Grandes bancos têm lucro recorde, mas qualidade é pressionada por bancos digitais

As últimas duas semanas foram recheadas de balanços corporativos das empresas listadas na B3, e os grandes bancos se destacaram. Embora os lucros somados no primeiro trimestre tenham superado 2019 e 2020, analistas do mercado alertam para a qualidade e origem desses resultados. Segundo eles, as dificuldades das grandes instituições financeiras mostram que a concorrência digital está cada vez mais acirrada.

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O setor bancário no Brasil, por mais que seja considerado avançado, tem registrado a entrada de novos competidores nos últimos anos, como Nubank, Inter e C6 Bank. Com o avanço das plataformas digitais, as novas instituições têm chegado ao mercado com uma proposta mais barata, o que tende a impactar uma fatia relevante dos números dos bancos: a receita de serviços.

A receita com a prestação de serviços do Itaú (ITUB4) caiu 2,8% no primeiro trimestre, para R$ 10,9 bilhões. O Bradesco (BBDC4) registrou uma baixa de 2,6%, para R$ 8,06 bilhões na mesma linha de negócio.

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Esse é ponto de atenção dos investidores: a qualidade do resultado. Com a receita de serviços caindo, que é muito relevante para a rentabilidade dos bancos, de onde vem o crescimento do lucro? De acordo com a XP, na maior parte dos casos, o resultado foi impulsionado por itens que não devem ser muito relevantes nos próximos anos.

Na margem financeira do Itaú, por exemplo, a receita líquida de juros (NII) veio da tesouraria, considerado um segmento menos sustentável. “À medida que a concorrência aumenta e os reguladores se tornam mais agressivos, acreditamos que o consumo de cobertura e os resultados de tesouraria sejam menos relevantes para as perspectivas do setor.”

Comportamento dos bancos muda, mas mostra riscos

Vale notar que os bancões não estão parados vendo a cavalaria dos menores passar. A maior parte da abertura de novas contas está sendo realizada por meio de canais digitais. Isso separa a interpretação do mercado de três formas.

A primeira é que os bancos estão, sim, querendo competir. A segunda, por outro lado, diz que isso implica em menor faturamento, pois a cobrança para manutenção de conta, por exemplo, tende a desaparecer. A terceira é que isso demonstra o tamanho do mercado alvo dos bancos digitais, podendo “roubar” esse público dos grandes bancos.

“No curto prazo, pode parecer que as instituições estão se mexendo – como de fato estão – mas também mostra que os bancos que já nasceram digitais têm um mercado imenso a conquistar”, disse Vitor Miziara, sócio da Criteria Investimentos, ao SUNO Notícias.

O Santander (SANB11) é um dos dos destaques dos bancões na inovação digital. Os canais portal institucional, aplicativo Santander, WAY e internet banking recebem 484 milhões de acessos mensais. Em março deste ano, 57% da abertura de novas contas foi feita por meios não presenciais.

“O banco segue centrado no cliente, focado na redução dos gastos, na adequada gestão dos riscos, na melhora de eficiência e de produtividade”, diz a corretora Planner.

A corretora tem recomendação de compra para as ações do Santander, com preço-alvo de R$ 50 por unit, um upside de quase 30%. Para o Itaú, o alvo é de R$ 35, enquanto o preço justo atribuído ao Bradesco é de R$ 30.

Corte de custos incompatível com horizonte concorrencial

Para fazer frente aos concorrentes mais enxutos, os grandes bancos têm prometido otimizar suas operações, seja com o fechamento de agências ou então a diminuição do número de funcionários. O primeiro trimestre, contudo, mostrou desenhos diferentes.

O Itaú aumentou em quase 2% o número de funcionários no primeiro trimestre, para pouco mais de 97 mil. As despesas gerais e administrativas dispararam 28% em comparação ao mesmo período de 2020, para R$ 16,5 bilhões. As agências físicas, por outro lado, caíram 3,9%, para 4,13 mil. O banco não abriu mais nenhuma agência digital, permanecendo com 195.

“Acreditamos que o Itaú poderia ter um melhor desempenho, especialmente nas despesas de pessoal, que cresceram 6% anualmente”, disse a XP em relatório. A corretora entende que a instituição está “ficando para trás de seus pares privados” nessa empreitada de corte de custos. A dificuldade de execução era esperada pelos investidores, já que se trata do maior banco do Hemisfério Sul, em balanço e estrutura.

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O Santander e o Banco do Brasil (BBAS3) mantiveram essas despesas gerais em linha na comparação anualizada, custando R$ 5,26 bilhões e R$ 7,77 bilhões, respectivamente. Embora não tenha tido um aumento, a notícia não é inteiramente positiva, dado o crescimento exponencial dos bancos digitais. O Nubank, por exemplo, cresceu 50% na pandemia e já tem 35 milhões de clientes.

O destaque positivo dos bancões nesse sentido foi o Bradesco. O banco apresentou redução de custos de 5% ano contra ano, melhor do que o guidance mostrava. Embora à primeira vista pareça pouco, é um resultado relevante para o tamanho do banco, com atualmente 88,6 mil funcionários (8,5 mil a menos ante março de 2020).

Segundo Victor Luiz Martins, analista da Planner, a tendência é positiva para as despesas operacionais em queda ou crescendo em um menor ritmo do que a inflação. “Com isso, também haverá crescimento de margem financeira líquida”, diz.

Rentabilidade dos bancos volta a aparecer, mas upside é limitado

Como um todo, o primeiro trimestre dos bancos foi positivo do ponto de vista da rentabilidade, tão questionada pelo mercado. Por mais que a qualidade e origem sustentável do lucro dos bancos esteja fora do que os investidores gostariam, o Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) das instituições está em um patamar confortável.

A rentabilidade sobre patrimônio do Itaú saltou 5,7 pontos percentuais em um ano, para 18,5%. O Bradesco, por sua vez, avançou 7 pontos percentuais, para 18,7%. Segundo os analistas, os retornos serão consistentes no curto e médio prazo, porém em patamar abaixo do período pré-pandemia.

“No curto prazo, dificilmente esse forte lucro dos bancos irá cair”, disse Miziara. “Vimos que no primeiro trimestre a parte de seguradoras teve uma boa recuperação ajudando os números das instituições, compensando as perdas com as menores margens.”

É factível vislumbrar para os próximos trimestres um crescimento sólido do lucro das instituições, sobretudo por conta da recuperação da economia — desde que o combate à pandemia seja efetivo. Embora também seja esperado um aumento na inadimplência ao longo do ano, a carteira de crédito deve apresentar crescimento com maior concessão de recursos, sobretudo a pessoas físicas e pequenas e médias empresas.

O dividend yield, um dos principais chamarizes aos investidores, deve ser forte, conforme o estimado para este ano, entre 8% e 9%. A distribuição aos acionistas, que deve ser realizada de forma adequada visto o crescimento do lucro, será estimulada pela pausa nas provisões adicionais, porém, sem espaço para reversão das reservas já feitas.

“De todo modo, o que fica dessa temporada de resultados é que os bancos digitais chegaram de vez e estão começando a fazer barulho no segmento de crédito, core business dos bancões”, afirma Miziara.

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Jader Lazarini

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