Preço da energia sai do piso com demanda recorde e onda de calor. Qual o impacto nas ações do setor elétrico?

Nesta semana, o Operador Nacional do Sistema (ONS) estimou que a demanda por energia elétrica deve atingir um recorde para meses de setembro, em linha com a onda de calor que atinge todo o país. Assim, os preços de energia tiveram um choque altista, o que, à primeira vista, pode parecer benéfico para as empresas do setor. Na visão de especialistas, no entanto, o cenário é passageiro e não deve significar um gatilho relevante e imediato para as ações do setor elétrico. Mas haverá impacto no desempenho das empresas do segmento nos próximos trimestres, segundo a XP.

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O Preço da Liquidação das Diferenças (PLD), que é um indicativo usado para determinar o valor da energia no Brasil, estava no piso regulatório de R$ 69,04/MWh desde setembro de 2022. Mas, nesta semana, o contexto mudou. A Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) informou que para a última terça-feira (26) o preço-médio seria de R$ 102,71/MWh, em função do aumento das temperaturas e da alta demanda.

“Para fins de comparação, no último dia 19, a carga estava na média de 81 GWm. Na terça, dia 26, subiu para 86,8, e para quarta-feira, o ONS estava prevendo uma carga de 86,9 GWm. No dia 26, aliás, o PLD máximo ficou em R$ 232,45/MWh, às 18h”, explica Henrique Kido, diretor de inteligência de mercado da Tempo Energia. “Com a volta da normalidade de temperatura, acreditamos que o preço da energia do setor elétrico retomará os patamares mais baixos”, completa.

O inverno brasileiro em 2023 foi marcado por uma forte onda de calor. Algumas regiões do país registraram temperaturas na casa dos 40° entre os dias 18 e 22 de setembro, lembra a XP. “Com a alta nas temperaturas se estendendo até a última semana de setembro, quando começou oficialmente a primavera, estima-se um aumento no consumo de energia em 5,8% em relação à média para o mês, com o uso mais intenso de equipamentos de ar-condicionado, ventiladores e outros aparelhos de refrigeração”, diz relatório da XP.

Segundo o ONS, a expectativa é de que setembro de 2023 registre uma carga de energia de 75.234 megawatts-médios (MWm), enquanto um consumo padrão para essa época do ano é de 70.000 MWm.

Com essa elevação no consumo de energia elétrica, é possível que as ações do setor de energia se beneficiem da onda de calor?

Setor elétrico: mas isso não reflete nas ações?

Com o fim da onda de calor cada vez mais próximo, a tendência é de que os preços da energia voltem a cair, já que o nível dos reservatórios hidrelétricos vem operando com folga no país. Assim, a expectativa é de que esse rápido choque nos preços não reflita de forma significativa na cotação das ações, como explica Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed.

“Essa alta pode até ser benéfica para as geradoras de uma forma geral, que têm energia descontratada para vender a preço de mercado, como é o caso da Eletrobras (ELET3). Significa um aumento de receita sem que haja alta nos custos. No entanto, vale lembrar que não foi uma alta tão relevante e que tende a ser passageira”, afirma.

O raciocínio é semelhante quando se pensa em um possível impacto no bolso dos consumidores e, principalmente, na inflação do país.

“Ainda é uma alta pequena nos preços do setor elétrico, parece ser algo passageiro. Teria que haver a confirmação desse preço alto por mais tempo para que, aí sim, houvesse algum impacto. Nossa condição hidrológica segue muito boa, então os preços devem voltar para o piso em breve”, completa Piovesan.

Um relatório recente da Genial Investimentos, aliás, afirma que a Eletrobras saiu da adversidade para a oportunidade, recomendando compra para o ativo. O preço-alvo, no entanto, caiu. Os analistas explicam isso justamente pelos preços de energia ainda relativamente baixos e os altos patamares dos reservatórios. O que ainda não deve mudar tão cedo.

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O que explica a disparada recente da Eletrobras?

O que pode gerar certa confusão é o fato de que na última terça (26), dia em que o PLD bateu recorde, a Eletrobras (ELET6) esteve entre as principais altas do Ibovespa. O avanço, no entanto, tem muito mais a ver com a alteração realizada na diretoria financeira da empresa, o que, para Piovesan, sinaliza uma “aceleração das melhorias que precisam ser feitas após a privatização”.

De qualquer forma, o analista coloca a Eletrobras como top-pick no setor, afirmando que ela seria a principal beneficiada em caso de uma manutenção nos altos preços da energia. Outro ponto citado é a melhora na eficiência operacional da companhia, que segundo Piovesan, tende a gerar melhores resultados ao longo do tempo.

