Estatais e setores regulados podem voltar a níveis de preço da recessão, alertam especialistas

O mercado já se mostrava receoso, mas o fim da última semana foi a gota d’água. Após a demissão do presidente da Petrobras (PETR4) e a fala do presidente Jair Bolsonaro, dizendo que deve “meter o dedo na energia elétrica”, as empresas estatais e de setores regulados despencam na B3. Agora, especialistas alertam que as empresas podem voltar aos níveis de preço vistos em 2016.

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O temor dos investidores remete aos solavancos que as estatais e empresas utilities passaram na última década, sobretudo com a interferência estatal do governo de Dilma Rousseff . Integrantes do mercado, inclusive, temem por uma escalada de Bolsonaro nesse sentido, o que pioraria ainda mais a situação das companhias.

Segundo Priscila de Araújo, gestora de renda variável da Macro Capital, está se desenhando uma situação que seria o “pior dos mundos” para essas empresas, sobretudo por conta de uma queda de expectativa.

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“Desde o mandato de Dilma, esses setores vinham muito pressionados, em função de toda a intervenção que foi observada, e era esperada uma ‘virada de mão’ com Bolsonaro, com a tendência de um governo liberal e com maior transparência. Isso vem se revertendo”, disse Araújo.

Para ela, a partir de hoje o mercado vai acentuar a inserção de maiores descontos no preço das ações estatais e de setores regulados, para patamares “muito mais parecidos com o da era Dilma”, quando havia uma intervenção estatal ainda maior na economia.

Vale lembrar que a Petrobras, que cai 20% do pregão de hoje, a R$ 21,83, chegou a ser negociada a R$ 4 há cinco anos, no auge da crise econômica. No setor de energia elétrica, a estatal Eletrobras (ELET3), que tomba 5%, a R$ 27,73, era cotada na casa dos R$ 5 no mesmo período.

De acordo com a gestora, a abertura do mercado nesta segunda-feira exprime o sentimento negativo não só para com o mercado como um todo, mas principalmente essas empresas. “Os valuations não vão voltar ao patamar de semana passada tão cedo.”

Um dos fundos com maior exposição a Petrobras, o Moat Capital optou por não se desfazer da posição na estatal. De acordo com Adriano Leite, sócio da gestora, apesar dos riscos citados, ainda há dúvidas se a companhia já não está descontada o suficiente no mercado.

“[A Petrobras] é uma empresa que se desalavancou, cresceu, derrubou custos e ainda está muito barata. Então, no momento, estamos parados”, disse. “Com o petróleo a US$ 60, estamos falando de uma empresa com EBTIDA em três vezes, abaixo de preço da Dilma, então, por ora, parece exagerado sair ou reduzir a posição com esse preço”, completou.

Para Leite, a gestora mantém a posição, mas também os olhos abertos em relação aos próximos passo do governo Bolsonaro.

“Dá para piorar? Dá. Se o novo presidente entrar e mudar completamente a diretoria, se começar a fazer aventuras a política de preço, tem uma série de possibilidades que podem fazer a empresa se tornar pior do que agora”, disse.

Reflexo nas estatais é resultado de intervenção em excesso

O Ibovespa, pesado em empresas estatais e utilities, opera em forte queda nesta segunda. O reflexo negativo após as falas do presidente já era esperado desde a sexta-feira, quando o ETF brasileiro negociado em Nova York fechou em queda de mais de 3% no after hours.

“A mudança radical na Petrobras gera incertezas e bate em todas as ações de estatais e gera, em um primeiro momento, aversão ao risco. O que estamos vendo neste pregão é uma reprecificação dos ativos após o evento [falas de Bolsonaro]”, disse Pedro Galdi, analista da Mirae Asset.

Com as possíveis (e prováveis) interferências governamentais nas empresas, mesmo que essas sejam negociadas em Bolsa e tenham cartilhas de governança a serem seguidas, a modelagem de precificação de ativos mudará — e não se sabe até quando.

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“Os preços-alvos dos analistas do mercado para essas empresas devem passar por forte revisão e com estimativa de queda, o que impacta a Bolsa. O mercado espera por um balizador, e até lá é difícil chegar a uma conclusão”, diz Henrique Esteter, analista da Guide Corretora.

Para ele, “as empresas em que o governo pode interferir se tornam alvos suscetíveis de mudanças nas perspectivas de geração de caixa para o futuro. As companhias de energia elétrica ou seneamento, por exemplo, mesmo as privadas, podem ter seus ganhos minados futuramente por alterações tarifárias”.

Intervenções abrem precedente para outras ingerências

Segundo os especialistas, o grande problema das intevenções estatais é que elas geram consequências imprevistas. Assim, novas intervenções vão ser necessárias para corrigir a anterior e assim por diante, diz Leonardo Ramos, especialista em investimentos do escritório DNAinvest. “Instituições fracas e excesso de intervenção estatal causam isso: pânico entre os investidores. Nosso País não é e nunca foi um lugar seguro e que trata bem o capital estrangeiro e local”.

Ramos comenta que além do recalibramento dos prêmios de risco no mercado, ou seja, quanto os investidores exigem receber para correr o risco de empresas com essas variáveis, o câmbio e a curva de juros disparam.

Por volta das 12h40, o dólar operava com uma alta de 2,18%, a R$ 5,49. Os contratos de juros futuros, por sua vez, disparam entre 3,60% e 4,50%, desde os mais curtos até os mais longos. A curva de juros é sensível a episódios dessa magnitude. Com atritos entre o governo e o mercado, o preço e a disponibilidade de crédito na economia são influenciados.

“O famoso populismo que muito mal já fez, volta a assombrar”, afirma o especialista, ao comentar o risco político que pesa sobre as estatais.

Colaborou Vinicius Pereira

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Jader Lazarini

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