Copom deve manter Selic em 13,75%, mas mercado alerta sobre incertezas fiscais em 2023

Teve início hoje (6) a última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) que definirá a taxa básica de juros (Selic). Embora a expectativa seja de que o ano termine com a inflação acima da meta, especialistas apontam para a manutenção da definição anterior da taxa em 13,75% ao ano.

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Nesta semana, a Suno Notícias consultou 12 entidades financeiras e consultorias, e as projeções dos especialistas sobre o Copom foram unânimes. O comunicado oficial sobre a decisão do BC sobre a Selic será divulgado ao mercado amanhã (7), no final da tarde.

“Apesar das alterações no balanço de riscos desde a última reunião do Copom, acreditamos que a taxa Selic deverá ser mantida. Isso porque a atualização dos cenários de referência e do balanço de riscos não parece ser suficiente para impor mudanças nas diretrizes da política monetária atual”, analisa Everton Gonçalves, superintendente da Assessoria Econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC).

Essa também é a visão dos bancos Santander (SANB11), Itaú Unibanco (ITUB4), Credit Suisse (C1SU34), Goldman Sachs (GSGI34), BNP Paribas e UBS em relação à próxima decisão do Copom. A expectativa dessas instituições está alinhada com as projeções do mercado em geral, conforme se observa no anúncio do Boletim Focus desta última segunda-feira (6) — que tem sido a mesma nas últimas 24 semanas.

Gustavo Arruda, Chefe de Pesquisas da América Latina do BNP Paribas, por exemplo, acredita que não haverá muitas novidades. “Mas se há algo que podemos esperar são comentários sobre os riscos fiscais impactando as expectativas. Ainda assim, acredito que o Banco Central não vai avançar muito nessa discussão nesse momento. Continuamos esperando juros estáveis até o segundo semestre de 2023″, afirma. 

O mesmo raciocínio é seguido pelo Santander. “Acreditamos que a evolução dos dados macroeconômicos, junto às perspectivas desde a reunião do Copom de outubro, ainda não fornecem evidências claras de que o Banco Central decidirá, agora, abortar sua estratégia de manter os juros no patamar atual (contracionista) a fim de alcançar o seu objetivo de trazer a inflação para perto do centro da meta até meados de 2024”, destaca Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica.  

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Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, salienta que, considerando o nível de incerteza elevado — em especial sobre a trajetória para as contas públicas —, espera-se que o comitê reforce a sinalização presente nos últimos comunicados: 

“De manutenção da postura vigilante da política monetária, a fim de perseverar no processo de desinflação até que a convergência às metas seja alcançada. E [o Copom] não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado ou que as expectativas de inflação se desancorem.”

Incertezas com a PEC da Transição e nova política fiscal

Apesar do cenário de manutenção, a maior incerteza no momento é com relação ao tempo que a taxa se manterá neste nível. Conforme aponta Ana Paula Carvalho, sócia da AVG Capital, isso levou o mercado a revisar suas expectativas.

“Em vez de reduções no primeiro semestre, a incerteza é por quanto tempo a Selic se manterá nos níveis atuais, atentos ao risco de inflação e ao cenário doméstico fiscal”, explica.

Segundo ela, é provável que o Copom faça um comunicado demonstrando uma “postura vigilante e alerta” ao movimento do mercado, que tem se mostrado avesso à política fiscal proposta pelo próximo governo.

Economista-chefe da Suno alerta para a dinâmica da inflação

Além disso, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, alerta que os próximos meses serão importantes para entender a dinâmica da inflação e dos impactos dos juros. 

“Caso as perspectivas se mantenham, a nossa expectativa é de que a autoridade monetária realize os primeiros cortes na Selic no segundo trimestre do ano que vem”, explica. Segundo ele, o que pode alterar o cenário para a taxa Selic é o desenrolar da PEC da Transição e a discussão sobre um novo arcabouço fiscal. 

Desta forma, Sung aponta que o impacto da política fiscal expansionista pode afetar a política monetária em duas dimensões:

  • No curto prazo: afeta os ânimos do mercado, impacta positivamente a atividade econômica e eleva as expectativas de inflação. 
  • No longo prazo: reduz a credibilidade do arcabouço fiscal do país.

“Porém, enquanto não tivermos votação de projetos e nomeação da equipe econômica do novo governo, não iremos alterar nossas projeções para a trajetória do juro. Caso as perspectivas piorem, contemplaremos uma elevação da Selic”, afirma o economista-chefe da Suno Research.

“Mercado não tem visão clara para um prazo maior sobre a Selic”

Quem também sinaliza para os impactos da PEC da Transição do futuro governo é Guilherme Mendes, especialista em Renda Fixa da Blue3 Investimentos. Segundo ele, os juros futuros mostraram uma grande volatilidade após os resultados eleitorais, visto as incertezas precificadas pelo mercado quanto ao futuro fiscal do país.

“Ainda estamos vivendo um cenário em que a inflação aparenta persistência e o mercado não tem uma visão clara para um prazo mais longo. A incerteza paira sobre o País, visto que o mesmo aguarda dados mais concretos que apenas o tempo poderá entregar”, afirma.

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Além dele, Igor Cavaca, gestor de investimentos da Warren, também destacou a volatilidade observada desde novembro, por causa das incertezas do programa do presidente eleito Lula para os próximos quatro anos. 

O economista destaca que, a princípio, têm sido observadas sinalizações de uma gestão embasada em políticas fiscais mais expansionistas. Segundo ele, esse fato não é visto pelo mercado, impactando diretamente investimentos em renda variável e renda fixa, com a bolsa caindo e juros e remuneração dos títulos públicos aumentando. 

