Comunicado do Copom: discussão sobre meta fiscal do governo pode atrapalhar ritmo de cortes da Selic?

O Copom reduziu nesta quarta (1º) a taxa Selic, agora a 12,25% ao ano. O comportamento dos preços fez o Banco Central (BC) cortar os juros pela terceira vez seguida. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano. A decisão, anunciada na tarde desta quarta-feira (1º), era esperada pelos analistas financeiros, que esperavam pelo comunicado do BC. O texto veio no tom certo para os economistas – e mostra, segundo eles, que o Copom, além da inflação, monitora ainda mais as medidas do governo pelo equilíbrio fiscal, ou o descumprimento delas

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De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a taxa Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.”

Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, comenta o corte da Selic anunciado hoje: “A decisão do Copom veio dentro do esperado, sem surpresas. Chamam a atenção no comunicado alguns pontos bem importantes que foram destacados, principalmente sobre a necessidade do cumprimento das metas fiscais já estabelecidas pelo próprio governo para a continuação do ciclo de queda de juros.”

Copom deve levar Selic até que patamar?

Moura explica: “Trazendo esses pontos, essas necessidades, o Copom mostra que essas metas fiscais precisam ser atingidas para que o BC possa seguir o mesmo ritmo de redução de juros. A expectativa que a gente tem para o próximo ano é de uma taxa de por volta de 9,5% e fica claro que, para que ocorra isso, serão necessários alguns discursos que ressaltem o compromisso do governo com as metas fiscais.”

O analista da Matriz prossegue: “A ideia que passa é que o governo precisa ficar comprometido com essa questão do déficit zero. Caso os compromissos fiscais não sejam cumpridos da forma como planejado, o BC pode precisar rever a rota. Então, acredito que seja um primeiro sinal de, caso isso não seja cumprido, possamos ter aí uma reprecificação lá na frente.”

Moura também menciona as incertezas externas relacionadas pelo Copom: “Um outro ponto importante que os membros do Copom destacaram mais uma vez são as tensões geopolíticas, principalmente com o conflito no Oriente Médio, e o impacto que isso pode que pode causar nas economias. É importante a gente estar de olho nesses pontos porque qualquer movimento brusco que aconteça no Oriente Médio a gente tem aí, de cara, um aumento do petróleo de cara. Então a preocupação por essas tensões é importante e o comitê do BC deixa claro que está atento a isso.”

E conclui: “Veio uma ata bem em linha com as expectativas. Eu entendo que eles viram a importância de ser destacada a questão da dívida pública, para que a gente não tenha um aumento das expectativas inflacionárias. Veio um tom bem brando, mas destacando os fatores de risco principais.”

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Dúvida sobre a manutenção do ritmo de cortes da Selic

Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos, também observa a preocupação com o exterior explicado no comunicado do Copom: “Houve mais ênfase à piora do cenário internacional nesse meio tempo. A grande dúvida de hoje, que era se a sinalização de corte de 50 bps, seria só para dezembro ou se seria estendida também para janeiro, foi sanada no penúltimo parágrafo, quando o Comunicado mantém o plural no seguinte trecho: ‘Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário'”.

Farina nota um detalhe do texto do BC: “Apesar de ter mantido o ritmo de cortes em 50 bps para além da reunião de dezembro, adentrando também o ano de 2024, a sensação passada foi que o Comunicado foi mais ‘hawkish’. Por exemplo, o comunicado não celebra o fato que a expectativa de inflação medida pela Pesquisa Focus para este ano caiu para 4,6%, abaixo do teto da meta de 4,75%, o que vai evitar com que o Banco Central tenha que escrever pelo terceiro ano consecutivo a carta endereçado ao Ministério da Fazenda explicando os motivos do descumprimento da meta.”

Outro ponto que o comunicado também não celebra, diz ainda Farina, é a “melhora da composição da inflação nas últimas leituras, principalmente dos serviços subjacentes e das métricas de núcleo”.

Ele explica: “A interrupção do movimento de reancoragem das expectativas de inflação também parece estar incomodando bastante o Banco Central, principalmente para os anos de 2025 e 2026. Nesse comunicado, foi adicionada a palavra ‘apenas’ no trecho ‘expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador’. A adição dessa palavra em uma frase de teor mais ‘hawkish’ evidencia o incômodo do Banco Central com essa desancoragem das expectativas.”

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, observa: “A grande dúvida ficava sobre como seria o comunicado dado os eventos do final da semana passada e dessa semana com a declaração do Lula sobre meta fiscal. O Banco Central, pelo menos na minha leitura, não deu nem mais nem menos importância à questão do fiscal, mesmo com esse cenário mais conturbado depois do que o Lula falou na sexta e todo o desenrolar dessa história durante essa semana com o ministro Haddad. Então a postura do Banco Central com relação ao fiscal segue com preocupação, reafirmando que o fiscal é um ponto importante para a condução de política monetária.”

Ele complementa: “A única novidade foi em relação às expectativas para os próximos anos. Percebi que o Banco Central tem uma leitura mais positiva para os indicadores para os anos que ainda vão vir. De maneira geral, sem grandes modificações no comunicado em relação ao comunicado anterior, nenhuma surpresa com relação ao fiscal. Agora é aguardar a ata do Copom na semana que vem para ver se traz mais algum detalhe a respeito do que foi comentado hoje. O comitê continua achando apropriado que o pace de 0,50 é algo a ser mantido. O BC continua observando com cautela o contexto macroeconômico nos Estados Unidos e o que a gente tem acompanhado de maneira geral no cenário externo como a guerra no Oriente Médio.”

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Marco Antônio Lopes

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