Fed anuncia elevação da taxa de juros e sinaliza mais aumentos em 2022

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed), decidiu nesta quarta (16) elevar a taxa básica de juros da economia americana. Subiu 0,25 ponto percentual: para intervalo de 0,25% a 0,50% ao ano. Foi a primeira alta das taxas do país desde 2018. O aumento era esperada pelo mercado.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240-Banner-Home-4.png

O comunicado do Fed  que explica a decisão do comitê do banco central americano diz que o motivo para a alta dos juros foi a inflação no país. O comitê ponderou que indicadores de atividade econômica e emprego continuaram a se fortalecer — mas que a escalada de preços levou os dirigentes a optar pelo início do aperto monetário. O cenário de aumento da inflação fez os integrantes da instituição projetarem mais seis aumentos em 2022, e sinalizaram com outros três no próximo ano.

O Federal Reserve avalia que a inflação nos Estados Unidos se mantém elevada, refletindo problemas de oferta e demanda relacionados com a pandemia e a alta nos preços de energia. No comunicado de sua decisão de política monetária, a autoridade avalia ainda que a questão reflete pressões de preços “mais amplas”.

Já os indicadores de atividade e emprego continuaram a se fortalecer, na visão do Fed. Os ganhos no emprego foram fortes nos últimos meses, e o desemprego caiu substancialmente, afirma a autoridade.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/04/1420x240_TEXTO_CTA_A_V10.jpg

A decisão não foi unânime. Um dos dirigentes, James Bullard, queria um aumento maior, na faixa em 50 pontos-bas,e para 0,50% a 0,75%. Os membros do Fed projetam inflação em 2022 de 2,6% para 4,3%. Para 2023, as estimativas do comitê também subiram – de 2,3% para 2,7%.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/Ebook-Acoes-Desktop-1.jpg

Segundo o Fed, a guerra na Ucrânia e as sanções impostas à Rússia por causa da invasão levam a um cenário de indefinição da economia. A invasão e os eventos relacionados provavelmente criarão uma pressão adicional para a inflação e pesarão na atividade econômica, projeta a autoridade.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/1420x240-Planilha-controle-de-gastos.png

A projeção de 4,3% da inflação é acima da esperada pelo mercado. Por esse motivo, as bolsas em Nova York, que vinham numa trajetória de alta nesta quarta, perderam fôlego, mas se recuperam: o índice Dow Jones fechou em alta de 1,55%, o S&P 500 subiu 2,24% e o Nasdaq avançou 3,77%. O Ibovespa encerrou o pregão com ganhos de1,98%, aos 111.112,43 pontos.

Fed: guerra traz implicações incertas sobre a inflação

O comitê também fez estimativas sobre mais aumentos das taxas de juros em 2022. Um dirigente estima taxas entre 1,25% e 1,50% em 2022. Outros três preveem juros entre 1,50% e 1,75%. Dois deles projetam elevações que podem chegar a 2,25%. Cinco dirigentes esperam por taxas entre 1,75% e 2,0%.

O Fed diminuiu o cálculo de crescimento do PIB dos EUA em 2022 de 4,0% para 2,8%.

“A invasão da Ucrânia pela Rússia está causando enormes dificuldades humanas e econômicas. As implicações para a economia dos EUA são altamente incertas, mas no curto prazo a invasão e os eventos relacionados provavelmente criarão uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e pesarão sobre a atividade econômica”, diz o documento do Fed.

Acrescenta o comunicado do comitê: “Com o adequado fortalecimento da política monetária, o Comitê espera que a inflação volte ao seu objetivo de 2% e o mercado de trabalho continue forte. Em apoio a essas metas, o Comitê decidiu aumentar a faixa-alvo para a taxa de fundos federais para 1/4 a 1/2 por cento e prevê que os aumentos contínuos na faixa-alvo serão apropriados.

Felipe Veloso, economista e fundador da Cripto Mestre, escola focada em investimentos e empreendedorismo utilizando BlockChain, comenta: “Nada fora do esperado. Acredito que aconteceu o melhor dos cenários. O Fed ainda está buscando alcançar o pleno emprego e a inflação na casa dos 2%, mas, não está disposto a sacrificar demais a economia no curto prazo, e, por isso, aumentou a taxa de juros em 0.25%, o que já era esperado baseado em declarações do presidente Jerome Powell na semana passada.”

Sete reuniões, sete aumentos das taxas, diz Powell

Ele complementa: “Isso é favorável para as ações americanas, principalmente as tecnológicas, que tem uma taxa de valor presente baseadas em um crescimento de muito longo prazo. Porém, isso é desfavorável ao dólar, que tente a continuar caindo em relação ao real.”

Em entrevista coletiva concedida após a divulgação do comunicado sobre a elevação da taxa de juros, Powell reforçou que a guerra na Ucrânia “colocará pressão maior da inflação nos Estados Unidos. A menor projeção para PIB em 2022 é afetada também pelo conflito no leste europeu.”

Powell reiterou que as próximas 7 reuniões do comitê do Fed neste ano terão aumentos: “Serão mais 7 altas de juros.”

Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance, observa: “A primeira reação do mercado foi negativa, influenciada pelo fato de estar se discutindo muito se o Fed está agressivo demais na expectativa de 7 aumentos que fatalmente desacelariam a economia e arriscariam colocar a economia em recessão e causar uma estagflação. A situação ainda é muito fluida. Hoje o grande vencedor na bolsa americana é o setor financeiro, pois juros mais altos são benéficos para a indústria.”

