Dólar reduz queda com falas do presidente do BC, mas fecha abaixo dos R$ 5

O dólar fechou em queda de 0,25%, cotado a R$ 4,8320, depois de variar entre R$ 4,7650 e R$ 4,8575. O recuo teve menor intensidade que ontem, mas se manteve pelo quarto dia seguido abaixo dos R$ 5.

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A moeda abriu em baixa e chegou a operar abaixo de R$ 4,80. À tarde, porém, a divisa norte-americana passou a subir em meio a notícias sobre declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed), de que pretendem aumentar o ritmo de aperto monetário. A sinalização do Fed inclui uma alta de uma alta de 50 pb dos juros em maio.

Falas do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto de que uma nova alta da taxa Selic, na reunião de junho, é “improvável” — encerrando o ciclo de alta em 12,75% em maio — também pesaram no mercado de dólar.

Apesar de certa instabilidade e troca de sinais ao longo da sessão, o dólar à vista caiu pelo sétimo pregão consecutivo, dia marcado por relatos de fluxos estrangeiros para ativos domésticos e por nova rodada de valorização de divisas emergentes e de países exportadores de commodities ante a moeda americana.

Pela manhã, o dólar chegou até a romper o piso de R$ 4,80 e tocou no patamar de R$ 4,76, ao registrar mínima a R$ 4,7650 (-1,63%), com zeragem de posições no mercado futuro e possíveis aportes para a renda fixa local. O Tesouro Nacional vendeu no fim da manhã lote integral de NTN-F (R$ 415,8 milhões), o papel público preferido dos estrangeiros. Também foi colocada oferta integral de LTN (R$ 8,4 bilhões), títulos mais absorvidos por investidores domésticos, mas que podem também ter atraído capital externo.

Em meio a ajustes e movimentos de realização de lucros, a divisa dos EUA operou pontualmente em terreno positivo no início da tarde, tendo alcançado máxima a R$ 4,8575 (+0,27%). Logo em seguida, contudo, voltou a cair e, após passar o restante do pregão orbitando R$ 4,82, fechou a R$ 4,8320, em baixa de 0,25% – o que levou as perdas acumuladas em março a 6,28%. A queda do dólar nesta quinta-feira foi em menor magnitude do que a observada nos pregões anteriores: -1,44% (dia 23), -0,59% (22) e -1,42% (dia 21).

Fim do ciclo de aperto monetário em maio, sinaliza Campos Neto

O ritmo de apreciação do real teria sido limitado pela queda das cotações do petróleo, com o barril tipo brent abaixo de US$ 120. Houve também a sinalização do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), de que o ciclo de aperto monetário provavelmente se encerrará em maio, com alta da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75% ao ano.

Tendo acumulado uma depreciação de 6,10% entre o fechamento do pregão do dia 15 e na quarta-feira, 23, era natural também que o movimento de baixa da moeda americana perdesse um pouco de fôlego, dizem analistas. O pano de fundo favorável ao real, contudo, ainda permanece: manutenção de commodities em patamares elevados, com o prolongamento da guerra na Ucrânia e as sanções do Ocidente à Rússia, e amplo diferencial entre juros internos e externos. Isso apesar da alta dos retornos dos Treasuries, diante da crescente expectativa de que o Federal Reserve vá acelerar o passo no processo de alta dos juros.

“Juro real forward de 2 anos nos EUA é negativo em 2,77%, e no Brasil é positivo em 5,80%. Deu para entender o tamanho do nosso carry?”, pergunta o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, em post no Twitter.

Há também relatos de migração de recursos de outros emergentes, inclusive a China, para o Brasil. Dados da B3 mostram que os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 2,592 bilhões na bolsa na véspera, o que leva os aportes em maio a R$ 20,972 bilhões. No acumulado do ano, a entrada de capital externo soma R$ 83,593 bilhões.

