Ibovespa em 2021: qual é a tendência para a Bolsa neste ano?

O ano de 2020 foi de fortes altos e baixos no Ibovespa. O principal índice acionário da Bolsa de Valores de São Paulo fechou o ano passado com uma valorização de 2,92%, aquém do esperado pela maior parte dos investidores – que, claro, não contavam com a chegada da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Mas o que esperar do Ibovespa em 2021?

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A economia brasileira passará por diversos empecilhos neste ano, como a tentativa de recuperação no pós-pandemia – que depende diretamente do andamento da vacinação –, além do alto desemprego e a preocupante dívida pública. No entanto, ainda há otimismo quanto ao Ibovespa em 2021.

Nos últimos 20 anos, o retorno médio nominal ao ano do Ibovespa foi de 10,6% (segundo informações da B3). O SUNO Notícias compilou as expectativas de bancos, corretoras e diferentes analistas do mercado para o índice neste ano – e as opiniões variam entre targets menores e maiores que a média histórica em comparação a cotação de fechamento do ano passado. Algumas delas são:

CasaPrevisão baseUpside sobre 2020
BB Investimentos140 mil17,60%
BTG Pactual139 mil16,79%
Mirae139 mil16,79%
Guide135 mil13,42%
JP Morgan134 mil12,58%
Safra131 mil10,06%
BofA130 mil9,22%
XP130 mil9,22%

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Vale lembrar que este trabalho dos especialistas do mercado se trata de projeções curto prazo, o que pode não se cumprir em função de diversas condições (visto o que aconteceu no ano passado). Portanto, essa matéria não configura uma recomendação de investimento. Confira!

Blue chips tendem a puxar o Ibovespa em 2021

Para o analista de renda variável da Guide Investimentos, Henrique Esteter, a recuperação dos mercados, desde meados no ano passado, tem se colocado à frente da economia real.

“O mercado sempre antecipa. É importante ressaltar que o que foi feito para a recuperação da economia, e consequentemente dos mercados, jamais foi visto na história. Nunca houve tanta liquidez. Quem imaginava uma taxa de juros básica da economia (Selic) em 2%?”, diz o analista.

Esteter também relembra que os estímulos fiscais, como o coronavoucher no Brasil e os cheques enviados às famílias nos Estados Unidos, reforçaram a tendência de alta dos mercados pois com os juros reais negativos em boa parte do mundo, as opções de alocação de recursos se tornaram mais escassas.

“Também tivemos a vitória dos democratas nos Estados Unidos, tanto na Câmara como Senado e presidência. Isso traz uma perspectiva de maiores incentivos econômicos”, afirma Esteter. O apoio governamental à economia viria não somente via estímulos monetários e fiscais, também em investimento em infraestrutura, que gera milhões de empregos.

Para que investimentos dessa categoria sejam realizados, a demanda por commodities normalmente é elevada. Minério de ferro e petróleo são dois produtos que já iniciaram o ano em alta e podem puxar as empresas do Ibovespa.

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Com o índice brasileiro ainda é concentrado em blue chips, como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), esse processo altista deve ser benéfico à Bolsa brasileira. Esteter também diz que o fluxo de estrangeiros em sua volta ao Brasil também tende a ser positivo para o setor financeiro, como bancos e até a própria B3 (B3SA3).

Juntando apenas essas duas empresas ligadas a commodities, mais as companhias relacionadas ao setor bancário, 37,29% do índice já está composto.

“Esses fatores, querendo ou não, abrem um gap entre o mercado e a economia real. Isso ocorre justamente porque a Bolsa concentra somente as maiores empresas do País. São elas que conseguiram sobreviver à crise com o acesso ao mercado de capitais, que devem ganhar market share e saírem mais fortes no pós-pandemia”, disse o especialista ao SUNO Notícias.

Para a Guide, o Ibovespa deve encerrar 2020 na casa de 135 mil pontos. Esteter, todavia, diz que o cenário ainda pode ser revisto pela corretora e que a visão segue construtiva para o índice, mesmo com o avanço neste início de ano.

Onda azul nos Estados Unidos e eficácia de vacinas no radar dos investidores

Para Pablo Spyer, economista e diretor de operações da Mirae Asset Brasil, os investidores no Brasil precisam ficar de olho na onda azul instaurada nos Estados Unidos. Desde 1892, o Partido Democrata não controlava, além da presidência, o Congresso por completo.

Isso vale tanto para a aprovação de novos pacotes de estímulos econômicos, para o impulso desenvolvimentista norte-americano em infraestrutura, mas também no que se refere à regulamentação das big techs. As empresas de tecnologia foram as grandes precursoras da recuperação dos mercados desde março de 2020, ajudando a Nasdaq a renovar máximas históricas.

