‘Fechamos 2023 em um cenário inesperadamente otimista’, diz sócio da Seneca Evercore sobre elevação da nota de crédito da S&P

Em uma maré de otimismo no fim do ano de 2023, a S&P Global Ratings elevou a nota de crédito do Brasil nesta sexta (19), para BB. Com isso, o país fica mais próximo do Investment Grade.

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Daniel Wainstein, sócio sênior da Seneca Evercore – e o único brasileiro que foi sócio do Goldman Sachs -, destaca que esse movimento de elevação de nota de crédito do Brasil pela S&P demonstra uma continuidade com relação ao que já vinha sendo vislumbrado, já que o mercado vem precificando uma redução significativa do risco Brasil.

“O CDS de 5 anos (precificação de risco de default do país) caiu 45% nos últimos doze meses e atingimos agora o patamar mais baixo desde março de 2020. O S&P, portanto, segue a Moody´s, Fitch e a própria visão do mercado”, destaca.

“Sem dúvida, estamos encerrando 2023 com um cenário inesperadamente positivo, principalmente considerando onde estávamos nas últimas eleições presidenciais e pelo primeiro trimestre do ano, quando encaramos a pior crise de crédito que o Brasil teve nas últimas décadas”, completa.

Segundo Wainstein, no que diz respeito ao ambiente de negócios em que ele atua – M&A (Fusões & Aquisições) -, após um primeiro semestre de pouco volume, a expectativa é de que o segundo semestre deste ano encerre com algo próximo de US$ 20 bilhões, ou seja, o dobro do volume do primeiro semestre.

“Acreditamos que no primeiro semestre de 2024 esse número possa chegar ao recorde de US$ 30 bilhões”, explica.

O sócio da Seneca Evercore ainda afirma que esse aumento de volume de M&A deve-se exatamente à percepção de menor risco do Brasil, compromisso com política monetária adequada, controle inflacionário, reformas sendo aprovadas no congresso, PIB crescendo mais do que o esperado, Ibovespa em alta e, até certo ponto, um certo compromisso do governo com aspecto fisca.

Mais detalhes sobre a elevação da nota de crédito do Brasil pela S&P

Apesar da melhoria no rating do Brasil, a classificação ainda indica um “grau especulativo“. Segundo a S&P, isso sugere que o Brasil está menos suscetível a riscos a curto prazo, mas continua a enfrentar incertezas em relação às condições financeiras e econômicas adversas.

“A perspectiva estável reflete nossa expectativa de que o Brasil manterá uma posição externa forte, graças à forte produção de commodities e às necessidades limitadas de financiamento externo”, diz a agência de classificação de risco.

Para a S&P, a estrutura institucional do Brasil é destacada como capaz de sustentar a formulação de políticas estáveis e pragmáticas, fundamentadas em “controles e equilíbrios” abrangentes em todos os poderes. 

Na semana passada, a Fitch, que foi a primeira a elevar a nota do Brasil este ano, já havia reiterado o rating soberano, também classificado como ‘BB’.

” A estrutura institucional do Brasil pode sustentar a formulação de políticas estáveis e pragmáticas, com base em amplos freios e contrapesos nos poderes executivo, legislativo e judiciário do governo. Esperamos uma correção fiscal muito gradual, mas antecipamos que os déficits fiscais permanecerão elevados”, diz a agência.

A S&P indica que prevê uma correção fiscal de modo muito gradual, antecipando a manutenção de déficits fiscais expressivos.

No entanto, a agência alerta para possíveis impactos negativos, afirmando que poderá rebaixar a nota do Brasil em caso de uma deterioração fiscal adicional e um aumento da dívida pública além das expectativas. Acrescenta que uma piora na sinalização política também poderá reduzir os fluxos de investimento estrangeiro direto, enfraquecendo, assim, a economia brasileira.

Impacto da reforma tributária

A S&P afirma que a decisão de elevar o rating agora foi motivada pela aprovação da reforma tributária. Segundo a agência, apesar de sua implementação gradual, a reforma representa uma revisão significativa no sistema tributário e, provavelmente, resultará em ganhos de produtividade a longo prazo.

“Esperamos que as instituições brasileiras continuem a abordar lentamente as ineficiências econômicas que retardam o crescimento do País, assim como a rígida estrutura orçamentária, que contribui para grandes déficits fiscais e uma elevada carga de dívida”, afirma a agência.

Além disso, os profissionais da agência observam que a reforma tributária amplia um histórico de pragmatismo político, somando-se a um conjunto de medidas reformistas desde 2016.

