Vale a pena investir nas ações da Petrobras (PETR4) em 2023?

Os investidores da Petrobras (PETR4) estão mais apreensivos neste início de ano com a chegada do novo governo e os impactos nas ações da companhia. Mas há motivos para se preocupar? Analistas consultados pelo Suno Notícias dizem o que pode mudar na empresa com a nova gestão, do pagamento de dividendos aos preços das ações.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/05/1420x240-Banner-Home-2.png

Para André Vidal, head de Òleo, Gás e Materiais Básicos da XP, apesar dos riscos da mudança de comando na Petrobras, que traz incertezas, o cenário para a petroleira ainda segue positivo.

“Nossa recomendação de compra para as ações da Petrobras, com preço-alvo de R$ 35,50, se sustenta na manutenção da política de paridade de importação nos preços dos combustíveis, que tem na Lei das Estatais uma das suas principais defesas, mas não a única”, disse Vidal.

O especialista pontuou que, caso a lei seja aprovada, a flexibilização nas indicações políticas e a ampliação dos gastos com publicidade teriam consequências bastante negativas para a Petrobras no curto, médio e longo prazos.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/05/1420x240.jpg

“Apenas como referência, 1,5% de Receita Bruta anual (o adicional de limite de despesas com publicidade e patrocínio) equivale ao redor de R$ 8,5 a R$ 11 bilhões anuais, nos próximos 4 anos (a depender do preço do barril do petróleo e da taxa de câmbio). Se fôssemos calcular essa perda de margem (1,5% da Receita Bruta) de forma permanente para a Petrobras em nosso modelo, isso implicaria em uma redução no nosso preço-alvo ao redor dos ~R$ 3,50/PETR4”, disse Vidal em relatório enviado à Suno.

Na avaliação de João Lucas Tonello, CNPI, analista da Benndorf Research, apesar de uma parte relevante do risco político para a Petrobras já estar precificada, sem que haja respostas para algumas questões importantes sobre como a companhia será gerida pelo novo governo, as ações devem sofrer impactos negativos nas primeiras semanas do ano.

Em dezembro, o BTG Pactual já mantinha a recomendação “neutra” para as ações da Petrobras (PETR4), com o preço-alvo de R$ 35, 70. Os analistas sugeriam cautela com o investimento em ações da Petrobras, ao menos durante a mudança no comando da estatal.

Em relação às expectativas para o quarto trimestre de 2022, Vidal destacou que devem vir bons resultados para a Petrobras. No entanto, à medida em que avança o horizonte temporal, maiores ficam as incertezas sobre qual será o futuro da estatal.

Para o analista da Benndorf Research, apesar de também acreditar em bons resultados, lembra que a ação da Petrobras vem sofrendo maior volatilidade, comparado com o terceiro trimestre de 2022. Para que ocorra um bom desempenho operacional neste ano, Tonello avaliou ser fundamental que o novo governo mantenha a política de preços da estatal. 

Ainda na avaliação de Vidal, existem várias questões em aberto sobre como será a governança corporativa da empresa a partir de 2023.

“Nosso cenário base ainda é que os preços dos combustíveis sigam a precificação por paridade de importação (PPI) e sem grandes desembolsos de CAPEX para projetos greenfield a serem implantados nos próximos anos. Mas acreditamos que os investidores negociarão a ação no curto prazo de acordo com o fluxo de notícias relacionadas a indicações de como o próximo governo se comportará em suas políticas econômicas. No entanto, vemos muitos dos piores resultados já incorporados nos preços das ações e, portanto, mantemos nossa classificação de compra”, avaliou.

No trimestre anterior, a companhia apresentou um forte Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em geração de caixa livre – 50% yield anualizado sobre valor de mercado – e pagamento de dividendos – R$ 3,35/ação, 45% de yield anualizado sobre PETR4 – com uma sólida posição financeira – 0,7 x DL/Ebitda. Além disso, Vidal mencionou que a empresa conseguiu manter-se como uma das majors de O&G mais baratas do mundo, a 2,2 EV/Ebitida 2023. 

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/1420x240-Controle-de-Investimentos.png

O futuro da Petrobras

Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) barrar processo de privatização da Petrobras e de mais sete estatais, as ações da companhia caíram mais de 6% no pregão do primeiro dia útil do ano, segunda-feira (2). Na primeira semana de 2023, os papéis da Petrobras valorizaram 3,79%, cotados a R$ 23,82.

O novo governo quer que a petrolífera priorize novos investimentos e fique menos focada na remuneração dos acionistas.

Como uma das primeiras medidas adotadas pelo presidente veio a indicação do senador Jean Paul Prates para ocupar o cargo de presidente da Petrobras, oficializada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) na última terça-feira (3). Logo após a indicação, Caio Mário Paes de Andrade anunciou renúncia antecipada da posição, o que colocou interinamente João Henrique Rittershaussen, diretor-executivo de Desenvolvimento da Produção, no posto. Prates ainda precisa do aval do Conselho de Administração da empresa para assumir como CEO da estatal.

A decisão levanta uma especulação de que possa haver alteração na política de preços de combustíveis nos próximos meses.

Para que isso aconteça será necessário alterar dois pontos importantes da Lei das Estatais: o primeiro deles é o que determina que as estatais devem manter práticas de mercado. Já a segunda questão é a dificuldade nas nomeações dos políticos.

