BizCapital mira carteira de R$ 1 bilhão em 2022 e usa tecnologia para mudar crédito

Nem todo empreendedor começa seu negócio com capital suficiente para manter as contas. O acesso a crédito é uma das maiores dores dos pequenos empresários no Brasil. Com esse cenário, a BizCapital, que nasceu em 2016, quer triplicar sua carteira e chegar a R$ 1 bilhão em crédito concedido no ano que vem.

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A fintech faz uso intensivo de tecnologia e gerencia de milhares de dados e variáveis para facilitar o acesso a crédito exclusivamente a pequenos e médios empreendedores (PMEs). Segundo Francisco Ferreira, CEO da BizCapital, esse público ainda é muito mal atendido pelos grandes bancos.

No ano passado, a empresa captou R$ 85 milhões em rodadas de investimento e pensa em realizar mais uma captação, pois o segmento demanda capital intensivo.

Enquanto isso, a BizCapital se prepara para a chegada do open banking, que certamente impulsionará ainda mais os negócios da companhia.

Confira os principais trechos da entrevista do Suno Notícias com o executivo.

Conte um pouco do histórico e das inspirações da BizCapital.

O que nos ajudou a fundar a Biz em 2016 foi nosso histórico empreendedor. Temos esse background e uma das coisas mais traumáticas era o relacionamento com bancos. Sempre foi muito difícil conseguir crédito, por exemplo.

E então, eu e meu sócio, pensávamos: “não é possível que isso precise ser tão difícil assim”. Era necessário ter acesso a produtos financeiros sem burocracia.

Naquele ano, esse mundo de fintechs ainda estava se aquecendo e acompanhamos de perto, pois sempre trabalhamos com tecnologia.

Vimos uma oportunidade enorme de fazer algo para ajudar o empreendedor a não gastar tanto tempo com banco, gastar tempo e dinheiro com burocracias. Tomar crédito sempre foi o maior dos problemas relacionados a isso. Essa foi nossa maior inspiração.

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Então começamos dando crédito on-line para pequenas empresas e, aos poucos, estamos expandindo a criação de produtos e soluções de pagamento.

A nossa visão de médio e longo prazos é ser uma plataforma de serviços financeiros bem abrangente que possa ajudar pequenos empreendedores.

Nesse sentido, recentemente a empresa lançou o MaisBiz, buscando concorrer com o cheque especial tradicional.

A ideia do MaisBiz surgiu no final do ano passado, resultado de uma vontade nossa de criar um produto que fosse como um “crédito instantâneo”. Com o cliente simplesmente apertando um botão e tendo acesso a uma linha de crédito.

Para ter acesso ao recurso, o cliente precisa abrir uma BizConta. A empresa tem um limite disponível para pagar boletos e quitar esse valor em até 30 dias. Ao utilizar o MaisBiz, o empreendedor pagará juros remuneratórios e tributos (IOF), de modo que o custo efetivo total (CET) da oferta será de 5% ao mês.

O nosso modelo comum é bem mais rápido que o usual, mas ainda exige o envio de documentação. Procuramos atrelar a facilidade à conta digital dos nossos clientes. Essa foi a nossa motivação inicial.

Conversando com clientes e fazendo pesquisas de mercado, percebemos que o cheque especial ainda é um dos produtos mais rentáveis dos bancos — o que por si só já é um oceano azul de oportunidades. 

Em segundo lugar, percebemos que uma das grandes queixas dos usuários do cheque especial é que ele é como se fosse um cheque em branco. Você paga uma taxa mensal, mas no fim você não sabe exatamente quanto está pagando no total. 

Então criamos um produto que é de tão fácil acesso como o cheque especial, mas que também dá visibilidade para o cliente. Montamos a MaisBiz com a visão de agilizar a vida das pequenas empresas.

Além de ser mais barato que o restante do mercado, a cobrança de juros no MaisBiz é muito mais transparente, pois o uso é por um determinado período de tempo. O pagamento ocorre em função do uso, como pagamento de um boleto próximo do vencimento, adiando-o em 30 dias, por exemplo. 

Obviamente, o cliente precisa ser aprovado para a abertura da Biz Digital. Com o acesso à conta digital, ele poderá usufruir da ferramenta. 

A pandemia foi dura para os pequenos empreendedores. Como a BizCapital sentiu esse impacto?

No início, a pandemia foi uma loucura para nós. Como atuamos com PMEs, houve grande preocupação com os lockdowns estipulados pelos governos. Tivemos, sim, um aumento na inadimplência, mas também um crescimento da procura por renegociação.

A partir de julho e agosto do ano passado, a situação se normalizou. Conseguimos acompanhar de perto empresas se reinventando e fazendo a economia girar, o que foi muito legal. 

Durante a segunda onda da pandemia neste ano, ali por volta de abril, o impacto para a BizCapital foi menor.

Tivemos uma segunda onda de inadimplências também, mas menos relevante que no ano passado, pois as empresas estavam mais preparadas. O que aconteceu neste ano foi infinitamente melhor que no ano passado.

