Copom eleva Selic para 7,75%; entenda por que o BC subiu os juros

Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta (27), em Brasília, na sétima reunião do ano, elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual, atingindo o patamar de 7,75% ao ano.

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Foi o sexto aumento consecutivo dos juros – em setembro e em agosto a alta foi de 1 p.p e, nas três decisões anteriores, o BC subiu a taxa em 0,75 ponto porcentual. O comitê diz que um aumento da mesma magnitude está previsto para a próxima reunião, em dezembro: “O Copom antevê outro ajuste de 1,50 pp na próxima reunião, para 9,25%.” A taxa chegou assim ao nível mais alto desde outubro de 2017, quando estava em 8,25% ao ano.

Esse foi o maior aperto monetário em quase 20 anos. A última vez em que o Copom tinha elevado a Selic em mais de 1 ponto percentual tinha sido em dezembro de 2002. Na ocasião, a taxa tinha passado de 22% para 25% ao ano, com alta de 3 pontos. É, portanto, o maior nível dos juros básicos da economia do governo Bolsonaro. Quando o presidente chegou ao poder, a taxa Selic estava em 6,50%.

Com o último movimento de aperto monetário, o Brasil voltou a ter a maior taxa de juros real (descontada a inflação) do mundo, considerando as 40 economias mais relevantes. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em +5,96% ao ano. Na segunda e terceira posições, aparecem a Rússia (4,77%) e a Turquia (3,46%). A média dos 40 países considerados é de -0,96%.

O aumento na próxima reunião do Copom, em dezembro, pode ser ainda maior: “O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.”

Diz o Copom: “A reação de BCs à inflação deve levar a um cenário mais desafiador para emergentes. Inflação ao consumidor continua elevada.”

Ciclo de aperto

Pesou na decisão do comitê do BC, como se vê no texto do comunicado (veja a integra abaixo), a alta da inflação. Mas não só a alta dos preços: uma semana após o governo realizar uma manobra para furar o teto de gastos para bancar o programa Auxílio Brasil, o risco fiscal entrou no comunicado do Copom: “O fim do teto de gastos desancorou as expectativas. O Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação.”

As projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 9,5% para 2021, 4,1% para 2022 e 3,1% para 2023: “Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,75% a.a. neste ano e para 9,75% a.a. durante 2022, terminando o ano em 9,50%, e reduz-se para 7,00% a.a. em 2023.”

O Copom vê fim do ciclo Selic muito abaixo do mercado. As instituições financeiras apontam para juros de até 11% no fim ciclo e o BC está vendo 9,75% no topo, com um corte de juros em 2022.

Mercado previa aumentos maiores na Selic

Com o aumento de índices de inflação, como o do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15(o IPCA-15), que registrou alta de 1,2% em outubro, renovando máxima histórica para o mês –, analistas subiram as projeções para a Selic na última terça. O indicador divulgado ontem veio acima do esperado.

De 43 instituições ouvidas na segunda-feira pelo Projeções Broadcast, 18 esperavam alta de 1,50 ponto porcentual, para 7,75%, outras 18 de 1,25 ponto, para 7,50%, e sete acreditavam em aumento de 1,00 ponto, passo adotado em setembro, para 7,25%.

Mas, diante do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de outubro acima do esperado, algumas casas já estão mudando de novo suas apostas, para um patamar mais elevado.

No mercado de juros futuros, o prêmio embutido na curva se traduz em aumento na precificação de alta de 1,75 ponto porcentual (80%) da Selic para 8,00%, nos cálculos da Greenbay Investimentos.

Analistas da Genial Investimentos e da Goldman Sachs chegaram a projetar um aumento ainda maior. A Genial Investimentos previa que o Copom subiria a Selic em 3 pontos percentuais na reunião de hoje, para 9,25%. O Goldman Sachs também atualizou seu relatório, sugerindo que o Copom poderia elevar a Selic em até 2 pontos percentuais — também por causa do IPCA-15 de outubro.

“BC aponta perda da âncora fiscal como motivo para a decisão”

Segundo João Beck, economista e sócio da BRA, essa foi a reunião com maior dispersão de opiniões do mercado dos últimos anos: “De toda forma, a própria decisão da diretoria foi unânime, o que mostra comprometimento técnico e aa independência de que o Banco Central vai seguir a cartilha e não se deixar influenciar pelo governo.”

Beck avalia que o comunicado foi “ligeiramente mais objetivo que os anteriores e, no balanço de riscos, o Banco Central aponta exatamente a perda da âncora fiscal como motivo não só para uma elevação de 150 pontos acima da trajetória anterior de 100 pontos.” E conclui: “No geral, o comunicado foi firme, objetivo e passando a mensagem de que irresponsabilidade fiscal será remediado com mais juros, perseguindo a meta de inflação.”

