Exclusivo: militares veem com receio negócio da Embraer (EMBR3) com chineses

A desistência da Boeing (NYSE: BA) em comprar a divisão de aviação civil da Embraer (EMBR3), dado a dificuldades que a gigante norte-americana enfrenta, deve abrir novas oportunidades à fabricante brasileira.

Uma das possíveis saídas à Embraer se manter competitiva no mercado sem a gigante norte-americana seria estreitar uma parceria com a estatal chinesa de aviação China Commercial Aircraft (Comac). A hipótese de um acordo com uma empresa chinesa foi levantada publicamente pelo vice-presidente Hamilton Mourão.

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O SUNO Notícias apurou, contudo, que militares de alta patente veem com receio uma possível compra ou joint-venture da Embraer com a Comac.

“No momento, não há muito clima para uma parceria com uma estatal chinesa, muito menos para uma venda a eles. A principal questão é, sim, sobre soberania e transferência de tecnologia”, disse um militar de alta patente, com conhecimento do assunto.

A ressalva ocorre apesar da sinergia dos negócios. A chinesa tenta entrar no grupo das grandes, com Boeing e Airbus, e ter uma parceria com a fabricante de jatos executivos, com tecnologia e, principalmente, mão de obra qualificada, seria um ótimo reforço ao negócio.

Já do lado da Embraer, a parceria com a Comac seria positiva para ganhar força, escala e presença global para disputar o mercado com a Airbus e a canadense Bombadier -principal concorrente da brasileira.

Tal vantagem competitiva, contudo, parece não ter muito peso no balanço dos militares. Segundo outro militar de alta patente, as reticências ao negócio da aviação são parecidas com o que ocorria em relação a presença chinesa no leilão da tecnologia 5G, com uma disputa entre Huawei e AT&T.

“Nós temos uma disputa global ocorrendo. Se entregarmos o comando dos jatos da Embraer aos chineses, qual poder de negociação teríamos? A crise do coronavírus mostrou que precisamos de soberania nas decisões”, disse o militar “É uma disputa como no 5G. Os americanos fazem lobby contra os chineses e, por outro lado, os chineses querem estar em locais onde antes era apenas dos americanos. Só que, no momento, inclinamos nossa política a um dos lados”.

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Por isso, há também um problema político que dá contornos a qualquer negociação. O presidente da República, Jair Bolsonaro, e seus filhos já se posicionaram diversas vezes contra a presença chinesa no Brasil. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, inclusive, já se envolveu em diversas polêmicas com representante chineses no Brasil.

“Qual seria o discurso do governo brasileiro ao vender a Embraer aos chineses?”, questiona uma das fontes.

A ressalva militar, contudo, não é exclusividade de um negócio com a China. Antes da parceria com a americana Boeing, houve resistência por parte dos militares na aprovação do negócio, muito por causa da área militar da Embraer.

A oposição só foi quebrada, em partes, após o acerto do projeto KC-390, que tinha controle da Embraer, com 51%, e do Super-Tucano, que ficaria exclusivamente sob controle da brasileira. Em um negócio com os chineses, essas áreas também deveriam ficar de fora, segundo apurou o SUNO Notícias.

Boeing alegou problemas da Embraer

Ao anunciar a desistência do negócio, a Boeing afirmou que iria cancelar a compra do controle da divisão de aviação da Embraer. O acordo entre as duas fabricantes de aeronaves foi anunciado em 2018 e estava avaliado em US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 23,5 bilhões).

A alegação foi que que a Embraer não cumpriu as etapas estabelecidas em contrato para separar a sua linha de aviões regionais, com o intuito de formatar a nova empresa.

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A companhia brasileira acusou a gigante norte-americana de deslealdade e prometeu ir à Justiça. No mesmo dia, em nota, a Embraer disse que “acredita firmemente que a Boeing rescindiu indevidamente o Acordo Global da Operação (MTA, na sigla em inglês) e fabricou falsas alegações.

Os norte-americanos da Boeing vivem duas crises ,que afetaram o desfecho do negócio. Uma é referente à paralisação da produção do 737 MAX por problemas técnicos. Além disso, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) piorou a situação da fabricante devido à queda na demanda do setor aéreo.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na segunda-feira (27), que a Embraer poderá negociar com outras empresas devido ao fim das negociações junto à Boieng.

Vinicius Pereira

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