Dólar vai cair mais?  Real ainda está subvalorizado, lembra o Credit Suisse 

“Os ativos no Brasil, em especial o câmbio e bolsa, continuam a se favorecer de um cenário de preço de commodities mais elevados e fuga de capitais dos emergentes do Leste Europeu, assim como do rebalanceamento das carteiras saindo de ‘growth’ para ‘cíclicos'”, afirma, em nota, o CIO da TAG Investimentos, Dan Kawa. “O Brasil está recebendo mais investimentos com essa quebra de negócios de países desenvolvidos com a Rússia. E com a Selic elevada, o investidor estrangeiro também busca ganhos reais com a renda fixa brasileira”, diz Davi Lelis, sócio e especialista da Valor Investimentos.

Monitoramento diário de alta frequência do Instituto Internacional de Finanças (IIF) mostra que desde a invasão da Ucrânia, há um mês, a China tem registrado um nível “sem precedentes” de fuga de capitais, enquanto outros emergentes apresentam fluxo positivo. Em relatório, a instituição afirma que ainda é cedo para concluir se a guerra é responsável por esse movimento, mas que a dimensão das saídas é grande o suficiente para pelo menos levantar a possibilidade de que o conflito esteja levando investidores a encararem o mercado chinês “sob um novo olhar”.

Reunidos em Bruxelas, líderes do G7 e da União Europeia anunciaram nesta quinta-feira iniciativa para coordenar ações conjuntas de sanções à Rússia. Comunicado do G7 divulgou à tarde acusou os russos de crimes de guerra na Ucrânia. Houve também ao alerta de que o grupo ficará atento à ajuda de outros países a Moscou. Em entrevista coletiva apões reuniões com líderes aliados, o presidente dos EUA, Joe Biden, defendeu a expulsão da Rússia do Grupo dos 20 (G20).

Em relatório, o banco Credit Suisse afirma que, a despeito do rali recente, o real ainda está subvalorizado e pode continuar a se apreciar. “O real apresentou a maior apreciação em relação ao dólar neste ano em um conjunto de 33 moedas. Esse desempenho, contudo, é apenas uma reversão da forte depreciação corrida nos últimos anos”, afirma a economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour. “Alguns dos nossos modelos, baseado em diferencial de juros, de inflação, prêmio de risco e termos de troca, suportam a avaliação de que a moeda ainda tem espaço para se apreciar”.

A mediana das projeções dos modelos do banco aponta para uma taxa de câmbio de R$ 4,50, com uma banda entre R$ 4,10 e R$ 4,80. Entre pontos favoráveis ao real, o Credit Suisse ressalta o fato de o diferencial entre as taxas de juros reais brasileira e americana estar perto de seu pico. Outro ponto relevante é a melhoria dos termos de troca, em razão dos preços elevados das commodities, que representam 70% das exportações brasileiras.

Segundo o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Minneapolis e membro votante do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), Neel Kashkari, a taxa básica de juros neutra nos Estados Unidos está em torno de 2% ao ano.

O dirigente disse que baseia sua avaliação na atual curva de juro dos Treasuries, os títulos da dívida pública americana. De acordo com ele, o retorno por volta de 2,3% da T-note de 10 anos segue em níveis historicamente baixos, e, junto ao restante da ponta longa da curva, indica que as expectativas de inflação estão ancoradas, mas o potencial de crescimento para a economia dos EUA é apenas modesto.

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“É uma boa janela com o dólar operando na casa dos R$ 4,80 para montar posições de proteção/hedge. Para além do que já temos de cenário macroeconômico, na medida em que o cenário político se define e acirra, movimentos de pressão no dólar para cima devem ser costumeiros por aqui”, observa Jimmy Keller, economista e fundador da Keller Capital.

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Dólar a R$ 4,80 não é suficiente para compensar alta do preço do petróleo, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, respondeu nesta quinta-feira que o dólar em torno de R$ 4,80 nesta quinta-feira ainda não é suficiente para compensar a elevação do preço do petróleo no mercado internacional — que hoje acabou fechando em queda, acima dos US$ 110.

