Saiba qual é a tendência do Ibovespa para 2023, segundo especialistas

As incertezas políticas fizeram o Ibovespa iniciar 2023 com perdas, fechando a primeira semana com baixa acumulada de 0,70%. Na segunda-feira (9), o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou com ganho de 0,15%, mesmo após os ataques de radicais em prédios dos três poderes em Brasília. E, nesta terça, o índice voltou a avançar – 1,15%, aos 111.193 pontos. O que esperar para o índice da B3 em 2023?

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240_TEXTO_CTA_A_V10.jpg

Para o analista e professor de finanças, André Massaro, a expectativa do Ibovespa 2023 é de um mercado mais lateral. O que isso significa? 

“Não estamos vendo sinalizações para que a Bolsa tenha uma grande queda, porque as ações do Ibovespa estão baratas. Ou seja, a Bolsa brasileira já está bastante depreciada, mas também não vemos os elementos que levem a grandes altas”, diz o especialista.

Na avaliação do economista e sócio da BRA BS, Alexsandro Nishimura, há uma percepção, mostrada pelos múltiplos, de que o Ibovespa em 2023 está barato, sendo negociado com P/L 20% – abaixo da média dos últimos cinco anos.

Na visão de Massaro, as sinalizações dadas pelo atual governo, até o momento, indicam um comportamento de Bolsa parecido com o que aconteceu no período em que Dilma Rousseff (PT) estava no poder, entre 2011 e 2016, quando o Ibovespa “andou de lado”.

Massaro explicou que não se trata de uma incerteza política, mas sim de uma dúvida quanto ao comportamento das ações, decisões sobre a economia do governo Lula e também em relação à taxa de juros, com a Selic a 13.75%. 

“Com a taxa de juros de dois dígitos, fica muito difícil da Bolsa competir com essa taxa. Então, o dinheiro acaba sendo mais canalizado para o mercado de renda fixa mesmo”, pontuou Massaro.

Analistas de mercado observam que em geral as métricas P/L das ações na Bolsa estão ainda de 15% a 20% abaixo do que se viam no pior momento do governo Dilma Rousseff, em referência a outro período em que predominava incerteza e cautela sobre ativos de risco.

“O mercado não gosta de ficar no escuro. O que gera mais desconfiança é a parte fiscal, mas não se tem como cobrar muito de um governo que começou não faz nem duas semanas. É preciso esperar a gestão fiscal para depois fazer uma avaliação. Há muita dificuldade de comunicação. Pode ser que venhamos a nos surpreender ainda com a execução, que pode ser boa, visto o desempenho do ministro da Fazendo Fernando Haddad, na parte fiscal, na Prefeitura de São Paulo”, diz Gustavo Neves, especialista em renda variável da Blue3.

Ibovespa 2023: BofA aposta na queda da Selic e índice aos 135 mil pontos

As perspectivas para o Brasil em 2023 ainda são incertas, mas o Bank of America (BOAC34), o BofA, fez suas projeções em dezembro último. A instituição financeira prevê um corte de juros ainda no primeiro semestre, com a Selic podendo fechar dezembro a uma taxa de 10,5%. O Ibovespa 2023 pode terminar o ano no patamar de 135 mil pontos — ante os 111 mil pontos atuais.

A projeção do BofA sobre o Brasil em 2023 considerou como base a aprovação da PEC da Transição, prevendo um aumento de R$ 145 bilhões dos gastos do novo governo no próximo ano. “A proposta também estabelece o mês de agosto como data para a apresentação da próxima âncora fiscal no Congresso pelo próximo governo”, relembram os analistas. 

O BofA está com recomendação de posição aplicada, apostando na queda das taxas de juros. Isso porque os prêmios na curva de juros estão muito altos. Apesar disso, a casa destaca que há riscos nos investimentos nos juros prefixados, em função da incerteza no cenário fiscal do Brasil em 2023.

Assim, a perspectiva para o Brasil no próximo ano, segundo a análise do BofA, é de um corte de 3,25 pontos percentuais na taxa nominal da Selic. Assim, a instituição prevê que o percentual vá para a casa dos 10,5% — uma projeção otimista, afirmam os analistas.