José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos — casa que previa aumento de até 3 pp — comentou o aumento da Selic: “Era basicamente o que uma boa parte do mercado estava esperando. Portanto dados os últimos acontecimentos na área fiscal como a elevação do teto de gastos e tudo e todas as sequências que a gente teve no mercado com desvalorização cambial, achamos que o Coom deveria ter dado pelo menos um comunicado um pouco mais duro”

Camargo argumenta: “Poderia sinalizar que a política monetária vai ficar mais mais contracionista dado que a polícia fiscal está mais expansionista. Pode ser ainda impossível precisar o comportamento do mercado, a priori, mas esse reajuste de hoje foi bem abaixo do que acho que se deveria ser. É um abordagem muito fraca para reverter essa trajetória de deterioração das expectativas. O país está passando por um momento extremamente difícil com enorme volatilidade nos preços dos ativos.”

“Selic com dois dígitos parece ser uma realidade”

Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, acredita que o tom do comunicado deixou evidente o rumo da política monetária do BC: “O agravamento do quadro fiscal, com possibilidade de furo do teto por causa do aumento com os gastos assistencialistas em 2022 e o impacto futuro que as medidas terão sobre a inflação, foram fundamentais para a decisão do Banco Central de hoje.”

Fernanda acrescenta: “Lembrando que, embora em linha com as expectativas, houve aceleração no ritmo de alta de juros. Além disso, o comunicado teve um tom ainda duro (hawkish), deixando claro que a autoridade monetária fará o possível (leia-se mais aumento de juros pela frente) para tentar conter um avanço mais expressivo da inflação. Inclusive já deixou claro outro aumento de juros na mesma magnitude. Como a última pesquisa Focus projeta Selic de 9,50% para 2022, podemos esperar que será bem mais que isso. Ouseja, taxa de juros de 2 dígitos já parece ser uma realidade próxima.”

O Banco Central acertou em elevar a Selic em 1,5 ponto porcentual, para 7,75% ao ano, porque ele já estava atrás da curva da inflação, disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

“Estava na hora de o BC acelerar o ritmo de alta da Selic ou de ampliar o período de altas porque ele estava atrás da curva da inflação. O juro real negativo mostra isso”, disse o economista ao Broadcast, acrescentando que o BC tem de estar à frente da inflação para estimular investimentos e desestimular consumo.

O trade-off desta situação, segundo Agostini, é que o BC não pode fazer tudo sozinho e, ao tentar controlar a inflação, acaba correndo na contramão o crescimento mundial. “O Brasil não cresce mais por conta das ações fiscais populistas, de querer gastar mais do que tem”, criticou o economista da Austin Rating.

O ônus desse populismo, segundo Agostini, vai chegar depois e virá sobre a taxa de crescimento.

“Por enquanto estamos colhendo os frutos de um crescimento temporário”, disse ele, antecipando que vai só esperar os próximos indicadores de atividade para revisar sua expectativa de PIB para 2022

Para o Copom de dezembro, Agostini espera uma alta de igual 1,5 ponto porcentual sob o argumento de que o BC não vai dar um cavalo de pau na economia e tentará mostrar ao mercado que está no controle. Tomando como base para sua previsão o cenário de hoje, o economista projeta para fevereiro de 2022 uma alta da taxa de juro menor, de 1 ponto porcentual para sinalizar que conseguiu controlar a inflação.

“Mas essa previsão de fevereiro é com base no cenário de hoje. Se tudo piorar mais, teremos uma Selic acima de dois dígitos. E isso por conta de ações desnecessárias estimuladas pelo governo. Não dá mais para colocar a culpa na pandemia”, concluiu Agostini.

Resistência do BC

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar o ritmo de elevação da Selic foi acertada e compatível com uma deterioração no cenário macroeconômico pintado pelo Banco Central. A opinião é do economista-chefe do banco Original, Marco Caruso. Para ele, contudo, o comunicado feito hoje ainda mostra uma resistência do BC de entregar todo o juro que está hoje implícito na curva de juros, que mostra uma Selic acima de 11%.

No cenário do Original, a taxa prevista para o fim do ciclo de aperto é de 11%, mas Caruso afirma que aguarda a ata do Copom para garantir que irá reforçar ou não esse patamar. “O tom (do comunicado) foi seco, as avaliações do fiscal foram justas, mas considero que o BC tem cartas na manga para em algum momento pausar o ciclo de altas no ano que vem”, disse.

