Evergrande: a chinesa que pode dar um calote de R$ 1,6 trilhão; entenda o caso

Como se as incertezas econômicas não bastassem, a incorporadora chinesa Evergrande Group tomou o mercado internacional de assalto com um fator que estava fora do radar.

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Na última semana, a Evergrande, que faz parte das 500 maiores empresas do planeta em termos de receita, veio ao mercado para informar que há possibilidade de dar um calote de US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão na cotação atual). Em termos comparativos, isso representa mais de 30% de todo o valor de mercado da Bolsa brasileira.

Desde então, o conglomerado, que já foi um dos mais prestigiados do país, passou a ser uma real ameaça à China.

Analistas já alertam para a possibilidade de um colapso no sistema financeiro chinês, o que eventualmente também geraria problemas nos mercados e nas economias internacionais.

A dívida da Evergrande também foi contraída fora do país. UBS, BlackRock e Ashmore são alguns dos grandes credores da segunda maior incorporadora da China. Veja os principais detentores dos títulos que vencem em março do ano que vem:

Maiores detentores dos títulos da Evergrande que vencem em 2022. Foto: Reprodução Twitter
Maiores detentores dos títulos da Evergrande que vencem em março de 2022. Foto: Reprodução Twitter

Quem é a Evergrande

A empresa foi fundada pelo bilionário chinês Xu Jiayin, conhecido como Hui Ka Yan em cantonês, que já foi o homem mais rico da China.

Listada em Hong Kong e sediada no sul da China, ela possui mais de 200 mil colaboradores. Indiretamente, emprega mais de 3,8 milhões de pessoas.

O conglomerado possui uma série de atividades. Além da incorporação imobiliária, o grupo possui um time de futebol, o Guangzhou Evergrande, que já foi defendido por brasileiros.

Contudo, a Evergrande ficou famosa mesmo com a construção de propriedades residenciais. Sua direção gosta de ressaltar que já concluiu “mais de 1.300 projetos em mais de 280 cidades” em todo o País.

O conglomerado fez seu nome anunciando projetos e vendendo unidades, em todas as províncias chinesas, anos antes de serem concluídos.

Mas o mercado desacelerou. As vendas contratadas em agosto caíram 13% no comparativo mensal, para o equivalente a US$ 5,9 bilhões. A companhia disse que a queda nas vendas colocariam uma pressão tremenda sobre o fluxo de caixa e sua liquidez.

Muitos projetos foram interrompidos, deixando a ver navios milhares de compradores de casas que investiram suas economias em propriedades que sequer ainda tinham sido levantadas. A pressão dos fornecedores é cada vez maior.

Governo chinês em meio ao calote da Evergrande

Na última segunda-feira (13), a empresa disse que estava enfrentando problemas sem precedentes e fazendo todo o possível para restaurar as operações normais e proteger seus consumidores.

Entretanto, os agentes do mercado acreditam cada vez mais que Pequim deixará a gigante falir e lidar com seus prejuízos, acionistas e detentores de títulos. Por outro lado, os clientes que ficaram de mãos vazias devem ser amparados.

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Segundo a Capital Economics, a Evergrande já vendeu mais de 1,4 milhão de apartamentos avaliados em US$ 200 bilhões que ainda não foram levantados.

Uma das consequências do possível calote da Evergrande é que seria realizada uma reestruturação gerenciada, com outras incorporadoras assumindo os projetos inacabados.

Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, o governo chinês não deve entrar em ação para salvar a Evergrande, mas dará orientações para o restante do mercado.

“Imagino que o governo não irá resgatar a empresa como um todo, mas terá o trabalho de orientar as demais partes relacionadas”, comentou o especialista. “Diferentemente de como ocorre no Ocidente, caso as empresas locais não sigam a orientação do governo chinês, elas são punidas.”

Ou seja, quando a China orienta, é uma forte indicação de que isso deve ser seguido à risca. Nesse sentido, o governo já orientou aos bancos que as dívidas devem ser prolongadas. Os US$ 300 bilhões não devem virar pó, na visão do estrategista.

Histórico é nebuloso

O caso da Evergrande selou os momentos de incerteza que os mercados passam.

Em uma semana de decisões sobre política monetária, ao passo que dados de vendas no varejo e produção industrial mundo afora parecem desacelerar — mesmo não dando trégua para a inflação –, a possibilidade de insolvência do grupo é mais um item a ser monitorado.

“Para o sistema financeiro como um todo, o movimento é claramente negativo. A operação dos bancos é essencial para o funcionamento da economia. No início da pandemia, uma das primeiras medidas dos Banco Centrais foi fazer com que a liquidez chegasse às pessoas por meio dos bancos”, lembrou Cruz.

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O especialista lembra que é necessário ficar atento à relação entre os bancos e instituições financeiras e o setor imobiliário.

A crise de 2008, por mais que tenha tido premissas diferentes do que é observado hoje, trouxe efeitos colaterais à sociedade mesmo após ter dilacerado os balanços de diversos bancos. O episódio levou o banco Lehman Brothers à falência.

Os títulos de dívida (bonds) da Evergrande são negociados com um desconto de 30% sobre o valor de face. A negociação dos papéis foi interrompida na Bolsa de Xangai durante o pregão desta segunda.

Caso da Evergrande efeito sobre as commodities

Segundo especialistas do mercado, o efetivo risco da Evergrande no Brasil recai sobre a Vale (VALE3) e siderúrgicas. O motivo, naturalmente, diz respeito à diminuição da demanda por commodities metálicas.

A mineradora caiu mais de 3% no pregão desta segunda, após tombar quase 6% ao longo do dia. A baixa no mês é de mais de 15%.

Cruz ressalta que o caso da Evergrande foi a bala de prata para o pessimismo com as commodities, mas não a razão isolada para a queda das empresa nesta segunda.

“As matérias-primas estão muito mais suscetíveis às determinações do governo chinês. Os reguladores viram os preços esticados e como têm poder de influência, puxaram o freio de mão. Essa tendência deve continuar ao menos até o fim do ano.”

Estrutural ou não, fato é que o mercado de commodities se assustou com a chance de falência da Evergrande. A cotação do minério de ferro caiu quase 9% no porto de Qingdao, fechando abaixo de US$ 100 a tonelada pela primeira vez desde maio de 2020.

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Jader Lazarini

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