A sintonia do casal para investir com resultados

Se você quer aprender sobre bons investimentos, não leia apenas sobre bons investimentos. A capacidade de analisar contextos diversos para investir com eficácia e regularidade depende de uma cultura geral que não é assimilada apenas em demonstrações de resultados e balanços financeiros. É possível se aprimorar como investidor mesmo lendo sobre Mitologia.

Um dos maiores mitólogos do século 20 – talvez o maior deles – foi Joseph Campbell. Entre 1985 e 1986, poucos meses antes de falecer em 1987, ele concedeu uma série de entrevistas para o jornalista Bill Moyers no Rancho Skywalker, de George Lucas – por sua vez o criador da saga cinematográfica “Guerra nas Estrelas”.

As conversas foram filmadas e se converteram num especial para a TV dos Estados Unidos, cuja transcrição foi organizada por Betty Sue Flowers e resultou num livro de leitura obrigatória, denominado “O poder do mito”.

A certa altura Campbell declara: “Casamento não é um caso de amor. Um caso de amor é algo inteiramente diferente. O casamento é um compromisso com aquilo que você é. Aquela pessoa é literalmente a sua outra metade. Você e o outro são um só. Um caso de amor não é nada disso, é um relacionamento que visa ao prazer, e, quando deixa de proporcionar prazer, está acabado. Mas o casamento é um compromisso para a vida, e um compromisso para a vida significa a preocupação primordial da sua vida. Quando o casamento não é uma preocupação primordial, você não está casado”.

IMEDIATISMO VERSUS PERENIDADE

Fica evidente que o mitólogo estabelece uma dicotomia entre prazer e compromisso. O prazer está associado a algo imediato, ao passo que o compromisso prevê uma relação de longo prazo, que sobrevive ao fim da chama de atratividade que alimentou o interesse inicial de cada componente do casal.

Esta noção de prazer e compromisso, levada ao campo da educação financeira, faz todo o sentido, pois a manutenção de um casamento duradouro depende da saúde financeira do casal e, para que a mesma seja plena, não basta que apenas uma das partes dê atenção para o tema.

Isto não significa que o compromisso deva anular o prazer ou vice-versa. Compromisso e prazer devem ser conceitos complementares num matrimônio saudável, pois a ausência total de um dos componentes resulta na ruína do casal. O objetivo é a busca de um equilíbrio que, logicamente, não é fácil de atingir.

SOMA DE VETORES

Quem investe com o foco no longo prazo, visando a independência financeira e uma aposentadoria plena, que liberte a pessoa da obrigação de trabalhar, sabe que é preciso ter disciplina e paciência para poupar parte da renda obtida com um ofício para aportar recursos em ativos que levarão anos para gerar resultados consistentes.

Este esforço contínuo pode ser em vão se, do outro lado da cama, estiver uma pessoa mais preocupada com a próxima viagem ou com a troca do carro, enquanto olha para o guarda-roupa imaginando a próxima aquisição para ocupar um cabide ocioso.

Para um casal progredir em termos financeiros, é preciso que as duas partes remem na mesma direção. Se apenas um remar, desde que a outra parte fique neutra, já será uma situação bem melhor do que se ambos remarem em direções opostas.

BALANÇA DE RECURSOS

Obviamente, se ambos pensarem apenas no “aqui e agora”, as contas atrasadas logo estarão sobre a mesa do jantar e, quando a carestia bater na porta, o amor pulará pela janela. Por outro lado, um casal extremamente austero não desfrutará dos melhores anos da juventude e meia idade. Mais uma vez: é preciso ter equilíbrio.

Este equilíbrio é explicitado pelo autor T. Harv Eker em seu best-seller “Os segredos da mente milionária”. Ele recomenda que 10% de todos os rendimentos de um indivíduo – mas pode ser também um casal ou uma família – sejam direcionados para a conta da liberdade financeira a ser atingida no longo prazo. Em compensação, ele também recomenda reservar 10% para a conta da diversão, outros 10% para contas de poupança para emergências, 10% para doações, 10% para instrução financeira e 50% para as necessidades básicas.

Como não há uma ordem hierárquica nesta divisão, vale o bom senso: o casal deve estar em dia com todas as suas despesas básicas e reservar uma quantia para gastos emergenciais, para então guardar dinheiro para investimentos em longo prazo. A diversão e a doação vão decorrer do atendimento das prioridades – e não o contrário.

CONFIANÇA E TRANSPARÊNCIA

Gustavo Cerbasi foi além, ao dedicar um livro inteiro para as finanças dos enlaces: “Casais inteligentes enriquecem juntos”. O livro certamente merece ser lido, mas poderia ser sintetizado numa frase de Twitter do próprio autor: “Gastem menos do que vocês ganham e invistam a diferença. Depois reinvistam seus retornos até atingir uma massa crítica de capital que gere a renda que desejam para o resto da vida”.

O grande problema com o livro do Cerbasi, e de qualquer livro que tenha como foco a educação financeira para casais, é que nem sempre os dois gostam de ler. Aqui entra um terceiro componente sem o qual um casamento não será duradouro: a confiança.

A confiança é extremamente necessária quando uma parte do casal se instrui sobre investimentos e a outra não. É preciso que fique definido que a parte instruída conduza os investimentos do casal e que haja concordância do outro lado.

A leitura de livros, assim como a adoção de estratégias de investimentos, não deve ser algo impositivo, desde que haja transparência para demonstrar a evolução do patrimônio líquido do casal.

PROVER E MANTER

Antigamente isso ficava claro na cultura patriarcal que reinava nos países do ocidente, onde o papel do marido e da esposa era imposto pela sociedade. Ao marido cabia exercer o papel de provedor da família: era ele que tinha que sair de casa logo cedo para buscar o sustento da prole. Já a esposa deveria atuar como a mantenedora da casa: de certo modo ela administrava os recursos para alimentar e educar os filhos.

Com a revolução industrial e dos costumes ocorrida nos últimos séculos, as mulheres foram lentamente se emancipando perante a sociedade cada vez mais urbanizada, de modo que atualmente os papéis de provedores e mantenedores de um lar se invertem ou se misturam.

Se tanto homens como mulheres podem ser os provedores e mantenedores de um lar, pois todos podem atuar no mercado de trabalho, as novas gerações ainda são criadas com noções tradicionais de família. Isso aumenta a necessidade do diálogo entre as partes, para que cada um se identifique melhor com o seu papel e permita que o outro lhe complemente.

O papel da cada componente de um casal – independente do gênero – pode ser compreendido como um arquétipo. Aqui, voltamos ao início da nossa explanação, pois a Mitologia estuda arquétipos. É por isso que você pode obter lições sobre investimentos estudando sobre Mitologia, Filosofia, Sociologia, Psicologia.

Se a sua parceria matrimonial não se interessa por assuntos de finanças e investimentos, traga a tranquilidade para o abraço diário: diga que você é assinante premium da Suno Research. Nossos analistas são estudiosos – acima de tudo e o tempo todo.

ACESSO RÁPIDO
    Jean Tosetto
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