Um mês do desastre em Brumadinho: o que aconteceu à Vale desde então

No dia 24 de janeiro, um dia antes do rompimento da barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), os papéis da Vale estavam cotados em R$ 56,15. Como a tragédia ocorreu numa sexta-feira de feriado em São Paulo, não houve negociações na Bolsa. Os efeitos devastadores do episódio só seriam sentidos no dia 28, após o fim da sessão daquele dia: as ações despencaram para R$ 42,36.

Desde então, os papéis da Vale tiveram uma leve recuperação, hoje cotados em R$ 47,12, mas os desdobramentos do desastre estão longe de acabar.

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Trinta dias depois do rompimento da barragem, a conta do estrago humanitário ainda não está fechada. Além dos 179 mortos, ainda há 131 desaparecidos, mas nada indica que todos os corpos serão resgatados. Autoridades já disseram que provavelmente muitos deles continuarão soterrados, ainda que as buscas continuem.

Para a Vale, da mesma forma, os dias ruins estão longe de terminar. Logo após o ocorrido, a Justiça chegou a bloquear mais de R$ 12 bilhões da empresa – o que correspondia a 45% de todo o dinheiro disponível em caixa. Entre os vários reveses infringidos à mineradora estão indenizações de moradores de Brumadinho, gastos com multas, doações, investimentos em infraestrutura e na reparação dos danos, além de perdas no valor de mercado da empresa e de suas ações e na nova mancha à sua reputação – ainda não recuperada do desastre de Mariana, em 2015.

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A repercussão internacional foi destruidora. Na semana seguinte ao rompimento da barragem, a Vale perdeu R$ 71 bilhões em valor de mercado – o maior tombo num só dia na história da Bolsa brasileira. A Moody’s e a Standard & Poor’s, agências de classificação de risco, colocaram a nota da Vale em revisão para possível rebaixamento. A Fitch, por sua vez, rebaixou sua nota de crédito de BBB+ para BBB-.

Além disso, a gestora de recursos holandesa Robeco colocou a empresa brasileira na lista de investimentos proibidos e escritórios nos Estados Unidos anunciaram que abririam uma ação coletiva contra a empresa. Aqui no Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo retirou a mineradora do índice de sustentabilidade.

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Além de todos os danos financeiros e de reputação à mineradora, novas descobertas foram feitas na esteira das investigações da imprensa. Uma ata mostrou que a Vale enviou funcionários a reunião que gerou afrouxamento em lei ambiental. Outras apurações mostraram que a empresa sabia dos riscos – e até havia calculado o custo humano de um hipotético rompimento da barragem – em Brumadinho e em diversas outras represas sob sua administração. Além disso, e-mails e materiais apreendidos pela polícia apontaram manipulação no laudo de estabilidade da barragem e indicaram que a tragédia não foi acidente.

Mesmo após as revelações, o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, disse que a empresa “é uma joia” e que “não poderia ser condenada”. Durante o minuto de silêncio na Câmara dos Deputados em memória dos falecidos, o executivo não se levantou de sua cadeira.

Na última semana, a mineradora firmou um acordo parcial com o Ministério Público do Trabalho e sindicatos de Minas Gerais. Os compromissos envolvem a garantia de emprego ou pagamento de salário dos funcionários que trabalhavam no local do desastre até o dia 31 de dezembro de 2019 e o fornecimento de plano médico e atendimento psicológico aos dependentes das vítimas até eles completarem 22 anos. O período de maior exposição negativa para a Vale pode já ter passado, mas as implicações do desastre estão longe de ser superadas.

Guilherme Caetano

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