sugere que a recuperação da emergência do coronavírus será muito mais lenta do que a que vimos após a crise financeira de 2007-2008.

Países muito “ídosos”

Um segundo fator poderia estar ligado à composição demográfica dos países. A maioria dos custos que os cofres públicos enfrentam agora são ligados ao setor da saúde. Entretanto, considerando que muitos dos países mais desenvolvidos têm sociedades cada vez mais velhas, que, portanto, precisam de mais cuidados de saúde e políticas de segurança social mais “pesadas” – no futuro, as despesas continuarão a aumentar, tornando-se cada vez mais insustentáveis, diante da falta de renovação das gerações.

No Brasil também a demografia está começando a ser adversa, com o País que já saiu de seu “bônus demográfico”. E a crise desencadeada pelo coronavírus quase certamente não levará a um novo baby-boom.

Deflação e estagflação

Um terceiro problema a ser observado é a deflação. De fato, a crise poderia causar, além de um período de grave recessão, uma fraqueza na demanda por bens e serviços não essenciais, devido a um menor gasto de consumidores e empresas.

As pessoas normalmente durante uma recessão tendem a adiar despesas que não são consideradas indispensáveis, enquanto esperam que os preços diminuam. Dessa forma, as empresas são forçadas a baixar preços na tentativa de tornar os produtos e serviços mais atraentes.

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As empresas, no entanto, registram menores receitas e, portanto, buscam uma maneira de cortar custos, como mão-de-obra ou compra de matérias-primas.

Essa queda generalizada nos preços pode então levar à deflação da dívida, ou seja, uma redução na renda nominal, o que leva a um aumento no ônus da dívida real, uma vez que o nível nominal da dívida e das taxas de juros permanece inalterado.

O Brasil já começou a enfrentar essa situação, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que em abril registrou a maior deflação desde o Plano Real, de 0,31%.

Mas além da deflação, há também o risco de desvalorização da moeda. O risco é chegar a longo prazo – e por causa de políticas monetárias não convencionais de longo alcance – à estagflação, ou seja, um cenário em que há aumento de preços (inflação) e falta de crescimento econômico em termos reais (estagnação). Um cenário de estagflação.

A “ruptura digital” da economia

Um quinto fator diz respeito a um aumento potencial na ruptura digital da economia. A perda de trabalho e a diminuição da capacidade de gastos de milhões de pessoas levarão a um aumento das desigualdades sociais e econômicas.

As empresas transferirão suas produções de países com mão-de-obra barata para seus países de origem. Mas isso não resultará em uma vantagem para os trabalhadores. Pelo contrário: aumentará a automação do trabalho, com consequente queda nos salários.

O que aumentará será o consenso das massas para formas de populismo, nacionalismo e xenofobia, atualmente bem representadas por muitos partidos na Europa.

O fim da globalização

O sexto indício que pode indicar uma depressão ainda mais grave nos próximos anos é a possível desglobalização. A pandemia de coronavírus já está mostrando os efeitos no mundo globalizado: as fronteiras foram fechadas, o tráfego extra-nacional quase foi eliminado e há uma tentativa dos países de se tornarem auto-suficientes.

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Os Estados Unidos e a China estarão entre os primeiros a ficar sem o antigo mercado globalizado, e cada vez mais países adotarão políticas protecionistas para proteger empresas e trabalhadores.

Com toda a probabilidade, as restrições à circulação de mercadorias, capital, trabalhadores, turistas, dados e informações continuarão, mesmo após o fim da pandemia, aumentando a tendência do fim da globalização.

Populismos e nacionalismos

Não é segredo que condições econômicas precárias provocam um aumento na popularidade de partidos populistas e movimentos nacionalistas. Quanto mais forte a insegurança econômica, maiores as desigualdades, mais os líderes desses partidos tentarão usar o estrangeiro como bode expiatório da crise, provocando uma onda de ressentimento também nas classes médias, que serão cada vez mais afetadas pela crise.

Um cenário que poderia levar à aprovação de políticas cada vez mais rígidas em matéria de migração e comércio internacional, reduzindo ainda mais a globalização. A recente decisão do governo de esquerda da Argentina de abandonar as negociações comerciais do Mercosul é um sinal claro nessa direção.

Tensão política no mundo

A crise atual está gerando um contraste ainda mais forte entre as duas maiores superpotências atuais, Estados Unidos e China. Já nas últimas semanas, o presidente Donald Trump não perdeu a oportunidade de reiterar que a culpa da pandemia global é da China. Nos últimos dias, ele também começou a apoiar a tese de que o coronavírus escapou de um laboratório da cidade de Wuhan.

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Por outro lado, o presidente chinês Xi Jinping poderia usar essa narrativa em própria vantagem, argumentando que os Estados Unidos não querem fazer nada além de encontrar uma desculpa para encurralar a China, para aumentar sua riqueza, prestígio internacional e seu próprio peso na economia mundial.

Um cenário que poderia desencadear uma segunda Guerra Fria entre os Estados Unidos e China, mas também contra Rússia, Irã ou Coréia do Norte, que são rivais de Washington.

As culpas dos homens

Tudo o que aconteceu nos últimos meses com a pandemia de coronavírus, combinado com o que ocorreu nas últimas décadas, desde a epidemia de Sars e Mers, ou epidemia de Ebola em 2014, mas também no caso da pandemia de gripe H1N1 em 2009, deve nos fazer refletir sobre o fato de que são problemas sempre relacionados a uma série de erros ou comportamentos errados dos seres humanos.

Por exemplo, deficiências nos padrões de higiene, a exploração e o empobrecimento excessivos de algumas áreas do mundo (como as condições de trabalho em muitas áreas da China) e alguns excessos da globalização. Tudo isso deveria deixar os homens mais conscientes do fato de que, no futuro, o risco de pandemias será cada vez maior e os danos à economia global também mais impactantes.

Como superar a crise econômica do coronavírus?

Esses dez indícios já eram presente no cenário mundial antes da pandemia de coronavírus. Mas agora o risco é que alimentem uma tempestade perfeita que poderia causar uma forte depressão na economia.

No início da próxima década a tecnologia (combinada com uma liderança política competente) poderia resolver, ou pelo menos mitigar, alguns desses problemas, ajudando a remover o risco de uma recessão tão profunda.

Entretanto, tudo dependerá das habilidades dos países e da vontade de entender quais serão as melhores escolhas para evitar um cenário tão negativo como aquele que enfrentaremos após o fim da pandemia de coronavírus.

Carlo Cauti

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