Outra boa opção no setor elétrico

Nesta segunda-feira, a Alupar (ALUP11) anunciou o pagamento de R$ 36,571 milhões em dividendos, a serem pagos no dia 5 de outubro. De acordo com Leonardo Piovesan, a tendência é de que esses proventos se tornem cada vez mais recorrentes, o que a torna outra boa opção no setor elétrico.

“Alupar é um pouco diferente, porque é essencialmente uma transmissora. Mas a entrada recente de projetos em operação e a futura redução da alavancagem devem torná-la uma das grandes pagadoras de dividendos recorrentes. Por isso, ela vem logo depois da Eletrobras entre as minhas top-picks do setor”, afirma.

Taesa (TAEE11) tem preço-alvo cortado por analistas

Em revisão de tese sobre a Taesa (TAEE11), analistas do BB Investimentos cortaram seu preço alvo para as ações de R$ 44,10 para R$ 39,00.

Os especialistas da casa explicaram que, em sua análise, incorporaram novos dados da companhia, além de novos projetos da Taesa.

Com isso, a recomendação para ações da Taesa seguiu neutra.

“Apresentamos nossa atualização de modelo e novo preço-alvo para as units da Taesa contemplando o novo ciclo de RAP (Receita Anual Permitida) das transmissoras iniciado em julho de 2023, a inclusão dos dois últimos projetos conquistados no leilão de transmissão #002/2023 (Tangará e Saíra) e projeções atualizadas de variáveis macroeconômicas que impactarão reajustes de receita futuros e custo da dívida”, explica o BB.

Segundo os especialistas, após 2 anos de aumentos de receita bem acima das projeções, o último reajuste de RAP, cujo ciclo iniciou-se em julho de 2023, trouxe ajuste negativo para as concessões indexadas ao IGP-M, que acumulou queda de 4,5% nos 12 meses anteriores ao reajuste.

“Este foi o principal motivo da redução de nosso preço-alvo, também impactado pelo aumento da taxa de desconto (WACC) de 8,0% para 8,7% e pequena redução na margem EBITDA estimada para os próximos anos”, destacam os especialistas.

“As concessões indexadas ao IPCA tiveram seu reajuste (+3,9%) em linha com o que estimávamos, sem impacto relevante nesta revisão. E, por outro lado, o crescimento constante e rentável se manteve, com novos ativos entrando em operação e novos projetos conquistados no segundo leilão de transmissão de 2022”, completam.

Segundo a casa, a rentabilidade estimada desses projetos e o bom histórico da Taesa no desenvolvimento de projetos os “mantêm otimistas”.

“Acreditamos também que o ritmo equilibrado de crescimento seja compatível com a manutenção dos dividendos, em linha com o histórico da companhia e com sua tese de investimento”, conclui o BB-BI.

XP analisa o impacto da onda de calor para ações do setor elétrico

A XP divulgou nesta quarta (27) um relatório sobre o impacto do calor nas empresas do setor elétrico, Segundo a analista do setor de Energia e Saneamento no Research da XP, Maíra Maldonado, esse movimento de maior consumo de energia deve favorecer o desempenho das distribuidoras de energia. “Temos visto um aumento no consumo de energia, o que tende a beneficiar as distribuidoras de energia como Equatorial (EQTL3), Energisa (ENGI11), CPFL (CPFE3), Neoenregia (NEOE3), Copel (CPLE6) e Cemig (CMIG4). Esperamos que esse cenário leve a dados fortes de volume nos resultados do 3º trimestre das empresas, refletindo os efeitos da onda de calor”, comentou a especialista.

Entre as empresas citadas pela XP, os analistas destacam a recomendação de compra para Equatorial (EQTL3) e Copel (CPLE6). A primeira é a Top Pick do setor de elétricas para a XP. Eis os motivos: “Com vasta experiência em melhorar a eficiência das concessões e capacidade de identificar ativos com potencial de valorização significativo, a Equatorial não dá qualquer indicação de recuo no seu ritmo quando se trata de aquisições. Embora oportunidades em distribuidoras de energia possam parecer escassas, a recente entrada da companhia no setor de saneamento demonstrou que outros alvos de infraestrutura também estão no jogo”, avaliam nossos analistas.

“Cemig (CMIG4) também está na nossa cobertura, mas com recomendação neutra pelos analistas verem as ações da empresa já bem precificadas”, comentam os analistas da XP sobre o setor elétrico.

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Guilherme Serrano Silva

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