“A apreciação do real não foi suficiente. O petróleo subiu mais que a apreciação. Mas quando olhamos as diversas commodities, como grão e metais, com uma apreciação de 10%, basicamente temos uma equivalência. Foi exatamente suficiente para compensar na média entre grãos e metais, mas em petróleo não. Obviamente, o petróleo é muito volátil, e amanhã o cenário pode ser diferente”, respondeu Campos Neto, em coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, garantiu nesta quinta-feira que o Brasil não está atrás da curva em relação à política monetária. “Se tem uma coisa que o BC tem feito é não ficar atrás da curva”, afirmou durante entrevista coletiva para detalhar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado pela manhã.

De acordo com ele, o Brasil foi o país “que mais fez (em relação à elevação de juros) e que o choque adicional verificado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) justificava aumentar a Selic em 1 ponto porcentual agora e sinalizar outra elevação de mais 1 ponto porcentual para a próxima reunião de maio. “Se o cenário internacional se agravar ou houver outro choque, podemos repensar cenário”, disse.

Fazer um movimento adicional em junho não é o mais provável, segundo Campos Neto.

Ele ressaltou, no entanto, que o mundo passa atualmente por um “cenário volátil”. “Os modelos apontam para uma inflação mais baixa para a frente, ainda que no curto prazo seja momento de bastante pressão e volatilidade”, considerou.

Na mesma entrevista, a diretora de Assuntos Internacionais, Fernanda Guardado, acrescentou que “só o tempo dirá” quando o cenário de referência voltará a ser o de maior probabilidade. Atualmente, o BC trabalha com um cenário alternativo detalhado pela primeira vez no RTI desta quinta-feira.

Mesmo com dólar em queda, defasagem do diesel chega a 17%, calcula Abicom

A alta volatilidade do preço do petróleo no mercado internacional permanece, e apesar da queda do dólar em relação ao real, a defasagem dos combustíveis vendidos pela Petrobras (PETR4) no mercado interno em relação com os preços do Golfo do México, nos Estados Unidos, só aumenta, inviabilizando importações por médias e pequenas empresas, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

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De acordo com levantamento da entidade, o diesel está com defasagem média no Brasil de 17% em relação ao mercado internacional, e até mesmo o porto de Aratu, na Bahia, que mantinha mais proximidade com a paridade externa, registra nesta quinta-feira defasagem de 16% em relação ao diesel do Golfo.

As refinarias brasileiras atendem 80% do mercado interno. Os 20% restantes precisam ser importados, o que tem sido feito pelas grandes importadoras como Raízen, Ipiranga e Vibra, apesar da falta de paridade dos preços com o mercado internacional.

A ex-refinaria da Petrobras na Bahia, Landulpho Alves (Rlam), que foi vendida em dezembro para a Acelen, braço no Brasil do fundo de investimentos árabe Mubadala, tem feito reajustes pontuais nos combustíveis, o que mantinha os preços alinhados do que a Petrobras em relação às importações. No último dia 19, porém, a Acelen reduziu o preço do diesel entre 2,7% e 3% em quase todos os mercados onde atua, seguindo o recuo do preço do petróleo para perto do patamar de US$ 100 o barril do tipo Brent.

Na quarta-feira, a commodity voltou a disparar e ultrapassou os US$ 120 o barril, e continuava em patamar alto nesta quinta-feira, cotado a US$ 119 o barril, por volta das 14 horas (de Brasília), até fechar no nível dos US$ 110. Para equiparar os preços, o diesel deveria ter aumento de R$ 0,90 por litro nos postos brasileiros, segundo a Abicom.

Já no caso da gasolina, a defasagem média é de 10% e um eventual reajuste deveria ser de R$ 0,44 por litro. Na Bahia, a defasagem da gasolina está em 4% na comparação com os preços do mercado internacional. No último dia 19, a Acelen reduziu o preço da gasolina em 0,8%.

Com Estadão Conteúdo

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Marco Antônio Lopes

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