Nossos indicadores de crédito e inadimplência, hoje, estão melhores que no pré-pandemia. Nossa carteira está na ordem de R$ 320 milhões atualmente, visando passar de R$ 1 bilhão em 2022.

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Mas, com certeza, foram momentos desafiadores e nos reinventamos e voltamos a crescer. Somos três vezes o tamanho de 2019 em termos de volume.

Agora, as atenções estão voltadas à expansão de portfólio, ampliando as soluções para nossos clientes. No início de 2021, passamos a oferecer soluções de pagamento diversas; no segundo trimestre lançamos a emissão de boletos para que as empresas pudessem realizar cobranças; e agora o MaisBiz.

Em via de ser colocado em prática, o open banking gera expectativa no setor financeiro. Qual é a importância da ferramenta para a Biz?

Open banking é o core do nosso negócio. Apesar da ferramenta ainda não existir de fato, na nossa visão sempre fizemos “open banking”, ou seja, sempre fomos uma plataforma de crédito que atuou com clientes independentemente do banco que ele utiliza.

Não utilizamos exatamente a mesma tecnologia que está sendo implementada no open banking, mas já tínhamos um processo de upload de extratos bancários para análise dos nossos clientes.

Já extraímos mais de R$ 15 bilhões em recursos dos clientes em seus documentos. Nosso sistema consegue ler extratos de 49 bancos diferentes do Brasil. Isso será parte do open banking, também.

Mesmo assim, a partir dos próximos meses tudo vai ficar mais fácil. Bastará clicar em um botão e tudo será feito automaticamente. Isso será uma catapulta para o nosso modelo de crédito, pois acreditamos muito na liberdade dos clientes em escolher o acesso a produtos financeiros, independentemente de bancos.

Para onde vocês enxergam a BizCapital caminhando nos próximos anos? Tem espaço além de PMEs?

Não vejo a Biz fora do segmento de PMEs. Acreditamos que ainda temos muito o que fazer em termos de mercado endereçável e formulação de produtos para esse público. Eu creio que esse segmento é o menos bem atendido pelo mercado. 

Temos um roadmap grande para colocar em prática. Além das iniciativas do open banking, estamos planejando nosso cartão de crédito. Ao menos nos próximos anos, continuaremos nesse nicho.

O negócio demanda uso intensivo de tecnologia. Fale um pouco da relação da empresa com a AWS.

A Amazon Web Services (AWS) é quase o coração da BizCapital. Seria capaz de nunca termos existido sem eles.

Gosto de pontuar que o negócio de crédito é bastante sofisticado do ponto de vista de tecnologia, pois o volume de dados que você trata é muito grande.

Por exemplo, para cada empresa em que analisamos, geramos mais de duas mil variáveis, com o objetivo da criação de modelos para a concessão de crédito.

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Tudo isso precisa ser armazenado em banco de dados, então a BizCapital tem um trabalho muito forte com a AWS, sobretudo nessa parte de analytics. A tecnologia da Biz, que é a nossa capacidade de gerar algoritmos para tomar decisões, é baseada nos dados da AWS.

Outra coisa que nos ajuda bastante é a base de armazenamento de arquivos. Toda essa parte de conheça seu cliente (KYC, na sigla em inglês) através de documentos é realizada com eles. 

E, por fim, a parte de inteligência artificial, como a extração de dados de documentos que os clientes enviam, também é fornecida pela AWS. Nossa estrutura sem eles não funciona. Tão simples quanto isso. Desde o dia 1.

Como toda startup, o upside é grande, mas também existem riscos.

Falando em risco, o mercado de crédito já é arriscado por si só. Depende do desempenho da economia, sendo que o Brasil é muito incerto. Em caso de crise, pode haver inadimplência. 

Também acompanhamos de perto a incidência de fraudes. Temos diversos mecanismos de identificação para mitigar esse crime, o qual todo dia aprendemos alguma coisa. O brasileiro é muito criativo.

O segredo para lutar contra fraudes, seja aqui ou em qualquer outra empresa, é nunca ficar parado.

Sempre precisamos criar novos processos para mitigar os riscos. São esses os dois pontos que vemos como potenciais resistências para nossa operação. 

Em termos de concorrência, os nossos maiores competidores são os grandes bancos, sobretudo os cinco maiores:

Eles ainda são as que mais concedem crédito para PMEs. Mais de 85% do segmento é concentrado nessas instituições.

Enquanto isso, algumas outras adquirentes também estão entrando no segmento com a abertura de contas digitais e linhas de crédito.

Qual é a expectativa da BizCapital frente à novas captações de recursos e acesso ao mercado de capitais?

Hoje já temos FDICs que operam na plataforma, então já temos acesso ao mercado de capitais. Mas no que se refere à captação de recursos, sempre estamos em conversa com investidores. 

Em breve devemos realizar uma nova captação, maior do que a passada, uma vez que nosso negócio demanda muito capital. Ainda não temos como precisar o valor e o momento, mas está no planejamento. 

A BizCapital está terminando o período de investimento do capital levantado no ano passado, então não temos um valor em mente. Mas nosso pipeline está aberto para conversas e devemos intensificar esse processo mais para frente.

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Jader Lazarini

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