Nousi completa: “Taxas de juros nos EUA subiram 0.25%, como já era esperado. [Os dirigentes do Fed] Esperam começar a reduzir o balanço patrimonial em breve (chamado Quantitative Tightening). Os membros esperam 7 aumentos em 2022, o que elevaria a taxa paga para 1.88% no final do ano. Para 2024, a expectativa é que a taxa fique em 2.75%. De maneira geral, saiu como amplamente esperado. O Fed aponta que ainda há muitas incertezas, com a inflação mais alta por mais tempo e que a guerra contribui para isso.”

Ele lembra ainda sobre os efeitos da decisão do Fed: “Temos também a taxa de 10 anos americana atingindo 2.20%, maior nível desde 2019. Curva de juros 10-2 anos caindo atualmente em 0.23%, queda forte desde março de 2021. À medida que se aproxima de 0, aumenta-se a probabilidade de que uma recessão americana poderá ocorrer em 12 meses após ficar negativa. A curva de 10-5 anos agora está em somente 0.01%.”

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, acrescenta: “Hoje foi a materialização de que o Fed está behind após a persistência dos sucessivos choques inflacionários. Conforme amplamente esperado a autoridade formalizou que a guerra na Ucrânia traz grande incerteza para o horizonte, mas em um tom hawkish o Fed disse que no curto prazo o efeito líquido da guerra é para mais inflação e menos atividade.”

Sanchez notou também que “Bullard, o mais hawkish dos membros do Fomc, foi dissidente na votação, apontando para a necessidade de uma alta de 50bps. A possibilidade de aceleração do ritmo estabelecido pelo Fed para além de 25bps é altamente factível, tal qual a perspectiva de o juro americano passe ao campo contracionista.”

Fed eleva mediana das projeções de juro dos Fed Funds de 0,9% para 1,9%

O Federal Reserve elevou a mediana das projeções dos juros dos Fed Funds em 2022, de 0,9% para 1,9%, na comparação com as previsões feitas no último mês de dezembro.  Para 2023, a projeção da mediana subiu de 1,6% para 2,8%. Para 2024, de 2,1% para 2,8%. No longo prazo, foi reduzida de 2,5% para 2,4%.

De acordo com o gráfico de pontos divulgado nesta quarta pelo Federal Reserve, sete integrantes do Fomc projetam que o juro básico nos Estados Unidos ficará pelo menos em 2,0% ao ano ao fim de 2022.

Segundo a divulgação, 2 dirigentes esperam juro na faixa entre 2,0% e 2,25%; 3 preveem taxa de 2,25% a 2,50%; 1 projeta que faixa entre 2,50% e 2,75% será adequada, e mais um prevê juro entre 3,0% e 3,25%. Entre outras previsões, um membro do Fomc espera juro entre 1,25% e 1,50%; três projetam taxa de 1,50% a 1,75%; e cinco esperam que os Fed funds terminem o ano entre 1,755 e 2,0%.

Para 2023, o gráfico de pontos também mostrou ampla gama de projeções, com apenas um dirigente esperando juro na faixa entre 2,00% e 2,25%, e quatro prevendo taxa de 2,255 a 2,50%. Ao mesmo tempo, três banqueiros centrais veem o juro entre 2,50% e 2,75%, mesmo número de dirigentes que esperam algo na faixa entre 2,755 e 3,0%. Entre os demais, cinco membros do Fed projetam juro acima de 3,0% ao fim do ano que vem.

Já para 2024, dois dirigentes do Fed preveem juro entre 2,0% e 2,25%; um na taxa de 2,25%; três entre 2,25% e 2,50%; cinco entre 3,0% ou mais; e outros cinco dirigentes na faixa de 2,50% a 3,0%. No longo prazo, seis dirigentes veem o juro em 2,25%, cinco em 2,50% e mais dois em 3,0%.

Powell diz que Fed começará a reduzir balanço de ativos no próximo encontro

O presidente do Fed disse ainda que a instituição começará a reduzir balanço de ativos no próximo encontro.

“A alta de juro de 0,25 ponto porcentual adotada hoje foi apropriada. O Fed começará a baixar o balanço de ativos no próximo encontro. A inflação continua bem acima da meta de 2% de longo prazo”, afirmou o dirigente.

O presidente do Federal Reserve comentou ainda que a ruptura de cadeias internacionais de produção e a alta dos preços de commodities levaram um aumento expressivo dos preços de mercadorias e serviços nos EUA. “A invasão da Ucrânia colocará pressão maior na inflação doméstica”, disse.

As projeções relativas o núcleo do PCE subiram de 2,7% para 4,1%, uma alta ainda expressiva em relação à meta média de 2,0% perseguida pelo ano.

“É provável que a inflação demorará mais do que esperado para retornar ao objetivo”, afirmou Powell. “A mediana de estimativa do comitê do Fed para juros neste ano é de 1,9% até o fim do ano, um ponto porcentual acima do que foi previsto em dezembro para o encerramento de 2022. Vamos utilizar nossos instrumentos de política monetária para obter nossos objetivos.”

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/1420x240-Controle-de-Investimentos.png

Com informações do Estadão Conteúdo

Marco Antônio Lopes

Compartilhe sua opinião