No mês anterior, a Câmara dos Deputados aprovou algumas mudanças na lei reduzindo de 36 meses para 30 dias a quarentena para que políticos possam ocupar cargos nessas empresas e aumentando o limite de gastos com publicidade. O Senado acabou adiando a análise do projeto após pressão da opinião pública.

Petrobras (PETR4): desafios vão além de mudança na política de preços

Ainda sem data para começar, a nova gestão da Petrobras (PETR4) terá como prioridade resolver a questão do reajuste dos preços dos combustíveis. É o que sinaliza o indicado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da empresa, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), que deve assumir a companhia nas próximas semanas.

Com experiência de mais de 30 anos no setor de óleo e gás, Prates não deve ter problemas para ser aprovado pelo conselho da companhia. Foi membro da assessoria jurídica da Petrobras internacional (Braspetro), no fim da década de 1980 e, no início da década de 1990, fundou a primeira consultoria brasileira especializada em petróleo.

Ele também foi secretário de Energia do Rio Grande do Norte em 2007 e, antes disso, foi um dos responsáveis pelo marco regulatório da abertura do mercado de petróleo, em 1997. Mais recentemente, foi relator de dois projetos para redução do preço dos combustíveis.

Contudo, essa indicação para a presidência da Petrobras foi parar na Justiça, conforme antecipado pelo Suno Notícias. O vereador de São Paulo Rubinho Nunes, do União Brasil, afirma que o senador não pode comandar a estatal porque isso fere a Lei das Estatais.

A indicação de Jean Paul Prates para a presidência da Petrobras (PETR4) pode ganhar novos capítulos. Além de ter a recomendação questionada na justiça pelo vereador de São Paulo Rubinho Nunes, o senador estaria em uma situação incompatível com a Lei das Estatais por ter participação em empresas na área de óleo e gás e petróleo — o que pode configurar conflito de interesses.

Política de preços da Petrobras

O senador nega que sua intenção seja intervir diretamente nos preços, preferindo indicar uma abordagem via política pública, como a criação de uma conta de compensação de preços.

“Não tem bala de prata”, costumava dizer Prates, muito antes da vitória do presidente Lula nas eleições presidenciais do ano passado.

Em outubro, Prates explicou ao Estadão/Broadcast que a mudança na política de preços da Petrobras está baseada em quatro pilares. O primeiro seria substituir a atual política de paridade de importação por um preço de referência, que seria aplicado por produto, por região e por área de influência.

Outra proposta é uma conta de estabilização, que seria alimentada por lucros extraordinários das empresas do setor, royalties e dividendos. Inicialmente, era previsto também arrecadação de recursos via imposto de exportação de petróleo, mas a ideia teve resistência e foi descartada.

O terceiro pilar para uma queda sustentável dos preços também passa pela criação de estoques reguladores, com uma estruturação de política nacional junto a todas as empresas do mercado de óleo e gás e de biocombustíveis.

Para completar o processo, o futuro presidente da estatal pretende ampliar a capacidade de refino da companhia com ampliações das plantas já existentes e com a conclusão de obras ou unidades novas, com foco em diesel, gás liquefeito de petróleo (GLP) e aproveitamento do gás natural, disse Prates em outubro.

Refinarias e questão ambiental na Petrobras

A proposta enterra de vez o programa de desinvestimento em refino da gestão anterior, que, em 2019, colocou à venda oito das 13 refinarias da companhia.

O programa conseguiu vender apenas uma refinaria de grande porte, na Bahia, e duas pequenas: uma no Paraná (SIX) e outra no Amazonas (Reman). A Refinaria de Mataripe, na Bahia, é dona de 14% do mercado de refino. Hoje, é controlada pela Acelen, braço de investimento do fundo de investimento árabe Mubadala.

Diferentemente dos quatro presidentes que passaram pela empresa no governo Bolsonaro, Prates defende que a Petrobras explore energias renováveis, seguindo o caminho das principais petroleiras globais, o que indica diversificar investimentos.

Hoje, a maioria dos recursos está concentrada na exploração e produção, principalmente na região do pré-sal. Na gestão anterior, a teoria era a de que a Petrobras deveria se concentrar na produção de combustíveis mais limpos, como o diesel RX, resultante do coprocessamento do diesel fóssil com óleos vegetais, cuja produção ainda é tímida.

Dividendos da Petrobras

A pretensão de Prates é bem aceita por especialistas do setor, mas contraria a atual estratégia da empresa. Para executar o novo plano, será preciso aumentar, e muito, o volume de investimentos nos próximos anos, e, por consequência, reduzir o pagamento de dividendos da Petrobras.

Em plano estratégico divulgado no fim de novembro do ano passado, a atual diretoria da Petrobras informou pretender investir US$ 78 bilhões de 2023 até 2027, sendo 83% reservados à exploração e produção de petróleo. O montante não é pequeno para o que se propõe, mas, segundo o entorno de Prates, é limitado para a transformação pretendida.

“Os proventos da Petrobras no ano passado foram altos, mas não devemos ver essa força no quarto trimestre, porque já deve ter a influência do novo presidente, e isso já está sendo precificado nas ações”, disse o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/1420x240-Planilha-controle-de-gastos.png

Vanessa Loiola

Compartilhe sua opinião