Metaverso: o que as varejistas querem ao comprar terrenos na realidade virtual?

O que até ontem parecia uma realidade distante já move centenas de milhões de dólares e faz com que empresas – especialmente as vinculadas ao varejo – tenham mais interesse em inovação. Com a proposta de digitalizar ainda mais os laços sociais, o Metaverso já é uma das pautas prioritárias de algumas alas corporativas.

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Os últimos movimentos vistos foram ambiciosos, como a compra do Carrefour (CRFB3) por terrenos no Metaverso equivalentes a 30 supermercados.

“Este é o nosso primeiro movimento no metaverso no Sandbox. Um campo virtual e, sobretudo, um campo de inovação para o Carrefour, alinhado à nossa estratégia de transformação digital”, publicou no LinkedIn a chefe de e-commerce e transformação digital da divisão francesa do Carrefour, Elodie Perthuisot.

Apesar de não ser a maior novidade do mundo em termos de proposta, a tecnologia, que pertence a uma holding trilionária, a Meta (FBOK34), pode ser um dos triggers para mais inovações no campo de experiência do usuário – o que já virou foco nos últimos anos com aumento de analistas de customer success.

“O Metaverso ainda é incipiente, está muito no começo. O Second Life já era isso. Mas agora trata-se da otimização de avatares e a presença em um mundo imersivo – eis aí a grande inovação. O que ocorre é o mesmo que em plataformas como Roblox e Fortnite: as pessoas já usam isso muito. Mas com isso vem uma camada de consumo – há venda de terrenos, negócios, carros. As marcas estão muito presentes. É um possível ter um canal para fazer essa ponte”, afirma Arthur Igreja, co-fundador da AAA Inovação, palestrante dos temas de tecnologia e inovação.

“Socialização pelas empresas veio para ficar”

Para o especialista, a tendência deve brilhar os olhos de varejistas já que, cada vez mais, as pessoas vêm cuidando das suas ‘versões digitais’. Arthur afirma que isso atualmente já um grande negócio por trás de redes sociais, e o Metaverso dá um passo a mais nesse sentido.

Maria Augusta Ribeiro, especialista em Netnografia e Comportamento digital e autora no site Belicosa, destaca que a dinâmica de socialização pelas empresas veio para ficar.

Diversas plataformas têm adotado templates semelhantes às redes sociais nos últimos anos, ou ainda adicionado funções como a de “reações”, usuais nos aplicativos.

“No segmento empresarial, penso que teremos cada vez mais utilizações semelhantes às redes sociais. O consumo às vezes é atrelado a indicações: gera um senso de comunidade. O Banco do Brasil (BBAS3) pode, por exemplo, tornar alguém um ‘embaixador da marca’ que nem sempre é consumidor. Aí a empresa estará mais próxima da comunidade”, analisa.

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“Em Marketing se usam ‘Love Brands’. Jamais terei dinheiro para uma Ferrari, mas sou quase um embaixador da marca, falando do quanto os acessórios são diferenciados e os carros são incríveis. Você tem vários fóruns e blogs de pessoas apaixonadas por nichos. A comunidade se nutre de informações, e isso torna interessante o olhar para esse público”, explica.

Outro exemplo foi a ação do Banco do Brasil com diversos streamers que faziam transmissões de jogos no Metaverso, em um servidor de GTA V.

“Esse ambiente virtual que interage com elementos do mundo real amplia a nossa plataforma de eSports ao tratar de dinheiro, de investimento e de simulação de situações presenciais dentro da realidade virtual. É mais um passo para a construção do futuro de uma instituição bicentenária e ávida pelas inovações que proporcionam experiências colaborativas e imersivas”, explica Tadeu Figueiró, gerente executivo do Banco do Brasil.

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Artur Igreja lembra que voltou recentemente do South by Southwest (SXSW), prestigiado congresso de tecnologia em Austin, nos EUA, e viu um esforço enorme das empresas em conseguir uma dinâmica cada vez mais sócio-interativa com clientes e usuários.