Essas reformas, diz a S&P, abrangem melhorias nas condições de trabalho, alívio da carga previdenciária, fortalecimento da gestão de entidades governamentais, concessão de autonomia oficial ao Banco Central do Brasil, estabelecimento de um custo de financiamento determinado pelo mercado para o BNDES e implementação de duas regras fiscais.

Igor Cavaca, líder de gestão de investimentos na Warren Investimentos, analisa: “A recente elevação do rating de longo prazo do Brasil para BB pela S&P reflete o desempenho sólido da economia no último ano e os impactos positivos das políticas monetária e fiscal implementadas. Essa mudança potencialmente melhorará o ambiente de negócios, atraindo investimentos nacionais e estrangeiros para diversos setores da economia.”

Ele diz que “a perspectiva positiva pode facilitar acesso a empréstimos internacionais, afetando a taxa de juros de equilíbrio de longo prazo, um fator chave para realização de investimentos e desenvolvimento da economia”.

Cavaca complementa: “Os efeitos das políticas monetárias e fiscais foram cruciais para essa mudança, a política contracionista do Banco Central do Brasil demonstrou resultados reais, melhorando as expectativas inflacionárias e impulsionando a atividade econômica. A sólida posição externa e a política monetária robusta também sustentam as expectativas de inflação.”

E conclui: “No âmbito fiscal, avanços em reformas discutidas há muito tempo foram essenciais, incluindo o arcabouço fiscal e debates sobre a reforma tributária. Embora a reforma tributária seja vista como um potencial impulsionador da produtividade, seu impacto provavelmente será de mais longo prazo. E vale ressaltar a importância da execução das metas propostas, a falta de progresso na contenção de gastos é um aspecto que receberá constante atenção do mercado.”

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Entenda o investment grade

A classificação de risco por agências estrangeiras representa uma medida de confiança dos investidores internacionais na economia de determinado país. As notas servem como referência para os juros dos títulos públicos, que representam o custo para o governo pegar dinheiro emprestado dos investidores. As agências também atribuem notas aos títulos que empresas emitem no mercado financeiro, avaliando a capacidade de as companhias honrarem os compromissos.

O grau de investimento funciona como um atestado de que os países não correm risco de dar calote na dívida pública. Abaixo dessa categoria, está o grau especulativo, cuja probabilidade de deixar de pagar a dívida pública sobe à medida que a nota diminui. Quando um país dá calote, os títulos passam a ser considerados como de lixo. O mesmo vale para as empresas.

As agências mais conceituadas pelo mercado são a Fitch, a Moody’s e a Standard & Poor’s (S&P), que periodicamente enviam técnicos aos países avaliados para analisar as condições da economia. Uma avaliação positiva faz um país e suas empresas levantarem recursos no mercado internacional com custos menores e melhores condições de pagamento.

Da mesma forma, uma boa classificação atrai investimentos estrangeiros ao país. Fundos de pensão estrangeiros investem apenas em países com grau de investimento concedido por pelo menos duas agências de classificação de risco. Caso contrário, o país passa a ser considerado de grau especulativo.

Em 2008, o Brasil tinha sido elevado à categoria de grau de investimento. A primeira agência a incluir o país nesse patamar foi a S&P, em abril daquele ano. A decisão foi seguida pela Fitch, em maio do mesmo ano, e pela Moody’s, em setembro de 2009.

Queda

Em setembro de 2015, a S&P retirou o grau de investimento do país e concedeu perspectiva negativa, abrindo caminho para que a nota fosse reduzida novamente em fevereiro de 2016. Em dezembro de 2015, a Fitch reduziu a nota do Brasil para um nível abaixo da categoria de bom pagador. A Moody’s retirou o grau de investimento do Brasil em fevereiro de 2016, uma semana após o segundo rebaixamento pela S&P. Na ocasião, a Moody’s reduziu a nota do país para dois níveis abaixo do grau de investimento.

Com a decisão desta terça-feira (19), o Brasil está dois níveis abaixo do grau de investimento na S&P e na Moody’s. A Fitch mantém o país três níveis abaixo do grau de investimento, com perspectiva estável, sem chances de mexer na classificação nos próximos meses.

No caso dos títulos públicos, o grau de investimento ajuda um país a conseguir juros mais baixos nos papéis da dívida externa. Por meio da dívida pública, um governo emite títulos para levantar recursos no mercado financeiro. O dinheiro serve para atender às necessidades de financiamento e permitir que o Tesouro honre os compromissos de curto prazo. Em troca, o governo se compromete a devolver o dinheiro aos investidores com juros. Quanto menores as taxas, maior a confiança na capacidade de pagamento do país.

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Eduardo Vargas

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