Porém, ainda sob esse cenário, a perspectiva é de estabilização futura. “Com as definições da PEC da Transição e uma maior clareza das políticas que devem ser implementadas nos próximos anos, o mercado tende a precificar e se estabilizar ante o novo cenário. Mas sempre reforçamos: é sempre importante ter uma carteira bem diversificada e adequada ao seu perfil de investidor”, pontua Cavaca.

Piora dos preços dos ativos brasileiros e mercado externo

Enquanto isso, Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, aponta para a piora recente dos preços dos ativos brasileiros — como juros, câmbio e inflação implícita. Segundo ele, ao serem incorporados nos modelos do BC, esses fatores podem se refletir nas projeções da autoridade monetária. 

“A preservação da postura restritiva se justifica com a pressão no núcleo e no campo de serviços da inflação, além da atividade no mercado de trabalho, alta incerteza em torno da postura e âncora fiscal em 2023 e anos subsequentes. Além da alta de juros global e sinais do banco central americano de um ciclo de elevação de juros prolongado”, destaca Ramos. 

Outra instituição que alerta para o quadro interno é o Credit Suisse. Em relatório divulgado ao mercado, o banco destaca que o panorama inflacionário não está suficientemente controlado para que os juros comecem a cair. 

Tom mais duro no comunicado do Copom?

“O cenário doméstico de desinflação ainda apresenta desafios. Esperamos que o Copom diga que não houve grandes mudanças em termos de perspectivas para a inflação”, completa o documento.

Além disso, os analistas alertam para os impactos dos juros globais, que devem demandar cautela para os mercados emergentes. “Houve, no entanto, uma incipiente normalização nas cadeias de suprimentos e uma acomodação nos preços das principais commodities, o que deve levar a uma moderação das pressões inflacionárias relacionadas aos bens globais”, informa o relatório. 

Quem também alerta para os impactos do cenário internacional é Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil.

“O tom do comunicado e da ata devem vir bem duros, ressaltando além das variáveis exógenas do mercado internacional. Como a guerra entre Rússia e Ucrânia, que afeta o petróleo Brent e grãos. Há também a política de ‘Covid Zero’, somada a estímulos ao setor imobiliário, e protestos na China, mais juros elevados nos EUA, que vão agregar as preocupações do Comitê sobre as próximas reuniões”, frisa.

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Queda de juros nos próximos anos

Se de um lado a maioria dos analistas se concentraram na manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, outras instituições focaram nas projeções para 2023 e 2024. Esse é o caso da UBS, conforme o relatório assinado pelos economistas Alexandre de Azara, Fabio Ramos e Rodrigo Martins

“Nossa trajetória revisada da taxa Selic abrange cinco cortes sequenciais de 75 pontos-base para 2023 a partir de junho. Para 2024, sem pausa, esperamos quatro cortes de 50bp seguidos de dois cortes de 25 pontos-base. Isso deixaria a taxa Selic em 10% até o final de 2023 e 7,5% até setembro de 2024, que também é nossa expectativa de taxa de longo prazo, uma vez que a inflação teria convergido para sua meta de longo prazo de 3%”, afirmam.

Já o Santander destaca que continuam acreditando que qualquer desvio das projeções atuais (de estabilidade de taxa por um período prolongado) exige a materialização de uma realidade (e hipóteses) muito diferente do atual cenário econômico.

“Por enquanto, nós continuaremos a reduzir os juros apenas no segundo semestre do ano que vem, reduzindo a Selic para 12% no ano de 2023 — e acreditamos que o risco para a trajetória da taxa está enviesado para cima”, afirma Oreng.  

Contudo, o superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander destaca que o pontapé inicial para um eventual ciclo de flexibilização ocorrerá na quinta reunião do Copom de 2023 (agosto), não em junto.

“O resultado é uma revisão para cima de 25-50 pontos-base para a trajetória projetada da Selic de meados de 2023 ao final de 2024. Interpretamos essa mudança nas projeções como reflexo da potencial piora dos trade-offs para o Banco Central em meio a uma percepção de aumento fiscal risco.”  

Focus eleva projeções para 2022, mas prevê corte em 2023

O Boletim Focus divulgado ontem (5) mostra, pela sexta vez consecutiva, projeções maiores para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2022, estimando 5,92% de inflação no acumulado do ano.

Na semana anterior, estimava-se uma inflação de 5,91%. Já há quatro semanas, as projeções eram de 5,63%. A projeção dos economistas para a inflação segue acima da meta do Banco Central, de 3,5% para 2022.

Em relação a 2023, o Boletim Focus trouxe as seguintes projeções:

PIB: a projeção aumentou para 0,75%
– IPCA: a projeção aumentou para 5,08%
– Taxa Selic: a previsão dos juros aumentou para 11,75%
– Dólar: a previsão do câmbio segue em R$ 5,25
– Balança Comercial: a expectativa para o superávit saiu de US$ 56 bilhões para US$ 58 bilhões
– Investimento Estrangeiro Direto: a previsão segue em US$ 75 bilhões
– Dívida do Setor Público: a previsão saiu de 61% do PIB para 61,5% do PIB

Ainda sobre o próximo ano, é esperado que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a taxa de juros na reunião de agosto. As expectativas para os juros no fim de 2023, assim, caíram. Conforme o Boletim Focus, a projeção saiu de 11,75% para 11,50%.

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Janize Colaço

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