Mauro Morelli

Inflação: o passado nos mostra o caminho

A inflação é hoje um dos principais riscos na retomada da economia mundial, em companhia ao surgimento de novas variantes do vírus da COVID19.

O risco inflacionário tem crescido mundialmente. O combate à crise econômica decorrente da pandemia trouxe uma injeção de liquidez nunca vista. O balanço do Fed (Federal Reserve), banco central norte americano, alcançou inacreditáveis US$ 8 trilhões. Como colocou o reconhecido economista Milton Friedman, “a inflação é sempre um fenômeno monetário”. Era, portanto, razoável se imaginar que um dos efeitos colaterais dessa enorme liquidez seria um crescimento da pressão inflacionária, mesmo que passageira.  

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A pandemia também trouxe vários gargalos na linha de produção de empresas com logística espalhada por uma economia globalizada. O exemplo mais conhecido é a falta de chips eletrônicos que compromete a produção de carros novos. Com uma oferta menor de carros novos, o preço dos carros usados reagiu rapidamente pressionando a inflação em alguns países, como os Estados Unidos.

A inflação é hoje um dos principais riscos na retomada da economia mundial, em companhia ao surgimento de novas variantes do vírus da COVID19.

No Brasil, a situação é ainda mais preocupante devido aos fatores locais e, principalmente, ao nosso histórico de conviver com uma alta inflação. Entre os fatores locais, ressalto a crise hídrica, que eleva os preços da energia elétrica e o valor depreciado da nossa moeda o REAL, que eleva preços das commodities, entre eles, os alimentos.

A história nos mostra que o remédio para a inflação passa por um aumento dos juros. O Brasil e outros países emergentes já começaram esse processo. Países desenvolvidos estão realizando esse ajuste com números inflacionários um pouco menores, mas principalmente por terem um histórico mais vencedor de combate à inflação. Essa credibilidade traz benefícios importantes em momentos como esse.

Investidores com preocupações inflacionárias crescentes buscaram ativos atrelados ao IPCA, entre eles a NTN-b. Essas preocupações são totalmente legitimas, principalmente, quando percebemos que nos últimos 12 meses terminados em agosto 2021, tivemos um CDI acumulado abaixo de 3% para um IPCA de praticamente 10%. Uma perda de poder de compra de superior a 7% em 12 meses! Mas, infelizmente, os retornos das aplicações em NTN-b tem sido muito frustrantes.

O índice IMAB, que se propõe a representar uma carteira investida em uma cesta de títulos públicos atrelados ao IPCA, teve um retorno negativo de 2,1% no ano de 2021comparado com um IPCA acumulado de 5,7 no mesmo período encerrado em agosto. O que houve?

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A resposta passa pelo aumento da taxa Selic, e o consequente aumento do juro real, causado pelo Comitê de Política Monetária – o COPOM. A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, saiu de históricos 2% ao ano e deve atingir 8% ao ano até o final do ano de 2021. Esse aumento nominal dos juros também impactou os juros reais, ou seja, os juros que são pagos acima da inflação.

A NTN-b com vencimento em 2026 poderiam ser compradas em janeiro 2021 a IPCA+2,3% ao ano. Em agosto de 2021, o mesmo papel poderia se comprado a IPCA+4,4% ao ano. Um aumento de juros reais de 2,1% ao ano. A arrasadora maioria do ativos pós-fixados tem essa característica: uma parte da rentabilidade vem da parte “pós-Fixada” (no caso, IPCA) e outra parte, não menos importante, vem da parte já determinada (no caso, o juro real de 2,3% em janeiro 2021). O juro real, a parte determinada no ato da compra do ativo, também sofre com as oscilações do mercado financeiro.

Com isso, um aumento do juro real praticado pelo Banco Central do Brasil tem um impacto negativo no preço atual da NTN-b. A grosso modo, uma alta de 2,1% ao ano em um ativo com prazo médio de 4 anos tem uma perda superior a 7% no preço atual desse ativo. 

Concluindo, o combate à inflação levou o COPOM a subir os juros nominais e, por consequência também, um aumento dos juros reais. Esse aumento de curto prazo dos juros reais levou os ativos indexados ao IPCA a pagarem juros reais equivalentes à nova realidade brasileira. Esse ajuste de juros reais, pressionaram o preço atual das NTN-b consumindo todo o benefício da alta da inflação no curto prazo.  Com isso, a rentabilidade anual das NTN-b ainda não representa todo o rendimento desse título, pois uma parte significativa foi postergada devido ao aumento dos juros reais. Então, o que fazer com esse prejuízo de curto prazo?

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Como um título de renda fixa, caso não exista a quebra do emissor, a NTN-b vai render ATÉ O VENCIMENTO, os parâmetros definidos no ato da compra. Uma rentabilidade menor em um período inicial significa uma rentabilidade maior no restante do período para que na média tenhamos os parâmetros iniciais. Por tanto, quem comprou uma NTN-b a IPCA+ 2,3% ao ano no início de , pois acreditava ser um bom investimento, não tem motivo nenhum para não gostar desse mesmo ativo a 4,4% ao ano. 

O passado mostra que o momento de compra de um ativo é menos relevante que os fatores que levaram à decisão de compra. O racional de compra da NTN-b era correto no início de 2021 e permanece sendo um ótimo investimento. Realizar prejuízos em um ativo no curto prazo quando os fundamentos continuam sólidos não é uma política recomendada para nenhum investidor. 

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Nota

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Mauro Morelli
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