Money in the game

Com uma crescente onda de investimentos em marketing e de ações no meio digital pelas companhias, as cifras são difíceis de serem ignoradas pelas companhias, além do alto engajamento e da inserção da marca para outros públicos – especialmente os mais jovens.

Atualmente o Brasil tem mais de 80 milhões de consumidores online, que movimentam quase R$ 90 bilhões por ano, segundo pesquisa da Ebit/Nielsen, e a consultoria Ernst & Young espera movimentos bilionários com a implementação prática do Metaverso.

A grande tacada vem com a melhora de presença de mídia e de experiência do usuário.

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“O e-commerce que incluir o Metaverso como um novo canal de interação e compra proporcionará novas experiências aos clientes. Será possível, por exemplo, entrar em uma loja virtual com um avatar, provar diversas camisetas e comprar somente a que ficar melhor. O consumidor terá uma experiência muito próxima de uma atividade que realizaria no mundo físico, podendo testar produtos e serviços de maneira muito realista”, explica Eric Vieira, head e-commerce do Grupo FCamara.

Maria Augusta observa que, especialmente no caso do varejo, há uma possibilidade de a compra via e-commerce ser algo mais agradável com o Metaverso, com tecnologias que sejam responsivas e permitam uma visualização melhor e mais realista dos produtos.

Temos estrutura para o Metaverso?

O otimismo com o setor é relativamente generalizando entre analistas. O Morgan Stanley prevê nada menos que US$ 8 trilhões movimentados pelas gigantes chinesas como a ByteDance (dona do TikTok) e o AliBaba (BABA34). O ponto crucial para cifras próximas a essas circularem no Brasil é um só: infraestrutura.

O 5G precisa estar a plenos pulmões para que a experiência do Metaverso ocorra no Brasil. Do contrário, haverá pouca adesão.

“O ponto que importa é que você depende muito de estrutura. Sem infra, não se tem o resto. Você não é competitivo. Sem 5G, não há oferta nem demanda. Você se aprisiona no passado. É o que ocorre com a eletrificação do transporte. Na Europa tem países com quase 50% de carros elétricos — enquanto no Brasil é um mercado irrelevante. Sem infra, o que acontece é essa realidade. Temos até algum arcabouço regulatório, mas não chegamos lá”, relata Igreja, da AAA Inovação.

Para ele, falta um cenário “business friendly“.

“O país precisa ter um ambiente e um projeto. O que ocorre é que temos oscilações estruturais e instabilidade, que acabam afastando investidores de longo prazo. Atraímos investimento com Selic alta, para segurar inflação. Não é aquele investimento em que acredita no Brasil”, pontua.

Ribeiro vai além e destaca que o cenário ainda pode ser parcial, já que alguns estados devem ter experiências expressivamente inferiores em relação aos grandes centros urbanos – o que pode gerar um ambiente misto e desnivelado no setor.

Ainda que isso ocorra, a inovação no segmento devem seguir.

Globalização deve ser o foco das techs brasileiras

Com a cibersegurança se tornando uma das prioridades em fusões e aquisições de empresas, a tendência é de que companhias brasileiras tenham a necessidade de acordarem para o mundo digital para sobreviverem.

Além de defender que o tema logo será ‘pauta nº1’ dentro das reuniões, o especialista em inovação destaca que o que falta nas techs brasileiras é visão global.

“Qual é o elo comum entre as grandes daqui e as dos EUA? Entre bancões, Vale (VALE3), Petrobras (PETR4) e as big techs? Alcance global. Poucas techs brasileiras nascem, crescem e pensam em soluções globais. Trata-se de um problema comum quando se nasce num mercado grande, como são os 200 milhões de brasileiros. As empresas de tecnologia nascem com visão global nos EUA. Se a Netflix (NFLX34) fosse depender só dos EUA, ela seria absurdamente menor”, analisa.

Ribeiro lembra que uma empresa nascida na América Latina tem cumprido essa missão, a exemplo das gigantes como a Meta, do Metaverso, o Google (GOGL34 ) e a Apple (AAPL34). Seu exemplo é a paranaense EBANX, sistema de pagamento global para empresas de tecnologia que atualmente já atende gigantes como o Spotify.

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Eduardo Vargas

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