Julio Hegedus Netto

Em semana de Fed e Copom, China preocupa os mercados

Medo de contágio da crise no setor imobiliário chinês empurra commodities e bolsas para baixo

Semana de decisão de política monetária nos EUA, no Brasil, e em outros países, mas o mercado de olho na China, com a instituição imobiliária Evergrande recuando forte no mercado acionário (-18,9% hoje). Preocupação maior é levar junto outras instituições, no CHAMADO “efeito contágio”. Não sabemos se a empresa tem como honrar suas dívidas, calculadas em torno de US$ 300 bilhões. Muito se comenta que a falência da empresa pode colocar os mercados em situação semelhante à do Lehman Brother de NY, em 2008. Algumas seguradoras e imobiliárias chinesas acabarão penalizadas. Será importante, no entanto, que o Banco Popular da China injete mais recursos no sistema (obs. hoje é feriado na China).

Segundo a Goldman Sachs, “a atividade imobiliária segue derretendo. Caiu drasticamente em julho e enfraqueceu ainda mais em agosto”. Há dúvidas sobre a capacidade de financiamento para outras incorporadoras. O governo chinês parece atento e deverá realizar um processo cuidadoso de saneamento, limitando o contágio. Isso terá que demandar maior transparência nas suas decisões, para que a “confiança” seja restabelecida.

Pelas últimas informações, o governo não teria intenção de salvar a instituição (deixaria falir), mas se este “efeito contágio” se confirmar, inevitável será esta intervenção. Objetivo aqui é evitar o risco sistêmico, quando um canal de transmissão intenso quebraria várias instituições e colocaria o sistema financeiro chinês em risco.

Vale lembrar que o setor imobiliário chinês demanda também commodities, o que explica o mergulho do minério de ferro por estes dias. Esta cadeia de suprimentos responde por mais de 25% da produção econômica chinesa. Nesta sexta-feira, o minério de ferro era negociado abaixo de US$ 100 a tonelada.

Sobre a Evergrande, segue pagando seus débitos com imóveis, mas muitos reclamam. São mais de 70 mil investidores. A construção de propriedades inacabadas representa três quartos de Manhattan, por exemplo, mais de um milhão de compradores no limbo. Dois títulos de dívida pesados vencem nesta quinta-feira e já se comenta que a negociação terá que ser feita em default, com a empresa honrando até 30% do valor de face. Em resposta, o Banco Popular da China já injetou US$ 14 bilhões no sistema financeiro, no esforço de evitar o pânico. Pelo comportamento da bolsa Hang Seng, hoje não conseguiu.

Enquanto isso, credores da Evergrande – Agricultural Bank of China, Minsheng Banking Corp, entre tantos – seguem fazendo provisões para perdas de empréstimos, cortes de exposição e preparativos para rolagens de vencimento de dívidas.

Nas decisões do Copom e do Fed, nesta semana

O Comitê de Política Monetária (Copom) brasileiro deve sancionar parte das expectativas e elevar a Selic, de 5,25% para 6,25%, na reunião desta semana. A inflação segue pressionada, e a crise hídrica voltou a preocupar, depois da falta de luz em alguns estados do país neste final de semana. O objetivo, porém, é trazer a inflação do ano que vem para o range do sistema de metas de inflação, mais próxima de 3,5%. Isso posto, acreditamos na Selic próxima a 9,5%, para responder a um IPCA em torno de 9% (12 meses a 9,5%). Nas próximas reuniões, em outubro, dezembro e fevereiro, acreditamos que o Bacen MANTENHA a intensidade de ajustes, talvez 0,25 ponto a mais, para fechar no patamar previsto (9,5%).

Nos EUA, parece que a tese da “inflação transitória” venceu. No entanto, é de se esperar que o tapering tenha início entre o fim deste ano e o início do próximo, com a elevação da Fed Funds para depois.

O Índice de Sentimento do Consumidor de Michigan, passou de 70,3 para 71 na leitura preliminar de setembro, abaixo dos 72 esperados pelo mercado.

MERCADOS

O derretimento do mercado chinês acendeu um sinal de alerta para o resto do mundo. Europa, EUA, Brasil, devem operar em forte queda nesta segunda-feira, dia 20.

Na semana passada, Ibovespa recuou em mais uma, a terceira, perdendo 2,5%, a 111,4 mil pontos. Na sexta-feira, a queda foi de 2,0%, com volume financeiro de R$ 44,6 bilhões. Foi o menor patamar desde 9 de março. Lembremos que foi dia de vencimento de opções, o que inflou o volume. Em paralelo, o dólar subiu 0,33%, a R$ 5,282. Na semana, a moeda americana ganhou 0,28% contra o real, e no mês 2,2%. No ano, cotação está 1,85% mais valorizada.

Nesta madrugada (05h05), dia 20/09, na Ásia, o temor de colapso da gigante Evergrande (-18,9%), cobra o seu preço. O mercado chinês operou em QUEDA forte. Nikkei +0,58%, a 30.500 pontos; KOSPI, na Coréia do Sul, +0,33%, a 3.140 pontos; Shanghai, +0,19%, a 3.613 pontos, e, -3,39%, a 24.077 pontos.

Índice Hnag Seng de Hong Kong

Índice Hang Seng de Hong Kong

Nesta madrugada do dia 20/09, na Europa (04h05), nos futuros os mercados operavam em QUEDA forte. DAX (Alemanha) recuando 1,73%, a 15.221 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), -1,13%, a 6.885 pontos; CAC 40 (França), -1,72%, a 6.457 pontos, e EuroStoxx50 -1,66%, a 4.062 pontos.

Nos EUA, as bolsas de NY no mercado futuro, operavam às 05h05, dia 20/09, da seguinte forma: Dow Jones recuando 1,37%, a 32.990 pontos, S&P 500, -1,03%, a 4.376 pontos, e Nasdaq -0,97%, a 15.184 pontos. No mercado de Treasuries, US 2Y recuando 1,86%, a 0,2218, US 10Y -1,97%, a 1,343 e US 30Y, -1,68%, a 1,878. No DXY, o dólar avançava 0,19%, a 92,352. Petróleo WTI, a US$ 70,84 (-1,36%) e Petróleo Brent US$ 74,50 (-1,11%).

Na agenda desta semana, como destaque as decisões de política monetária do Fed e do Copom na quarta, e do Banco da Inglaterra na quinta-feira. Terça-feira temos a OCDE divulgando as projeções de crescimento das economias do G-20. Neste dia ainda os indicadores PMI dos EUA e Zona do Euro. No Brasil, destaque para o IPCA-15 na sexta-feira, contas externas e reunião da ANEEL sobre bandeira tarifária na quinta-feira. Jerome POWELL, do FOMC Fed, fala na quarta-feira sobre política monetária. Já são 90% os que acreditam na sua recondução ao fim deste ano.

Nota

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Julio Hegedus Netto
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