Ibovespa: 1 ano após o tombo histórico de 12/03, o que esperar da Bolsa?

O dia 12 de março de 2020, exatamente um ano atrás, ficou marcado na história do mercado de capitais no Brasil. Naquele dia, o Ibovespa caiu 14,78%, o maior tombo deste século, instaurando a preocupação com a chegada da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no País. Os dois circuit breakers daquela quinta-feira, contudo, não traduziram as incertezas que permanecem até hoje.

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Há 12 meses, o Ibovespa fechava em 72.582,53 pontos, com os investidores monitorando os impactos da doença na economia global. Naquele dia, o Brasil registrava 77 novos casos do coronavírus e o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmava ser “uma crise passageira“.

Os fatos posteriores mostraram que não foi uma crise temporária. Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 4,1%, a maior contração desde 1996 — embora as perspectivas iniciais mostrassem um resultado ainda pior. No âmbito da saúde pública, hoje o País está no pior momento, batendo recordes sequenciais da média móvel de mortes pela doença.

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Entretanto, o mercado reage às expectativas, e nunca sobre a certeza. Quais são os riscos e dúvidas que já foram mitigadas com o “novo normal” trazido pela pandemia? Quais questões ainda estão em aberto para o futuro da economia e, consequentemente, dos mercados?

Derrocada foi grande e recuperação acelerada é comum

O mês de março do ano passado não sairá da memória dos investidores tão cedo. Durante aquele período, o Ibovespa caiu quase 30%, derretendo na maior proporção desde 1998.

Quem entrou na Bolsa em abril de 2020 pode não se lembrar do ambiente caótico — e também deve estar acostumado a ver o mercado como uma linha reta para cima.

O circuit breaker, botão que é acionado para que o mercado “se acalme” quando a Bolsa cai 10%, e depois 15%, foi acionado seis vezes numa sequência de oito pregões. Especificamente no dia 12 de março, algumas empresas de grande representatividade no mercado tiveram desempenhos notadamente negativos:

EMPRESAQUEDA EM 12/3QUEDA EM MARÇO/2020
GOL-36,29%-55,59%
AZUL-32,89%-60,51%
CVC-29,11%-56,86%
IRB BRASIL-27,95%-70,89%
BTG PACTUAL-26,86%-50,80%

Naquele pregão o desespero também chegou nos Estados Unidos. O Dow Jones caiu 9,99%, maior queda desde março de 1987, enquanto o S&P 500 recuou 9,51% e a Nasdaq, 9,43%. O mesmo pânico foi notado na Europa.

“Em momentos de aversão ao risco, o mercado tende a exagerar e aumentar o fluxo de venda além do que deveria. Podemos ter tido uma queda mais forte do que deveria ou um papel pode ter sofrido mais pressão do que os pares, mas não podemos dizer que o movimento, naquele momento, foi exagerado”, diz Gabriel Mota, sócio e operador do escritório RJ Investimentos.

Para ele, é difícil discutirmos a racionalidade daquele movimento após já ter acontecido. “A quantidade de informações que tínhamos na época sobre os impactos da doença eram limitados e a discussão política, principalmente no Brasil, sobre a gravidade da doença deixavam, as incertezas ainda maiores.”

Entretanto, o cenário mudou. Desde o patamar mais baixo de março do ano passado, quando fechou na casa dos 63 mil pontos, o Ibovespa chegou a atingir 125 mil pontos no começo deste ano, mas recuou frente às incertezas políticas e escalada da pandemia.

Desempenho do Ibovespa desde o ponto mais baixo do ano passado

Assim, muitos podem se perguntar: faz sentido o maior índice acionário da B3 retomar tudo o que foi perdido, enquanto a economia derrapa e procurar atenuar os riscos do isolamento social?

Para Elias Wiggers, do escritório EQI, sim. “A economia real sempre demora mais para se recuperar do que o mercado de capitais, pois, assim como ocorrem nas quedas, os investidores costumam tentar antecipar os movimentos. Quem compra Bolsa, compra futuro”, afirma o especialista.

O mercado tenta colocar no preço as perspectivas para os próximos meses. No fim de 2020, com a pandemia tendo mostrado sinais de arrefecimento, o Ibovespa conseguiu fechar o ano no azul. A queda das semanas seguintes, todavia, reflete as incertezas domésticas, sobretudo no que se refere à vacinação.

“A precificação hoje já considera uma retomada mais lenta principalmente pelos desafios do Brasil em uma campanha de vacinação que seja eficiente em todo o território nacional, além de outros riscos internos, como questões fiscais”, diz Mota. Segundo ele, os valuations das empresas estão sendo ajustados pelo mercado.

Riscos foram mitigados, mas alguns ainda atormentam o Ibovespa

Embora alguns riscos já tenham sido mitigados pelos integrantes do mercado, enquanto os modelos de negócio das empresas já foram modelados para um “novo futuro”, incertezas de cunho político e fiscal pairam sobre os investidores.

