Mulheres investidoras: a partir dos 60 anos, é urgente pensar mais em si

A partir dos 60 anos de idade, as mulheres se deparam com a perspectiva de aposentadoria e redução da jornada de trabalho. Nesta faixa etária, o grande desafio é conquistar uma segurança financeira que permita viver bem o final da vida, sem depender financeiramente de outras pessoas. Para isso, a recomendação principal dos especialistas é que as mulheres investidoras com mais de 60 anos se coloquem em primeiro plano, apertem o cinto das despesas e foquem na rentabilidade dos seus investimentos.

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Nesta fase da vida, o ideal é que o tempo destinado ao trabalho retorne para a mulher. No entanto, muitas pessoas experimentam uma sensação de insegurança sobre o futuro. “Para muitas vem a liberdade de desbravar novas atividades, mas vem a insegurança do ‘amanhã’”, apontou a sócia fundadora do escritório Oslo Wealth, Glaucia Vidal.

No caso das mulheres com mais de 60 anos, o desafio pode ser ainda maior, pois elas, no geral, não tiveram oportunidade de receber educação financeira no início da vida. Além disso, elas enfrentaram diversos paradigmas históricos, que as impediam de conquistarem sua independência, e a função de administrar seu dinheiro ficava, muitas das vezes, na mão da figura masculina.

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“Um dos desafios é trazer a mentalidade de que ela precisa pensar nela mesma. A mulher tem um histórico familiar em prover o bem-estar da família, mas agora ela precisa pensar em sua qualidade de vida”, disse a gerente de produto de renda variável da Easynvest, Iris Sayuri Kazimoto.

Além de um histórico social não favorável às mulheres, elas podem se encontrar com dificuldades em alocar seus recursos em investimentos que as tragam rentabilidade e segurança, por falta de conhecimento.

Porém, é necessário que ela entenda que nunca é tarde para começar e que ela é 100% capaz de investir. “A tecnologia avançou, tem diversos vídeos, então ela vai conseguir cuidar do seu dinheiro se ela quiser”, completou Kazimoto.

A seguir, confira a quarta reportagem da série da SUNO Notícias, que traz orientações de investimentos para mulheres de diferentes idades.

Apertar o cinto das despesas e decolar para viver bem

Para viver bem e aproveitar sua aposentadoria, o ideal é entender como são suas despesas, se há alguma otimização que pode ser feita em termos de orçamento e estimar o quanto será necessário para cobrir seus gastos mensais.

Andressa Siqueira, CEA. Especialista em Investimentos da Magnetis.
Andressa Siqueira, CEA. Especialista em Investimentos da Magnetis.

A especialista em investimentos da Magnetis, Andressa Siqueira, colocou na ponta da caneta uma ideia de como esses cálculos devem ser feitos.

Supondo que a renda necessária mensal, seja de R$ 5 mil e a taxa de rentabilidade real mensal dos investimentos (já considerando a inflação) seja de 0,4%, a conta é: renda mensal que a mulher quer ter /taxa mensal de juros dos investimentos = valor que precisa acumular. Portanto, R$ 5mil / (0,4/100) = R $1,25 milhão.

“Será necessário um investimento de R$ 1,25 milhão para sacar R$ 5 mil todo mês sem afetar o seu capital, e dessa forma ficaria segura na medida do possível. Agora, se não houver problemas em consumir o patrimônio, essa mulher poderia ter menos recursos acumulados mas precisaria de um planejamento mais específico”, explicou Siqueira.

Venda de imóvel é uma possibilidade para mulheres investidoras

Outra possibilidade, estudo do Credit Suisse, é a mulher considerar a venda de sua casa, conhecido como downsizing, para usar os recursos como complemento a suas economias de aposentadoria.

No entanto, as especialistas dividem opiniões quanto a necessidade de a mulher investidora vender seu imóvel para complementar a sua renda.

Para Vidal, o downsizing não pode ser generalizado e é necessário primeiro compreender a individualidade de cada mulher.

GLAUCIA VIDAL SOCIA FUNDADORA DO ESCRITÓRIO OSLO WEALTH MANAGEMENT
Glaucia Vidal, Sócia Fundadora do Escritório OSLO WEALTH MANAGEMENT

“Esta afirmação de ‘downsizing’ é específica, pois o brasileiro culturalmente busca a casa própria e também vive de renda de aluguel. Eu particularmente não considero que vender o imóvel para comprar outro mais barato seja uma verdade, pois os imóveis apresentarão ao longo de muitos anos uma valorização”.

Já na análise de Siqueira, talvez seja uma opção pois a mulher se encontra em uma fase na qual exige “bastante liquidez”.

“Essa fase exige bastante liquidez, ou seja, se os investimentos estão ‘imobilizados’ e a mulher precisa de recursos para se manter até o fim da vida, pode valer a pena vender o imóvel que mora e comprar um mais barato, ou por exemplo, vender o imóvel que gerava renda de aluguéis e manter os recursos investidos com liquidez”.

‘Dona do meu próprio nariz’

A parte de apertar o cinto já não é o caso de Marília Veiga, dona da empresa de design de interiores. Ela está desfrutando a parte de viver bem. “Meu objetivo é trabalhar, mas óbvio em um ritmo em que eu possa delegar mais. Eu amo viajar, tenho uma vida que eu adoro, sou dona do meu nariz e minha independência financeira me permitiu conquistar isso”.

