Luciano Costa

O ajuste fino dos juros pelo Fed e as incertezas para 2023

Em 2023, a discussão passa a ser o ajuste fino do ciclo, visto que grande parcela do aperto de juros já ocorreu

O ano de 2022 tem sido cercado por desafios e o cenário que se apresenta para 2023, especialmente para o mercado doméstico, não parece ser dos mais brandos. Ainda que o mundo tenha avançado em questões relacionadas à pandemia, precisamos que alguns elementos se confirmem para que a economia global respire no próximo ano.

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Nos Estados Unidos, se aproxima o momento no qual o Federal Reserve (Fed) reduzirá o ritmo de aumento dos juros. Nas últimas reuniões do comitê de política monetária, os Fed Funds foram elevados em 75 bps, mas agora essa taxa de ajuste deve ser da ordem de 50 bps na reunião de dezembro para encerrar o ano em 4,5% a.a.

Em 2023, a discussão passa a ser o ajuste fino do ciclo, visto que grande parcela do aperto de juros já ocorreu. Nossa expectativa é que o Fed encerre o ciclo com a taxa dos Fed Funds em 5,25% a.a., o que demandaria altas de juros de 50 e 25 bps, respectivamente, nas reuniões de fevereiro e março de 2023.

Esta questão é fundamental, pois a partir do momento no qual há a sinalização de fim de ciclo, o mercado começa a ter melhores condições de avaliar e responder de maneira organizada às percepções de juros. E, por consequência, a volatilidade dos ativos tende a se acomodar em intervalos mais bem comportados.

Em outras palavras, este movimento ajuda a diminuir a pressão negativa sobre a visão dos agentes econômicos e, com isso, a tendência é de que não haja grandes reavaliações dos preços dos ativos, em especial, na curva de juros e na taxa de câmbio.

Por outro lado, o grande receio de uma recessão profunda na economia norte-americana começa a diminuir e o cenário de soft landing passa a ganhar maior probabilidade. Nossas projeções mostram o PIB em ligeira queda no segundo e terceiro trimestre do ano que vem, mas, no resumo do ano, há expectativa de crescimento de 0,8%.

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Outra questão não menos importante diz respeito à China. O país tem reduzido as restrições sanitárias da Covid. Há muita discussão sobre as idas e vindas do governo chinês em torno da política de Covid zero, mas também existem várias notícias recentes sobre investimentos em capacidade vacinal e ampliação do número de UTIs disponíveis para a população.

Com isso, as autoridades chinesas se preparam para uma reabertura da economia, que deve ocorrer em meados de fevereiro de 2023, após o ano novo do país. Esta é uma boa notícia para o mundo, uma vez que também existem medidas de estímulo para a atividade, em especial, no setor imobiliário e de infraestrutura, fundamentais para o crescimento do país asiático em 2023.

Em nosso cenário, caso esses dois movimentos se confirmem, poderemos ver um crescimento da ordem de 5,5% na China, o que, sem dúvidas, deve favorecer o Brasil por causa do aumento na demanda por commodities, como grãos, minério de ferro e petróleo.

Contudo, e para aproveitar o gancho, a perspectiva brasileira para 2023 segue muito condicionada a dois pontos fundamentais: PEC da Transição e Equipe Econômica.

A grande dúvida em relação à questão orçamentária diz respeito ao formato. Questões sobre como a flexibilização do teto se dará e o tamanho (o que fica dentro ou fora do teto) ainda não foram respondidas e, por isso, temos visto uma forte volatilidade nos ativos domésticos.

O outro elemento, conforme apontado acima, diz respeito ao nome do novo ministro da Fazenda. A ideia aqui não é lançar um olhar sobre os nomes dos cotados para o cargo, mas, sim, comentar a importância de uma definição para o país.

Ao estabelecer a nova equipe da economia, o governo sinalizará um norte para a gestão da política fiscal, o que ajudará o mercado a ter um ponto de ancoragem para produzir uma dinâmica mais favorável das expectativas e dos preços dos ativos.

Em outras palavras, precisamos apresentar uma estratégia para a âncora fiscal que seja factível e tenha credibilidade. O objetivo primordial deve ser manter a trajetória da dívida pública estável num horizonte de médio prazo, o que exige a busca por superávits primários recorrentes nos próximos anos.

Avaliamos que qualquer que seja o plano fiscal apresentado, o compromisso com a geração de superávits primários na faixa de 1% a 2% do PIB a partir de 2024 é o requerido para coordenar as expectativas e tornar crível a política fiscal.

A grande questão é que, se não houver uma sinalização neste sentido, entraremos em um cenário de muita incerteza.

Com isso, o ciclo de aperto de juros pelo Banco Central pode ser retomado diante desses problemas. Os impactos sobre o prêmio de risco e, por consequência, a depreciação da taxa de câmbio juntamente com deterioração das expectativas inevitavelmente elevarão a inflação e causarão sérios danos à atividade econômica brasileira. É esperar para ver.

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Nota

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Luciano Costa
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