Outro aspecto que Spyer destaca é a escolha de Joe Biden por Janet Yellen para o Tesouro norte-americano, a primeira mulher a ocupar tal cargo. Ela já liderou a ala econômica no Congresso e o Federal Reserve (Fed), o Banco Central (BC) dos Estados Unidos.

Yellen não é radical como alguns democratas esperavam, já tendo alertado os Estados Unidos sobre o tamanho do endividamento público, mas tem dado atenção às consequências da desigualdade social e mercado de trabalho, sobretudo em época de pandemia. A impressão de dinheiro não deve parar.

“O andar da carruagem do coronavírus também ficará no radar dos investidores, juntamente à eficácia das vacinas que estão sendo desenvolvidas. O movimento das commodities, como com o petróleo, é amplamento influenciado pelo fechamento ou reabertura das economias”, disse Spyer ao SUNO Notícias.

O risco de rombo fiscal também é apontada pelo diretor da Mirae como um aspecto relevante na tomada de decisão dos investidores, sobretudo estrangeiros. A extensão do coronavoucher pode estourar as contas públicas, trazendo risco fiscal e inflação. Dessa forma, o BC seria obrigado a subir os juros, um desestímulo aos ativos de risco no Brasil.

Ibovespa
A relação dívida líquida/PIB está no maior patamar desde 2002, em mais de 60%. Fonte: Banco Central

A Mirae trabalha com três cenários base para o Ibovespa em 2021. O primeiro contempla a aprovação de reformas, aquecimento da economia e redução da máquina pública, o que poderia levar o índice aos 150 mil pontos.

Já no segundo cenário, mais pessimista, aconteceria uma maior demora na aprovação das reformas e novas ondas do coronavírus no mundo, sem ampla vacinação. Isso faria com que o índice subisse até 139 mil pontos. No terceiro e pior cenário, com nenhuma reforma aprovada e subida dos juros, o Ibovespa em 2021 recuaria até os 100 mil pontos, terminando o ano no vermelho.

O que dizem gestores, bancos e corretoras

Mesmo passado um ano difícil que trará complicações subsequentes, com o PIB potencialmente caindo mais de 4%, não só os investidores mas grandes corporações têm se mostrado otimistas com o mercado acionário brasileiro.

De acordo com uma pesquisa mensal do Bank of America (BofA), realizada com gestores de recursos da América Latina no início do mês passado, a média dos entrevistados espera que o Ibovespa supere a marca de 130 mil pontos ao fim de 2021.

Segundo o estudo, 54% indicaram que o índice da Bolsa brasileira deve terminar o ano acima dos 130 mil pontos, enquanto 20% estima que o Ibovespa encerre 2021 entre 120 mil e 130 mil pontos. Não houve nenhuma indicação de que o índice possa terminar o ano entre 95 mil e 110 mil pontos.

O próprio BofA, em relatório, espera que o índice termine este ano em 130 mil pontos, e recomenda uma exposição acima da média do mercado, ou overweight. Para o banco norte-americano, a Bolsa será puxada por empresas de setores cíclicos, que têm maior peso na composição do índice — petróleo e gás, materiais básicos e financeiro.

A XP Investimentos tem a mesma projeção para o mercado brasileiro. A recuperação da economia em 2021, que segundo o Boletim Focus verá o PIB crescer 3,45%, impulsionará o lucro das empresas.

No entanto, de acordo com dados históricos, o fator que move a Bolsa não é o Produto Interno Bruto (PIB) nacional, mas sim o lucro das empresas que compõem o mercado. Em 2016, por exemplo, o Ibovespa subiu 38,94% enquanto a economia recuou 3,3%.

Ibovespa
Retorno do Ibovespa nos últimos cinco anos: mais de 215% (mesmo com o PIB permanecendo praticamente estável no período).

Para o BB Investimentos, o benchmark da Bolsa deve avançar neste ano refletindo tanto a recuperação econômica interna como o avanço no exterior. “A percepção é que 2021 será um ano de recomposição de preços dos ativos, apoiada com consistência na consolidação da recuperação econômica mundial”, dizem os analistas da casa.

O banco vê como factível um patamar de 130 mil pontos para o Ibovespa em 2021, e de 140 mil pontos em 2022, com a política fiscal no centro das discussões.

O JP Morgan, por sua vez, estima que o benchmark chegue aos 134 mil pontos até o final de deste ano. Segundo Emy Shayo, estrategista de ações para a América Latina do banco, o Brasil é player da região que melhor deve desempenhar em 2021.

Enquanto o Safra aponta para uma marca de 131 mil pontos, o BTG Pactual (BPAC11) reitera a posição de que o índice deva ficar em 139 mil pontos.

No entanto, dentre todas as perspectivas, existe um consenso entre os especialistas do mercado: para que o Ibovespa em 2021 volte a andar com sua próprias pernas, sem depender do excesso de liquidez, reformas estruturais e controle fiscal, como o teto de gastos, serão indispensáveis.

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Jader Lazarini

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