Mas para quem pensa que essa conquista foi fácil, Veiga explica que iniciou sua jornada no mercado de trabalho muito cedo, com 13 anos de idade. Desde seu primeiro salário, ela dividia a renda em três partes. Uma era destinada a gastar, outra para economizar e a outra ela aplicava.

“Eu comecei a trabalhar aos 13 anos, sempre tive um rendimento. Óbvio que esse rendimento foi crescendo, hoje eu tenho uma empresa de design de interiores que emprega dez pessoas, e eu sempre investi porque eu acho que a vida profissional nunca é uma coisa estável”.

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Na sua adolescência, Veiga trabalhava em uma loja. Casou-se com 19 anos e logo após, por volta dos 21 anos, teve seu primeiro filho. Foi no nascimento do primeiro que ela decidiu abrir a própria empresa.

Mas a trajetória de escolha da sua carreira não foi fácil. Na época, seu pai achava que design não era profissão e queria que ela fosse professora.

“Eu venho de uma geração que as mulheres casavam e dependiam do marido, lembro-me do meu pai quando disse que queria fazer design e ele me dizia para ser professora. Se eu tivesse que dar um conselho para qualquer mulher, de qualquer geração, é que ela trabalhe e busque a sua independência financeira.

Os investimentos da empresária se iniciaram com imóveis. Ela comprava na planta e quando ficava pronto vendia ou alugava. Atualmente, Veiga tem salas comerciais e imóveis alugados que são fonte de renda, mas também investe em fundos imobiliários e tem uma casa da praia para curtir seus finais de semana.

Tudo isso é resultado de uma vida inteira regrada financeiramente. “Eu nunca gastei mais do que ganho, e nunca gastei o valor total do meu salário. Agora que estou mais madura eu tenho recursos e vou poder ficar mais tranquila com meu futuro.”

“Eu sou uma pessoa que gosto de viver bem. Todas as coisas que eu gosto de fazer tem um custo e, se eu não tiver dinheiro juntado ou uma garantia, não vou conseguir usufruir disso. Eu sempre tive uma reserva de emergência porque a gente nunca sabe o dia de amanhã”.

Mulheres investidoras devem buscar rentabilidade e segurança

Muitas mulheres investidoras, diferente de Veiga, não destinaram seus recursos durante a vida para investimentos, mas hoje também anseiam por viver bem. Para isso, os especialistas recomendam investimentos geradores de renda que possuem segurança.

Na análise de Siqueira, o ideal é que pelo menos 50% dos recursos investidos tenham bastante liquidez, como renda fixa. “A outra metade pode ser divida, por exemplo, 40% em títulos de renda fixa pós fixados com um prazo de 2 anos, e os outros 10% em ativos como multimercados e/ou fundos de ações”.

A porta-voz da Magnetis ressalta a importância de um especialista para traçar uma boa estratégia pensando nas necessidades de cada mulher.

Gláucia Vidal acrescenta ainda que “os imóveis, sim, são outro ativo de renda, mas essa decisão deve ser muito estudada porque depende do local, tamanho, para não comprar um imóvel com o objetivo de ter renda e qualquer eventualidade de vacância ou falta de pagamento se transformar num problema”.

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Além disso, outros novos gastos como saúde, medicação e bem-estar vão surgindo ao longo da vida. Por esse motivo é necessário que os investimentos estejam em ativos de fácil acesso, para caso surja alguma emergência.

“Quanto mais você vai avançando em idade mais importante é que sua carteira tenha investimentos seguros. E se você coloca em um investimento muito arriscado pode ser que ele não esteja ali quando você precisar. Se você tem um portfólio muito arriscado comece a migrar esses ativos para investimentos mais seguros, pensando na liquidez”, disse Kazimoto.

Patrimônio: Planejamento Sucessório

De acordo com o estudo do Credit Suisse, nesta fase do ciclo da vida, as mulheres investidoras estão pensando em proteger e, eventualmente, passar sua riqueza para a próxima geração. Todas as especialistas apontaram como uma boa opção para o processo sucessório: a previdência privada.

“A previdência privada é um ótimo instrumento para quem pensa em um planejamento sucessório”, disse Kazimo.

“Os filhos e outros beneficiários podem ser cadastrados no plano de previdência privada, minimizando custos nesse processo e o tempo que os filhos levariam para ter acesso ao montante, pois não vai para o inventário“, destacou Siqueira.

Vidal acrescenta que outro produto possível é o “seguro de vida, que no planejamento também deve ser considerado”.

Marília Veiga, na faixa etária dos 60 anos, hoje é divorciada e tem dois filhos e dois netos, como a sua vida financeira é regrada, ela já se preocupou com o futuro de seus familiares.

“O meu patrimônio já está bem desenhado, que vai deixar meus filhos e netos tranquilos. Mas eu vou aproveitar minha vida, eu não vou deixar de fazer nada para deixar para eles, mas é óbvio que eles vão usufruir do meu esforço”, diz Marília, sugerindo que as mulheres investidoras podem e devem pensar em si mesmas.

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Poliana Santos

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