Vale (VALE3) deve quintuplicar lucro em 2021 e consolidar estratégia de ‘valor sobre volume’

O mercado financeiro estará atento amanhã ao balanço da Vale (VALE3), em especial para verificar se deu certo a estratégia da maior empresa aberta do Brasil em priorizar retorno financeiro em detrimento do volume produzido de minério de ferro. A mineradora divulgará o resultado do quarto trimestre de 2021 nesta quinta-feira (24), após o fechamento do mercado às 18h.

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De acordo com estimativas do BTG Pactual, a Vale deve apresentar um lucro líquido em 2021 cerca de 4,9 vezes maior que o resultado do ano anterior, impulsionado principalmente pelo valor recorde do minério de ferro e câmbio favorável.

Na comparação entre trimestres, o principal fator que contribuiu para o balanço positivo do ano está no segundo trimestre do ano, quando registrou lucro líquido de US$ 7,6 bilhões. No terceiro trimestre, a cifra ficou em US$ 3,9 bilhões, resultado que deve se manter estável no quarto trimestre.

Outro ponto a ser considerado na comparação anual é a base fraca em 2020, ainda sob influência da recuperação da companhia após o desastre do rompimento da barragem em Brumadinho um ano antes.

Para especialistas ouvidos pelo Suno Notícias, o balanço deve justificar o pagamento de dividendos atraentes este ano.

Segundo o último Anuário Mineral Brasileiro publicado, de 2020, a Vale responde por 71,9% da produção brasileira de minério de ferro, cerca de sete vezes mais que o segundo lugar, a CSN Mineração (CMIN3), responsável por 10,2%, e 32 vezes mais que a Usiminas (USIM5), com 2,23%.

A Vale também tem destaque na produção de cobre, com 14,7% da produção nacional, de manganês, com 14,6%, e de níquel, com 18,06%.

Já no cenário internacional, a grande concorrência da Vale vem da Austrália, por conta da Rio Tinto, BHP Group e Fortescue Metals, gigantes do setor de extrativismo mineral.

Statistic: Distribution of global iron ore exports in 2020, by major country | Statista
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Confira a seguir as expectativas de analistas para o desempenho da empresa no último trimestre de 2021:

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‘Recomendaçãozinha’

Além da produção de minério de ferro, que domina as atenções do mercado, o BTG Pactual chama a atenção para a produção de níquel da mineradora, metal essencial para os esforços de descarbonização do qual a mineradora é a segunda maior produtora no mundo, atrás da russa Norilsk.

“À medida que as tensões geopolíticas se desenrolam (não temos absolutamente nenhuma capacidade em prever os próximos passos), os preços do níquel estão a caminho de atingir as máximas da década de US$ 25 mil por tonelada”, disse o banco. “Uma boa oportunidade para revisitar esta linha de negócios”, diz o BTG.

Segundo destaca o banco, a Rússia inteira responde por cerca de 7% da oferta global de níquel, enquanto a Vale domina de 5% a 6% da oferta global.

Para o balanço de 2021, a instituição estima um lucro líquido de US$ 23,6 bilhões para a Vale, 485% maior que o balanço de 2020, e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de US$ 34,1 bilhões, alta de 55% em relação ao ano anterior.

O banco entretanto reforça que não está fazendo uma “grande recomendação” de compra: “Apenas tentando apontar que a divisão de metais básicos da Vale pode ser uma fonte de retorno potencial que não está sendo precificado pelo mercado”.

Assim, a expectativa no banco é de que o consenso revise em torno de 20% para cima as expectativas de lucro nas próximas semanas. “Recomendamos aos investidores que comprem Vale no preço atual.”

O preço-alvo indicado para as ações da Vale é de R$ 115,00, potencial de valorização de 33,4% sobre o valor de abertura hoje.

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Estoque da Vale compensa queda da produção

O banco Safra avalia que, apesar de a produção de minério de ferro em 2021 ter ficado no fundo do intervalo de expectativas, o balanço da empresa não deve sofrer grandes alterações, em parte pela utilização de estoque formado durante o terceiro trimestre do ano e também pelo aumento do fim do ano do volume de vendas de metais básicos.

A instituição prevê um resultado operacional para o quarto trimestre praticamente estável em relação ao período anterior, uma vez que o volume menor de vendas seria compensado pela cotação mais baixa do minério de ferro no período.

A expectativa é de receita líquida trimestral de US$ 13,3 bilhões no quarto trimestre, alta de 5% em relação ao período anterior, e Ebitda de US$ 6,9 bilhões, estável trimestre a trimestre. A margem seria equivalente a 52%.

Para as ações da Vale, o Safra disse que mantém a recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 98, segundo documento divulgado após relatório de produção da empresa. A cifra representa um potencial de valorização de 13,1% em relação ao preço de abertura hoje.

Entre os fatores que embasam o interesse de investimento na Vale, o Safra destaca:

  • a alta qualidade do minério de ferro, que não necessita de um processo de purificação e isso implica em custos operacionais mais baixos, um dos menores do setor; e
  • mix de estoques offshore são uma estratégia importante dada a distância dos principais clientes na China.

Por outro lado, o banco também aponta riscos, como:

  • a desaceleração do mercado chinês, que concentra grande parte do consumo da commodity;
  • aumento da volatilidade dos preços do minério de ferro e aço;
  • flutuações cambiais; e
  • possível, mas improvável, intervenção do governo.

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China é fator de risco para a Vale

O Goldman Sachs destaca que o último relatório de produção da Vale trouxe surpresas positivas, com potencial de o Ebitda projetado para o 4T21 superar a expectativa do banco de US$ 6,4 bilhões: “O valor representa uma queda de 10% na comparação com o trimestre anterior, mas vemos risco altista sobre as nossas estimativas, considerando que a venda de minério de ferro veio 15% acimas das nossas estimativas para o trimestre.”

Entre o cenário de riscos, o banco indica tanto a possibilidade de a cotação do minério de ferro despencar caso a demanda chinesa caia abaixo das expectativas, quanto o fortalecimento do real frente ao dólar impactar negativamente os lucros da empresa.

Do outro lado, entre as possibilidades de valorização, o GS vê possibilidade de a produção superar as expectativas nos próximos anos, assim como a desaceleração da inflação reduzir os custos da empresa e a demanda na China aumentar acima das expectativas.

Para o balanço da Vale em 2021, o banco estima US$ 54,0 bilhões em receita e um Ebitda de US$ 33,2 bilhões.

Statistic: Vale S.A.'s number of employees from 2010 to 2020 | Statista
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‘Valor sobre volume’

Para a XP Investimentos, se por um lado houve queda na produção no último trimestre de 2021 por causa de uma quebra de expectativas da relação estéril-minério (quantidade de material, ou solo, retirado para se acessar os depósitos de minério), por outro houve avanço do volume de vendas.

“Acreditamos que esses resultados demonstram o mantra da Vale de ‘valor sobre volumes’, pois optou por vender mais pelotas e menos minério de ferro no trimestre. Essa estratégia no trimestre reduziu o estoque no sistema agregando valor às vendas da Vale e mantendo o mercado de minério de ferro apertado”,  explicou.

A corretora disse que mantém a recomendação de compra e estima um preço-alvo de R$ 97,10 por ação da Vale, potencial de valorização de 12,6% sobre o valor de abertura hoje.

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Pedro Caramuru

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