Por que os bancos de investimento não veem uma bolha nos mercados de ações

Nos primeiros meses de 2021 a busca por “bolha do mercado de ações” no Google nos Estados Unidos atingiu um pico que nunca havia sido visto nos últimos 15 anos.

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As buscas na internet tornaram-se uma ferramenta fundamental para entender o ânimo dos investidores. E o fato de cada vez mais pessoas buscarem o termo “bolha” significa que estão questionando a situação atual do mercado.

A abundante liquidez introduzida pelos Bancos Centrais e muitos índices de ações em seus picos máximos, apesar da pandemia ainda em curso, geram preocupação nos investidores.

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Muita gente está pensando no ano 2000, relembrando a bolha da internet.

Se olharmos para as avaliações do índice S&P 500 hoje, de fato aparece evidente que o mercado não está negociando a múltiplos particularmente baratos.

O índice preço/lucro (P/L) dos últimos 12 meses está por volta das 21 vezes contra uma média de 16 registrada nos últimos 25 anos.

Por outro lado, o dividend yeld caiu para cerca de 1,5% em comparação com uma média histórica de pouco mais de 2%.

Em suma, em geral, comprar Wall Street hoje significa comprar ativos que não são baratos.

Entretanto, os excessos de 2000 (quando o preço/lucro ultrapassava 24) ainda não foram alcançados.

Alguns bancos de investimento divulgaram relatórios nos últimos meses justamente sobre o tema de uma possível bolha no mercado de ações.

O resultado é uma opinião bastante compartilhada sobre a ausência de riscos extremos nos mercados. Mas todos ainda indicam a necessidade de manter elevada a prudência nesse momento.

Isso pois os analistas concordam que as taxas de juros em nível zero, impostas pelos principais bancos centrais, mudam o padrão e tornam o investimento em ações ainda competitivo.

Alerta do Goldman Sachs

Há algumas semanas Goldman Sachs analisou os mercados financeiros com base em nove indicadores típicos da fase de exuberância, concluindo que certamente hoje muitas classes de ativos têm preços muito altos.

Wall Street atingiu uma alta histórica e o Goldman observa que os valores de muitas ações subiram consideravelmente nos últimos meses.

Entretanto, para o maior banco de investimento do mundo, não podemos falar de um bolha de riscos para o sistema financeiro.

A principal característica de qualquer bolha é que os preços das classes de ativos sobem exageradamente, com as valuations subindo para níveis insustentáveis. O que, para Goldman, não é o caso.

As ações que têm o múltiplo ev/sales (ou seja, capitalização mais dívida divida pela receita) de mais de 20 vezes saltaram para seus níveis mais altos desde 2000.

Ao mesmo tempo, os preços das empresas que não obtêm lucros aumentaram drasticamente.

Sinais de superaquecimento, mas ainda não suficientes para chamar de risco de bolha.

Os múltiplos de ações nos EUA estão no topo dos dados dos últimos 20 anos, mas não em níveis extremos.

O prêmio de risco de ações também continua atraente, justamente pela taxa zero de juros.

O único fator de incerteza, segundo Goldman, está ligado à concentração de mercado e ao forte peso da tecnologia.

Poucas ações hoje têm um peso enorme no índice S&P 500. Elas são:

  • Apple (AAPL34),
  • Amazon (AMZO34),
  • Microsoft (MSFT34),
  • Alphabet (GOGL34),
  • Facebook (FBOK34)

que estão pesando cerca de 50%, enquanto em 2000 as 5 principais ações de tecnologia valiam 15% do total do índice.

Credit Suisse também fala em altas valuations, mas nada de bolha

O Credit Suisse em um relatório no final de fevereiro também falou de mercados financeiros certamente com altas avaliações. Mas não em uma bolha.

Entre os fatores reportados nesta análise contrária a existência de uma bolha está o fato de os fluxos para investimentos em ações terem aumentado significativamente, mas sem excessos.

Além disso, o fato de que, em média, quando uma bolha estoura, os rendimentos médios das debêntures se encontram em 7,7%. Hoje estão abaixo de 2%.

Esse segundo aspecto evoca a mudança de paradigma introduzida pelos Bancos Centrais com a enorme liquidez injetada nesses últimos meses.

O fator taxa de juros, portanto, parece ser crucial para a compreensão de possíveis desenvolvimentos no futuro próximo.

Em uma atualização recente sobre a estratégia de ações, o Credit Suisse também não vê sinais de venda de ações, com os mercados subindo no final do ano, enquanto no curto prazo pode haver uma pausa, pois o apetite pelo risco do mercado atingiu seu pico.

Bank of America exclui também risco de crash

Por fim, a pesquisa global do Bank of America (BofA) deste ano excluiu o risco de bolha para o mercado de ações, falando de uma recuperação histórica do Produto Interno Bruto (PIB) tanto nos EUA quanto na União Europeia (UE) em 2021.

O aumento dos preços das ações é, portanto, justificado por políticas de crescimento.

Nesse contexto, há dois riscos principais. Primeiro, o fracasso da campanha de vacinação e, portanto, a retomada da pandemia. O segundo diz respeito a taxas de juros, salientando o risco da recuperação dos rendimentos.

O aumento do Treasury Note (T-Note) nos EUA nas últimas semanas, portanto, torna-se um termômetro a ser monitorado cuidadosamente.

Em conclusão, as avaliações de ações não são particularmente baratas e não é por acaso que muitas casas de análise nos últimos meses divulgaram relatórios dedicados ao tema das bolhas financeiras.

O cenário que vivemos não tem precedentes na história. Mas uma bolha dos mercados de ações igual as que estouraram no passado necessitam de taxas e rendimentos significativamente mais altos. E isso deixa os analistas muito mais tranquilos.

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Carlo Cauti

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