“O grande ponto a ser discutido são os desdobramentos, em termos de despesas, provenientes da pandemia. Vimos durante toda a negociação de auxílios, algumas tentativas de burlar o teto de gastos usando a Covid-19 como caminho para essa manobra e esse risco, infelizmente, sempre fica no radar dos investidores”, diz Mota.

Nesta semana, foi aprovada na Câmara dos Deputados a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial. A medida flexibiliza regras fiscais para abrir espaço para a retomada do auxílio emergencial. Isso porque, pelo texto, a eventual renovação do coronavoucher não precisará ser submetida a limitações previstas no teto de gastos.

Para Emmanuel Hermann, CEO do Grupo Leste, “o que preocupa para frente são efeitos fiscais, de ineficiência, que potencialmente possam existir nesse processo de emergência”.

Embora a coordenação dos governos para o sustento da atividade tenha sido importante, na visão do executivo, existem entraves macroeconômicos à frente. “Consequentemente, vêm os riscos para subir a taxa de juros e uma disrupção da estabilidade econômica. Esses são os principais fatores que trazem discussões de riscos para a atividade e o mercado”, afirma.

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Wiggers, por sua vez, diz que o mercado brasileiro tem “riscos calculados, não mitigados”. “Os serviços, em geral, já se adaptaram a essa condição não presencial. À medida que isso vai ocorrendo, as empresas vão ajustando margens e custos. Os negócios vão se adaptando.”

Segundo um levantamento da XP Investimentos, até esta sexta 54% das empresas que já divulgaram seus resultados do quarto trimestre e que compõem o Ibovespa, superaram as expectativas do mercado. Do restante, 27% veio em linha com o estimado pelos analistas e apenas 19% abaixo das projeções.

Com as dificuldades impostas pela pandemia, os investidores embutem suas expectativas ajustadas às empresas, e mesmo assim boa parte do mercado brasileiro está resiliente.

Vale lembrar que, até o fim do ano passado, o Brasil possuía 19,7 milhões de CNPJs ativos, segundo o Mapa das Empresas. As cerca de 420 companhias listadas na Bolsa são as melhores do País e, em sua maioria, sairão da crise melhores do que entraram.

Os EUA se recuperaram mais rápido: onde estão as melhores oportunidades?

A recuperação dos mercados nos Estados Unidos foi ainda mais rápida. Desde o início da pandemia, considerando o último pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão aprovado nesta semana, a potência econômica terá investido mais de US$ 4 trilhões (R$ 22,44 trilhões) para sustentar a atividade e minimizar os impactos do coronavírus.

A alta liquidez fez com que as bolsas se recuperassem fortemente. Desde o ponto mais baixo em março do ano passado, a Nasdaq praticamente já dobrou de tamanho. O S&P 500, por sua vez, teve um desempenho similar ao Ibovespa, com menos volatilidade.

Para Mota, a Bolsa estadunidense sempre será respaldada por maior certeza na atividade econômica, com a recuperação de forma “mais rápida e sólida”. “Além disso, o ritmo de vacinação continua muito à frente quando comparamos aos nossos números, o que faz o mercado precificar uma retomada econômica”.

Hermann, por sua vez, adiciona outro fator preponderando que os investidores levam em consideração ao investir no Brasil. “Uma das coisas que preocupa em relação ao mercado brasileiro é que existe uma instabilidade institucional muito grande, que em um primeiro momento não foi tão importante.”

Ele cita que desde o ano passado a Bolsa brasileira praticamente subiu em linha reta, impulsionada pela queda na taxa de juros e alocação da poupança local. Entretanto, agora com a perspectiva de aumento da Selic e menor auxílio emergencial (com desemprego ainda alto), outros aspectos voltam a entrar na análise.

Dessa forma, existem duas maneiras de analisar o cenário de investimento entre os dois países. Hoje, o emergente Brasil, com maior risco, oferece um potencial maior retorno — embora ele possa não ser materializado. Os Estados Unidos, por sua vez, contam com um mercado mais desenvolvido e economia em plena recuperação, mas aspectos macroeconômicos também chamam atenção.

“Uma eventual alta da inflação e, consequentemente, uma alta nos juros nos Estados Unidos precisam ficar no radar dos investidores que estão expostos à Bolsa estadunidense. O Federal Reserve (Fed) continua com uma postura mais expansionista e as últimas declarações reforçam a expectativa de que uma alta da inflação é transitória”, diz Mota.

Um ano após um dos piores dias da histórica do mercado brasileiro, o Ibovespa é cotado a 114.983,76 pontos. No acumulado de 2021, o resultado é negativo, refletindo as incertezas que ainda planam sobre o País.

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Jader Lazarini

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