Por que Biden vai manter a política comercial dos EUA contra a China

Pela primeira vez desde 1979 a representante de Taiwan nos EUA foi convidada em uma tomada de posse de um Presidente dos Estados Unidos. E foi na última quarta-feira (20) durante a inauguração do mandato de Joe Biden.

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A enviada de Taiwan, Hsiao Bi-khim, partilhou uma fotografia sua na cerimónia de quarta-feira, dizendo que tinha “a honra de representar o povo e o Governo de Taiwan na tomada de posse do Presidente, Biden, e da vice-Presidente, Harris”.

Obviamente a China, que considera Taiwan uma “província rebelde”, e que nunca desistiu de reanexar a ilha, não gostou dessa história.

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E todo o mundo que torceu para Biden acabar com a guerra comercial de Donald Trump também ficou um pouco preocupado.

Vitória de Biden não muda rumo da política dos EUA

A vitória do candidato democrata na eleição de novembro passado não vai marcar uma mudança radical da política comercial dos EUA.

Biden não vai ter a abordagem antagônica e muscular de Trump em relação a China. Além disso, falcões como Robert Lighthizer, que levou à paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC), não vai mais cuidar da política comercial dos EUA.

No entanto, existem muitas incógnitas. Para começar, o governo Biden poderá não ter o comércio internacional no topo de sua agenda.

Os Estados Unidos, como o resto do mundo, estão no meio de uma recessão histórica. Isso vai obrigar o governo a curar as feridas deixadas pela pandemia em primeiro lugar, e somente em seguida se dedicar ao comércio mundial.

Acima de tudo, Washington não deixará de defender os seus interesses com determinação em um momento em que a economia tem que retomar o quanto mais rápido possível após a catástrofe do novo coronavírus (covid-19).

Dessa forma, Biden promete que “o objetivo de qualquer decisão comercial deve ser fortalecer a classe média americana, criar empregos, aumentar salários e fortalecer comunidades”.

As propostas econômicas de Biden incluem tratamento preferencial para produtos fabricados nos Estados Unidos, uma longa lista de subsídios às indústrias nacionais e a exclusão de empresas estrangeiras das compras públicas.

Práticas protecionistas, que geralmente levam a conflitos e retaliações internacionais.

“Compre Americano”

Assim como Trump, Biden também quer um programa para “Comprar Americano”.

Durante a campanha eleitoral, o então candidato democrata declarou que seu governo “não vai comprar nada que não seja produzido na América”.

Cerca de US$ 400 bilhões (cerca de R$ 2,2 trilhões) serão investidos em infraestrutura construída nos Estados Unidos e tecnologias de energia limpa.

E outros US$ 300 bilhões serão gastos para a criação de empregos altamente qualificados. Algo que colocaria empresas estrangeiras fora do mercado.

Mesmo assim, é algo muito popular. Segundo as pesquisas de opinião, 75% dos americanos gostam das políticas “Compre Americano”.

Além disso, o programa do Partido Democrata indica claramente a necessidade de oferecer incentivos públicos para que as empresas tragam cadeias de suprimentos de volta aos EUA – o chamado “reshoring” – em setores como equipamentos médicos, semicondutores e telecomunicações.

E existe também um projeto de lei suprapartidário, apoiado seja pelos republicanos que pelos democratas, que prevê US$ 25 bilhões para trazer a produção de semicondutores de volta aos Estados Unidos.

Uma série de medidas que não são exatamente um hino ao livre mercado.

Tensões com a China continuarão

O reshoring e o programa “Compre americano” vão continuar mantendo tensas as relações com a China.

Durante a campanha eleitoral Biden acusou Pequim de “atacar a criatividade americana”, roubando propriedade intelectual, realizando ataques cibernéticos e concedendo subsídios injustos para suas empresas.

E dentro do próprio Partido Democrata há deputados e senadores ainda mais duros do que o governo Trump contra Pequim.

Houve casos em que a Casa Branca foi acusada de ser muito “complacente” com a China, por ocasião da trégua comercial assinada no início do ano passado.

É com essa frente interna democrata que Biden vai ter de lidar, mesmo que quisesse suspender algumas das tarifas alfandegárias aprovadas por Trump, que hoje pesam sobre três quartos das importações provenientes da China.

Além disso, no programa eleitoral de Biden há um plano de US$ 350 bilhões “para enfrentar a ameaça clara e atual que a China representa para nossa prosperidade econômica e segurança nacional”.

Esses recursos vão ser utilizados para responder ao desafio lançado por Pequim com o plano “Made in China 2025”.

O orçamento vai permitir criar empregos qualificados em setores como

  • veículos elétricos
  • 5G
  • redes móveis
  • inteligência artificial
  • energia renovável

Em suma, mesmo com a vitória de Biden, as relações entre Estados Unidos e China não mudarão de rumo. Muito pelo contrário, nos aguardam outros quatro anos de contrastes fortes entre as duas principais economias do mundo.

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Carlo Cauti

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