Vale: Análise sobre suas ações após o acidente em Brumadinho

A esta altura, provavelmente você já ouviu falar do acidente em Brumadinho/MG envolvendo operações da Vale.

A Barragem 1 de rejeito da mina Córrego do Feijão estourou na última sexta-feira (25). No momento em que escrevo esta análise, 37 pessoas foram declaradas mortas e mais de trezentos pessoas estão desaparecidas.

Nós da Suno fazemos nossas orações às famílias e vitimas desta tragédia.

Quem me acompanha sabe que tenho uma presença forte nas redes sociais. E a pergunta que mais tenho recebido desde sexta é sobre as ações da Vale.

É duro fazer análise em momentos como este, mas este é o meu trabalho. Como é um tema delicado, peço desde já a licença para fazer minha análise meramente do ponto de vista do investidor.

Primeiramente, a Vale é uma empresa muito relevante tanto em termos de valor de mercado quanto em liquidez. Até quinta-feira, véspera do acidente, a Vale era a terceira empresa mais valiosa do Brasil, perdendo para Petrobras e Itaú. Provavelmente, as ações irão abrir em queda nesta segunda e o Bradesco deve ocupar a terceira posição que pertence a Vale.

É importante lembrar que em 2016, ocorreu um acidente grave em Mariana quando rompeu-se a barragem de rejeitos de mineração da Samarco, empresa controlada pela Vale e BHP Billiton.

Na época, o acordo anunciado teria custado a Vale um pouco mais de R$10 bilhões.

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O acidente de Brumadinho é um pouco diferente. Ao que tudo indica ele é bem menor em termos de danos ambientais e impacto na produção da Vale.

Por outro lado, em termos de vidas, Brumadinho ultrapassou o acidente de Mariana. Na época, 18 pessoas faleceram.

Ainda é cedo para fazer qualquer julgamento sobre as causas do acidente. Não se sabe se foi consequência de uma negligencia por parte da empresa, ou uma fatalidade.

De toda a forma, como a Vale é reincidente, pode ser que as multas sejam maiores que no passado.

Todos os negócios estão suscetíveis a acidentes. Não nos esqueçamos que a Petrobras teve um acidente grande em 2001, com a plataforma P-36, em que 11 pessoas morreram.

O que fazer em uma situação dessas? A empresa tem que fazer duas coisas: trabalhar para conter os danos do atual acidente e se certificar que sejam feitas melhorias em suas praticas para que isso não volte a acontecer no futuro. Eventualmente, deve haver punição se ocorreu negligência.

Se a empresa fizer isso, e acredito que a Vale irá fazer, podemos analisar suas ações sobre a perspectiva do investidor.

Potenciais danos aos resultados

Existem dois aspectos a serem analisados: operacional e jurídico.

Segundo nosso levantamento, esta mina não é muito relevante, representando cerca de 2% dos resultados da produção de minério de ferro da Vale.

Segundo fontes, a Vale possui seguro de danos patrimoniais e lucros cessantes. Desta forma, suas perdas em termos operacionais devem ser limitadas.

Do ponto de vista jurídico, ainda é cedo para saber quais os danos. Primeiro, é preciso saber as razões do acidente. Depois é preciso entender juridicamente quais as consequências.

Como este acidente vem poucos anos depois de Mariana e o número de mortes é maior, pode ser que os custos sejam maiores. Mas fica difícil de fazer qualquer previsão.

Valuation

A Vale é uma empresa de commodity, e seus resultados oscilam de maneira correlacionada com o sobe e desce dos preços das matérias primas metálicas, sobretudo o minério de ferro, já que é a maior produtora mundial.

Desde o início 2016, os preços do minério de ferro tem subido.

Quando se analisa uma empresa de commodities, é preciso ter em mente que dificilmente uma empresa é capaz de gerar um retorno superior ao seu custo de capital, se não tiver uma vantagem competitiva: ter o menor custo da indústria.

E isso a Vale tem. Seu minério é de alta qualidade e o custo de extração está entre os menores do mundo.

Quando eu faço Valuation de uma empresa de commodities, eu busco trazer a valor presente os fluxos futuros.

Acredito que ao longo do tempo, a Vale tenha capacidade de apresentar resultados superiores ao seu custo de capital, por conta de sua escala e acesso a minas altamente competitivas.

Porém, como as ações avançaram fortemente nos últimos anos, seu Valuation ficou um pouco acima do que eu gostaria de indicar.

Na ultima quinta, suas ações eram negociadas a 1,8x o valor patrimonial.

Acredito que ao longo do tempo, a empresa possa entregar algo entre 15-20% de rentabilidade sobre patrimônio.

Uma empresa com essas características, poderia negociar entre 1,5 e 2 vezes o valor patrimonial. É possível argumentar que como é uma empresa que possui reservas finitas, deveria ser negociada na parte baixa desta banda. Atualmente, as ações seguem negociadas bem no centro da banda que julgo adequada.

Desta forma, as ações precisam cair de maneira expressiva para que se configurem uma oportunidade.

Suas ações fecharam na ultima quinta-feira em R$56,15. E fecharam em queda de 8% em Nova Iorque na sexta-feira (foi feriado em São Paulo e não tivemos pregão).

Do ponto de vista meramente financeiro, e eu entendo que existam pessoas que nunca mais vão querer investir na Vale, eu estaria disposto a analisar com um interesse em comprar suas ações por volta de R$ 45,00.

ACESSO RÁPIDO
Tiago Reis
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