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Petrobras (PETR4) cai 12% nos EUA com dividendos e troca de presidente

José Mauro Coelho: demitido por telefon - Foto: Reprodução/Instagram

José Mauro Coelho foi retirado do cargo de presidente da Petrobras após somente 40 dias - Foto: Reprodução/Instagram

As ADRs da Petrobras (PETR4) caem 12% nas negociações premarket – que precedem a abertura do pregão – na Bolsa de Nova York (NYSE). A oscilação sofre influência do pagamento de dividendos da companhia, já que a distribuição de proventos ocasiona um ‘desconto’ nos papéis. Além disso, a mudança se dá logo após o governo anunciar a troca do presidente da estatal, na noite de segunda (23).

Isso porque os dividendos da Petrobras que foram anunciados no início do mês estipulam que, para as ADRs da Petrobras, negociadas na Bolsa de Nova York, a data de corte é neste dia 24 de maio. Os pagamentos serão nos dias 27 de junho e 27 de julho. Nas ações listadas no Brasil, os proventos são de R$ 3,715490, pagos em 20 de junho e 20 de julho.

Durante o pregão da véspera, algumas horas antes da troca do comando da estatal, as ações preferenciais da Petrobras, PETR4, saltaram 11,2% no intradia, para R$ 36,20, ao passo que as ordinárias, PETR3, subiram 10,31% para R$ 39,06. As oscilações, contudo, ocorrem também por conta da influência das datas de corte dos dividendos.

Com a decisão recente do Planalto, José Mauro Coelho foi dispensado do cargo de presidente da Petrobras, após permanecer apenas 40 dias no posto.

O executivo será substituído por Caio Mário Paes de Andrade, segundo nota do Ministério de Minas e Energia (MME). Paes de Andrade atua como Secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes.

Contudo, vale lembrar que apesar de a decisão já ter sido tomada pelo Governo, a indicação ainda precisa ser aprovada pelo conselho de administração da Petrobras.

Caso isso ocorra, Paes de Andrade será o quarto presidente da petrolífera durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Antes de Coelho, que assumiu o cargo em abril, passaram pela cadeira da estatal Roberto Castello Branco e o general Joaquim Silva e Luna.

A decisão de Bolsonaro se dá em meio a novas críticas do presidente no que tange às mudanças e reajustes da estatal.

Apesar de negar a possibilidade de interferir na política de preços, o mandatário já havia criticado presidentes e executivos por conta de decisões do gênero, como quando pediu para que Silva e Luna “aguardasse mais um dia” antes do reajuste de preço na gasolina, o que não foi feito.

Mesmo que a gestão atual tenha ficado no cargo somente 40 dias até então, as críticas se mantiveram.

“A Bolívia cortou 30% do nosso gás para entregar para a Argentina. Como agiu a Petrobras nessa questão também? O gás, se tiver que comprar de outro local, é 5 vezes mais caro. Quem vai pagar a conta? E quem vai ser o responsável? É um negócio que parece orquestrado para exatamente favorecer vocês sabem quem”, disse Bolsonaro, em Brasília, a apoiadores, sem citar nomes.

No acumulado de maio até então, a estatal vem recebendo cerca de 30% a menos da quantidade de gás natural contratada com a YPFB. A importação média da estatal brasileira estava em torno de 20 milhões de metros cúbicos de gás, segundo fontes da empresa ouvidas pelo Poder360.

Outro ponto que movimentou o noticiário foi o reajuste recente no diesel, que também aumentou a tensão com os caminhoneiros. Ainda na primeira semana de maio a estatal aumentou preço do diesel nas refinarias, passando de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro.

À época, a Petrobras justificou o aumento no preço do diesel ressaltando que o último reajuste ocorreu há cerca de dois meses, em 11 de março, quando “refletia apenas parte da elevação observada nos preços de mercado“.

Com o cenário, o presidente editou Medida Provisória (MP) que permite a revisão da tabela do frete sempre que houver oscilação superior a 5% no preço do diesel em relação ao preço de referência. O gatilho do diesel anterior para o aumento dos valores do frete para os caminhoneiros era de 10%.

XP vê oportunidade de compra de PETR4 com ‘barulho político’

Segundo a XP Investimentos, embora a notícia seja negativa por conta da “rotatividade de executivos”, a corretora não vê risco de mudanças drásticas na Petrobras nem risco à política de preços.

Os analistas da casa citam que a Lei das Estatais e o estatuto da Petrobras ‘blindam’ essas possibilidades, além de evitar um possível subsídio aos combustíveis como foi feito no passado.

Além disso, o relatório, assinado pelo Head de Óleo, Gás e Materiais Básicos, Andre Vidal, e pela analista de política Junia Gama, cita que Paes de Andrade é “fortemente ligado a Paulo Guedes”, e que o ministro não é a favor de mudanças na política de preços de combustíveis da Petrobras.

A recomendação da XP é de compra para as ações da estatal, com preço-alvo de R$ 47,80 para as ações brasileiras (PETR3 e PETR4) e US$ 18,40 para as ADRs listadas em Nova York

“Mesmo com tanto barulho político, ainda vemos o caso da Petrobras como assimétrico, respaldado por um múltiplo muito baixo (2,4x EV/EBITDA 2022 ante 3,4x das grandes petrolíferas ocidentais) e um forte fluxo de dividendos (yield de 24 % para 2022 e ~100% para os próximos 5 anos)”, diz a XP.

Veja outras demissões

Silva e Luna saiu após um desgaste da sua relação com o governo em meio ao forte aumento dos combustíveis em março, após quase 2 meses sem ajuste.

Na época, o barril do petróleo disparou com a invasão da Ucrânia pela Rússia, chegando perto de US$ 140 e pressionando os preços internacionais. O general deixou o cargo criticando Bolsonaro em entrevistas nos principais jornais e revistas.

O governo ainda passou pelo desgaste de ver o nome de Adriano Pires ser descartado após dificuldades de conciliação entre sua atividade empresarial e o cargo.

Após indicação de que seu nome não receberia recomendação do compliance da Petrobras para substituir Silva e Luna, Pires desistiu da indicação, dando sequência ao imbróglio da estatal.

Troca na Petrobras dá sequência à ‘dança das cadeiras’ do setor energético

Além das trocas na Petrobras, precedidas por críticas, o presidente também mudou o comando de pastas do setor energético recentemente. No dia 11, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, foi exonerado da pasta, trocado Adolfo Sachsida, que estava na chefia da Assessoria Especial do Ministério da Economia.

A exoneração, dessa forma, se deu um dia após o reajuste do diesel. Além disso, alguns dias antes, em transmissão ao vivo nas redes sociais,  Bolsonaro criticou a política de preços da Petrobras e pediu que os mesmos ficassem congelados.

Na ocasião, o presidente chegou a citar nominalmente Bento Albuquerque, além de José Mauro Coelho, presidente da Petrobras, ao afirmar que os servidores “não podem” aumentar o preço dos combustíveis.

“Vocês não podem, ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro, da Petrobras, não podem aumentar o preço do diesel. Não estou apelando, estou fazendo uma constatação levando-se em conta o lucro abusivo que vocês têm. Vocês não podem quebrar o Brasil. É um apelo agora: Petrobras, não quebre o Brasil, não aumente o preço do petróleo. Eu não posso intervir. Vocês têm lucro, têm gordura e têm o papel social da Petrobras definido na Constituição”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro também criticou o lucro registrado pela Petrobras no primeiro trimestre deste ano.

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