Gian Kojikovski

Cada vez mais empresas fazem IPOs fora do Brasil, mas escolhem listar BDRs

Mercado de ações brasileiro está se desenvolvendo no exterior; como fica o investidor de varejo?

Há alguns anos estamos vendo empresas do Brasil escolherem listar as suas ações nas bolsas americanas, principalmente na Nasdaq, reconhecida por ser onde as maiores empresas de tecnologia estão listadas. Para termos uma ideia, nos últimos cinco anos, companhias brasileiras levantaram quase US$ 9 bilhões em 13 operações de IPOs nos EUA. Algumas que entram nesta lista são: XP (XP), PagSeguro (PAGS), Stone (STNE), Arco Educação (ARCE) e Pátria Investimentos (PAX).

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Até pouco tempo atrás, a escolha praticamente impedia que investidores de varejo do Brasil acessassem e se tornassem sócios dessas companhias. O cenário mudou e, agora, alem da facilidade de investir no exterior, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) atualizou normas que facilitam a compra desses ativos. Uma delas limitava a compra de BDRs apenas a investidores qualificados (comprar opção e fazer day trade com mini índice era liberado, mas investir na Apple, não) e outra que não permitia que empresas com sede no Brasil listassem aqui BDRs.

Isso fez com que algumas empresas já listadas na B3 passassem a ver com bons olhos a migração para os EUA, deixando os seus recibos na bolsa brasileira. A principal companhia que encabeça esse movimento é o Inter (BIDI4), que já contratou assessores financeiros para fechar o seu capital no Brasil e ofertar as suas ações na Nasdaq, através da Inter Platform. A nova sociedade entre Lojas Americanas (LAME4) e da Americanas S.A. (AMER3) também deve ter sede no exterior e especula-se que a Locaweb (LWSA3) siga esse caminho. Em um caminho quase inverso, quem tornou-se pública lá fora antes e recentemente disponibilizou BDRs aqui foi a XP Inc (XPBR31).

Uma das principais opções pela listagem no exterior é o acesso a uma maior quantidade de investidores. A Nasdaq movimenta, por dia, US$ 262 bilhões em ações de quase 3 mil companhias. Na B3 (B3SA3), o movimento diário é de cerca de R$ 31 bilhões (ou US$ 5,6 bilhões), e estão listadas em torno de 400 empresas.

Além disso, os investidores americanos já estão acostumados a correr mais riscos e investir em empresas de crescimento e com múltiplos esticados, visto que a renda fixa nos EUA paga rendimentos bem abaixo da inflação há bastante tempo.

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Vale também considerar que o país não sofre com as instabilidades políticas que experimentamos constantemente no Brasil, que geram alta volatilidade e afetam a confiança dos investidores, principalmente em empresas que ainda estão em processo de crescimento. Basta ver o que está acontecendo nesta semana com a bolsa após a proposta de auxílio emergencial acima do teto de gastos públicos.

Atrelado a isso, a moeda forte nos EUA traz segurança e estabilidade aos negócios.

Outro ponto importante, que foi utilizado na estratégia da XP ao abrir capital na Nasdaq, é a questão da governança. Os executivos podem listar as ações das suas empresas nos EUA e diluir seu capital abaixo de 50% sem perder o controle da companhia – algo inviável na bolsa brasileira por enquanto. Até existe discussão para que isso ocorra em breve, mas não há nada decidido. Isso é possível devido às diferentes classes de ações e a existência das “super ações”, papéis que dão direito a mais votos para a diretoria da companhia.

Curiosamente, a B3 parece reconhecer essa “derrota” para as bolsas americanas e começa a estudar a possibilidade de mudar as regras do seu principal índice de ações, o Ibovespa, para incluir BDRs na carteira teórica, segundo informações do Broadcast.

Em teoria, um mercado de capitais e acesso a financiamento desenvolvido é sinônimo de um país desenvolvido. Agora, vemos o mercado de ações brasileiro sendo desenvolvido fora do país. Vale acompanhar como isso vai estar dentro de alguns anos – e como vai afetar o acesso do investidor de varejo aos negócios e o posicionamento da própria B3.

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Nota

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