Selic: juros devem continuar caindo, mas aumentou a incerteza fiscal, diz ata do Copom

Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (6), o Banco Central (BC) afirmou que, em relação à decisão de redução da Selic de 12,75% para 12,25%, o ritmo de cortes deve seguir o mesmo nas próximas reuniões, mas há uma incerteza maior sobre a capacidade do governo em cumprir as metas fiscais estabelecidas.

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Segundo o texto, o Comitê vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a preocupação em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco.

“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, pontuaram os membros do Copom no documento.

A decisão para a nova taxa Selic tomada na semana passada – e que foi unânime –, não surpreendeu o mercado. Com os votos do comitê (Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes, de 0,5 p.p, o mercado já apostava em uma intensificação do ritmo de ajustes dos juros. 

O Boletim Focus desta semana trouxe estimativas que apontavam para uma Selic a 11,75% no final do ano, mesma previsão do documento divulgado antes da decisão do Copom. 

O que o Copom avalia?

O Copom avaliou que o ambiente externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas.

Para o Comitê, os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho, e que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes.

Já no ambiente doméstico, segundo o Copom, o conjunto de indicadores recentes da atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração esperado pelo Comitê, com uma desaceleração nos dados de atividade referentes a agosto, em particular em serviços. Por outro lado, o mercado de trabalho segue aquecido, mas apresenta alguma moderação na margem.

“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, sinaliza a ata.

Copom: redução da taxa Selic é estratégica para convergência da inflação 

Sobre a decisão em reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25% a.a, o Copom entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025.

O Comitê reforçou, ainda, que essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego, sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços.

O grupo considerou que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária, reforçando a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. 

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Ainda segundo o Comitê, a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos. 

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Expectativas de inflação seguem sendo fator de preocupação, diz Copom

Sobre as expectativas de inflação, o Copom acredita que elas seguem desancoradas e são um fator de preocupação.

Assim, em seus cenários para a inflação, o Comitê listou os que fatores de risco permanecem em ambas as direções. No caso dos riscos de alta, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais, além de uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada, em função de um hiato do produto mais apertado.

Já entre os riscos de baixa, o Copom ressaltou uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, além dos impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

“O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, é mais incerta do que o usual e exige cautela na condução da política monetária”.

Decisão sobre redução da taxa Selic foi consensual

Segundo a ata, o Comitê avalia que houve um progresso desinflacionário relevante, em linha com o antecipado pelo grupo, mas ainda há um longo caminho a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta, o que exige serenidade e moderação na condução da política monetária.

No texto, o Comitê afirma que o cenário doméstico vem se encaminhando em linha com o que era esperado, e que ele prossegue a trajetória desinflacionária dos núcleos e da inflação de serviços, reforçando a dinâmica benigna recente da inflação.

Enquanto isso, diz o Copom, um membro avalia que o cenário externo introduz um viés assimétrico altista no balanço de riscos para a inflação, enquanto os demais membros avaliam que o cenário internacional afeta primordialmente o grau de incerteza relativo ao balanço de riscos.

O Comitê é unânime, portanto, em avaliar que o aumento da incerteza no cenário global exige cautela.

Assim, após a análise do cenário, todos os membros concordaram que era apropriado reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, de forma a ajustar o grau de aperto monetário prospectivo.

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Giovanni Porfírio Jacomino

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