Mais: o BofA aumentou estimativa sobre a alocação em commodities devido ao cenário mais otimista com a possível reabertura econômica da China. A instituição prevê um crescimento de 5,5% do país asiático no próximo ano diante da flexibilização das medidas de restrição da Covid-19.

Entre as perspectivas para a bolsa brasileira em 2023, o BofA também vê oportunidade no setor de consumo, principalmente voltado para alta renda e em grandes bancos.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2021/05/6cd60e56-banner-home-3.jpg

Perspectivas para o Ibovespa 2023: Bolsa pode ganhar tração

De olho na Selic, Nishimura destacou que quando as taxas de juros futuras apontarem para baixo, será o momento de assumir maior exposição aos ativos de renda variável, o que deve fazer com que o Ibovespa ganhe tração, com investidores mudando de posições mais defensivas para ações com maior potencial de crescimento.

“Estes fatores em si já seriam suficientes para atrair os investidores do Ibovespa, mas as incertezas sobre a trajetória fiscal a partir deste ano impõem cautela. Os riscos de recessão lá fora, onde os bancos centrais das principais economias ainda estão em meio ao ciclo de alta de juros, também podem trazer volatilidade ao mercado brasileiro”, avaliou.

Dito isso, a projeção feita por Massaro é de que 2023 será um ano grandes movimentações. “A nossa aposta seria a Bolsa oscilando no intervalo de preços na faixa de 100 a 120 mil pontos”, destacou.

Apresentando-se um pouco mais otimista, Nishimura acredita que o principal índice da Bolsa feche 2023 em 130 mil pontos:

“Em termos de projeção, o mercado trabalha com o Ibovespa em 130 mil pontos até o final de 2023, o que daria um potencial de valorização de pouco mais de 20%. Mas a trajetória deve ser marcada pela volatilidade característica de momentos de incerteza”, projetou Nishimura.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/04/1420x240-Planilha-vida-financeira-true.png

Desempenho do Ibovespa em 2022

Distribuindo uma menor rentabilidade, comparado à renda fixa, o Ibovespa em 2022 apresentou resultados menos atraentes aos investidores em razão de muitas inversões de cenários, entre eles o aumento da inflação, tanto no Brasil como na economia americana. 

No primeiro trimestre do ano, o mercado reagiu bem à guerra entre Rússia e Ucrânia com a expectativa de que o Brasil se beneficiaria da situação. No entanto, em função da paralisação das atividades na China, as ações de commodities impulsionam uma queda do Ibovespa, com destaque para Vale (VALE3), registrando uma baixa de 1,70%. 

Já no segundo trimestre, o mercado foi impactado negativamente pelo cenário eleitoral, à medida em que eram divulgadas as pesquisas eleitorais e que apontavam Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderando os índices. Outras movimentações, como a aprovação da PEC Kamikaze, que estourou o teto de gastos em R$ 41,25 bilhões, proposta pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) aumentar o Auxilio Brasil de R$ 400 para R$ 600 até o final de 2022, além de outros programas sociais, ajudaram com que o índice da B3 se mantivesse instável. 

Após Lula ser eleito o novo presidente da República, em outubro, o Ibovespa amanheceu em alta, mas, enquanto as incertezas sobre a equipe econômica do novo presidente surgiam, o mercado foi ficando mais pessimista. O último pregão de 2022 – quinta-feira (29) – acabou fechando em queda de 0,46% aos 109.734.60 pontos.

Ao longo de 2022, a bolsa de valores brasileira apresentou grande volatilidade. Por se tratar de um ano eleitoral, as variações já eram esperadas pelo mercado.

Em abril deste ano, por exemplo, o Ibovespa chegou a superar a marca dos 120 mil pontos. Apesar disso, o principal índice da bolsa de valores brasileira também passou a estar abaixo dos 100 mil pontos em diversos pregões de junho e julho.

O Head da área de Growth da Messem Investimentos, Vinícius Teixeira, comentou que, atualmente, o mercado passa por um momento de “otimismo cauteloso”.

Segundo Vinícius, existem muitas incertezas, especialmente, na questão fiscal. Entre estas, ele cita a questão do respeito ao teto de gastos e a indefinição de nomes que ocuparão cargos importantes — como a pasta da Economia.

