Copom eleva Selic a 14,75%, maior valor nominal em 19 anos
O Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, elevou a Selic em meio ponto percentual, para 14,75% ao ano. É o valor nominal mais alto da taxa básica de juros da economia brasileira em quase 20 anos — desde julho de 2006.

Foi a sexta alta consecutiva, em menor escala que as três anteriores, de 1 ponto percentual cada. Em comunicado divulgado após o fechamento dos mercados, no início da noite desta quarta-feira (7), o BC informou que a decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta de 3% ao longo do horizonte relevante.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, completou o Copom no comunicado. A decisão foi unânime entre os nove diretores e seguiu o esperado pela maioria dos analistas de mercado.
O comitê informou que enxerga um ambiente externo adverso e “particularmente incerto” em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de sua política comercial do presidente Donald Trump, que está revendo as tarifas de importação de produtos, numa atuação vista como protecionista.
“A política comercial alimenta incertezas sobre a economia global, notadamente acerca da magnitude da desaceleração econômica e sobre o efeito heterogêneo no cenário inflacionário entre os países, com repercussões relevantes sobre a condução da política monetária”, diz o texto.
Sobre o cenário doméstico, o BC diz que o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado dinamismo, ainda que possa se observar uma “incipiente moderação no crescimento”. Sobre a inflação, o Copom destaca que, nas divulgações mais recentes, os números cheios seguem acima da meta.
Já sobre a próxima reunião, o Copom preferiu não se comprometer com nova alta da Selic. “O cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, diz o texto.
Selic a 14,75%: o que diz o mercado
Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, vê de forma positiva o fato de ter sido uma decisão unânime entre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e os outros oito diretores que compõem o Copom. Também destacou o fato de o comunicado abordar a questão das tarifas comerciais e o risco de uma desaceleração econômica de alcance global.
“É um fator que gera uma incerteza maior, e o comunicado trouxe essa novidade, que é o preço de commodities mais baixo para esse balanço de riscos do Banco Central. Os preços das commodities vieram para baixo, e isso tem um impacto desinflacionário”, apontou o analista, que projeta uma nova elevação de 25 pontos-base na reunião de junho, para encerrar o processo de alta com a Selic a 15%.
A Manatí, gestora de fundos, acredita que o cenário de aperto monetário tende a persistir por um longo período. “Enquanto não houver também uma indicação clara advinda da atividade econômica ou arrefecimento da inflação no horizonte relevante da política monetária, o Banco Central deve continuar exercendo o seu papel e levando a política monetária para patamares cada vez mais restritos”, diz a empresa.
Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos, acredita que o tom adotado pelo Copom foi “dovish”, ou seja, menos restritivo. “Ele deixa claro que nós estamos numa convergência mais calma de inflação, por isso acredito na taxa de juros inalterada, pelo menos para as próximas duas reuniões”, projeta o economista.
Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos, acredita que um aspecto relevante da comunicação foi a mudança no balanço de riscos para a inflação. “Em março, o comitê indicava uma assimetria altista; agora, reconhece a existência de elementos tanto de baixa quanto de alta, e de maior intensidade”, aponta o analista.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, acredita que a elevação da Selic vai impactar diretamente a atividade econômica, com tendência a reduzir o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). “Juros altos encarecem o crédito, reduzem o apetite por consumo e travam o planejamento das empresas. O impacto no PIB é direto: com menos investimento por parte das empresas e consumo das famílias em queda, o crescimento da economia desacelera”, aponta o executivo.