“Isso tudo gera uma certa incerteza, que é o que temos acompanhado no mercado, e intensifica bastante a volatilidade”, comenta Vinícius Teixeira.

O sócio da Messem Investimentos acredita que isso tende a se estender até a definição desses nomes para o futuro governo de Lula.

O que esperar do Ibovespa 2023?

Sobre o que esperar do Ibovespa em 2023, Vinícius, que possui mais de 15 anos de experiência no mercado, acredita que essa desconfiança do mercado ainda vá “assombrar” o primeiro trimestre do ano que vem.

O especialista considera que o mercado passará a ter um pouco mais de paciência, ao mesmo passo que os agentes passam a entender qual será o viés político do novo governo de Lula.

Ele declara que a bolsa de valores brasileira conta com ativos bastante descontados. Segundo Vinícius, a bolsa local é uma das que possui as ações mais baratas do mundo, principalmente depois das quedas recentes. “Ao mesmo tempo, temos visto empresas reportando lucro consideráveis.”

O Head da área de Growth da Messem Investimentos acredita que o início de 2023 deve ser “mais lento, com o mercado digerindo os acontecimentos”. Com base no histórico dos mandatos anteriores de Lula, afirma Vinícius, o petista “tende a ter esse aceno ao mercado, em algum momento”.

“Eu não acho que vai ser algo tão drástico, como alguns esperam, até porque ele [Lula] não tem Congresso para isso”, complementa o especialista sobre as perspectivas para a bolsa em 2023.

As perspectivas para os setores do Ibovespa

Vinícius acredita que os setores diretamente ligados à infraestrutura tendem a apresentar perspectivas favoráveis em 2023 no Ibovespa. A perspectiva leva em conta o histórico do novo governo.

O especialista também prevê que os setores ligados ao consumo tendem a desempenhar bem, pois o novo governo deve fazer estímulos mais contundentes relativos ao crédito, endividamento e consumo das famílias. Neste sentido, ele ainda cita o setor bancário com boa perspectiva entre os melhores setores do Ibovespa para investir em 2023.

Na outra ponta, Vinícius demonstra bastante pessimismo com as empresas estatais listadas na bolsa de valores. “A gente entra em um viés sem tanta gestão de eficiência nas estatais, e isso traz perda de margem, de eficiência”, argumenta.

Investidores devem mitigar a volatilidade do Ibovespa

A recomendação para o investidor é, nesse primeiro momento, mitigar a volatilidade. Isso se deve ao contexto atual de mercado mais cauteloso e, posteriormente, com um viés de estímulo ao consumo.

Neste sentido, a indicação é que o investidor em 2023:

“Vemos, em alguns momentos, que a volatilidade do mercado também reflete na curva de juros. Isso faz com que ativos de juros fiquem bastante interessantes, e a gente pode olhar com bons olhos esses ativos”, declara.

Fator externo também deve ser considerado

Segundo Vinícius, neste final de ano e começo do ano que vem, outros fatores agravantes — que também podem ditar a tendência do Ibovespa em 2023 — são a desaceleração das economias globais, e o conflito da Rússia com a Ucrânia, trazendo volatilidade para o mercado.

“Durante o ano que vem, algumas empresas podem ganhar tração. À medida que os conflitos se estendam entre Rússia e Ucrânia, o Brasil vai ganhando algum ‘market share’ em algumas commodities, e pode ser que tenhamos boas empresas de commodities ‘surfando’ essa alta nos preços”.

Como o investidor pode aproveitar o cenário

O Head da área de Growth da Messem Investimentos ainda afirma que, para que o investidor consiga aproveitar e tirar rendimentos desse cenário comentado, deve-se buscar oportunidade.

“Acredito que tem muito ativo barato no Ibovespa. Acredito que o mercado ainda vai ‘bater’, ainda mais, nas estatais, e isso abre espaço para evoluirmos para alguns ativos bem baratos na carteira — com estatais sendo penalizadas justamente por conta da indefinição do governo”, declara.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/1420x240-Planilha-controle-de-gastos.png

Vanessa Loiola

Compartilhe sua opinião