Ele cita, por exemplo, o fato de que o BC ainda não deixou explícito o tamanho da desaceleração no crescimento da economia e ainda trabalha, dentro da previsão de preços administrados, com uma bandeira vermelha para preços da energia até 2023. Para ele, isso deixa um espaço para que o Copom reavalie, mais à frente, uma alta mais agressiva nos juros.

Caruso apontou ainda que, com a decisão de aumentar o ritmo de alta na Selic, dos 1 p.p indicados na última reunião para 1,5 p.p, o BC responde à altura à piora no cenário fiscal. Mas destaca que, como tomador de informação, o Copom trabalha ainda com a probabilidade de que o teto de gastos realmente seja alterado, não com a consolidação desse cenário. “Só com a possibilidade de furo, as premissas pioraram”, alertou.

“Comunicado do Copom foi seco, chamou atenção pelo que não disse”

Ao elevar a taxa Selic em 1,5 ponto porcentual, o Copom atendeu à ponta mais “dove” das estimativas do mercado, avalia a estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira. Para a analista, o destaque da decisão foi um comunicado seco da autoridade monetária, que não explicitou a sua avaliação a respeito das propostas de mudanças no teto dos gastos.

“O que chamou atenção foi o Copom não dizer, ser mais econômico”, diz Pereira. “O Copom mencionou questionamentos em torno do arcabouço fiscal, mas isso quer dizer que, para ele, não está claro? Ele tem a opinião de que o teto não foi quebrado? Ele tem espaço para ser mais explícito na ata, mas pode não ser. Pode tentar ganhar tempo, mantendo uma comunicação mais seca sobre a política fiscal.”

Após a divulgação de planos do governo para pagar parte de um auxílio de R$ 400 em 2022 e para alterar o indexador fiscal, nas duas últimas semanas, a mediana de mercado apurada pelo Projeções Broadcast para o aumento de juros de outubro saltou de 1 ponto porcentual, para 1,5 ponto. Parte do mercado chegou a prever ajustes mais fortes nesta reunião, de 2 a 3 pontos.

No comunicado, no entanto, o Copom apresentou um trecho sobre a política fiscal no Brasil. “Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, diz o texto.

Segundo Pereira, a sinalização do Copom de um novo aumento de 1,5 ponto em dezembro faz com que o cenário-base convirja para uma Selic de 9,25% no fim do ano. A menção do comunicado a um aperto monetário que avança “ainda mais em território contracionista” indica que o Banco Central (BC) também passou a enxergar uma taxa de juros maior no fim do ciclo, avalia a estrategista, que estima juros terminais próximos de 11%.

Pereira considera, no entanto, que a mudança das projeções de inflação do cenário básico do BC para 2022 – de 3,70% em setembro para 4,10% neste documento – indica que os diretores do BC podem abandonar em entrevistas o compromisso com o centro da meta de inflação do ano que vem, de 3,50%.

“Se ficarem nessa ideia de entregar o centro da meta, teria de aumentar o passo em relação a hoje, vão ter de fazer muito mais”, nota Pereira. “Se flexibilizarem, podem reduzir um pouco o passo a partir de janeiro do ano que vem. Não tem como advogar o cumprimento da meta, não é crível.”

Impacto nas taxas cobradas no mercado

A alta da taxa Selic (juros básicos da economia), decidida hoje (27) pelo Banco Central, terá pouco impacto sobre as taxas cobradas dos consumidores e das empresas, avalia a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Segundo a entidade, existe uma diferença grande entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo, o que dilui o impacto na ponta final.

De acordo com a Anefac, o juro médio para as pessoas físicas passará de 104,24% para 107,03% ao ano. Para as pessoas jurídicas, a taxa média sairá de 47,47% para 49,54% ao ano. A Selic passou de 6,25% para 7,75% ao ano.

Apesar do impacto pequeno nas taxas médias, os consumidores e as empresas gastarão mais para contratarem linhas de crédito, conforme as simulações detalhadas da entidade. No financiamento de uma geladeira de R$ 1,5 mil em 12 prestações, o comprador desembolsará R$ 13,72 a mais com a nova taxa Selic. O cliente que entra no cheque especial em R$ 1 mil por 20 dias pagará R$ 0,80 a mais.

Na utilização de R$ 3 mil do rotativo do cartão de crédito por 30 dias, o cliente gastará R$ 3,60 a mais. Um empréstimo pessoal de R$ 5 mil por 12 meses cobrará R$ 43,92 a mais após o pagamento da última parcela. Caso seja feita em financeira, a operação sairá R$ 28,71 mais cara. No financiamento de um automóvel de R$ 40 mil por 60 meses, o comprador pagará R$ 32,11 a mais por parcela e R$ 1.926,35 a mais no total da operação.

Em relação às pessoas jurídicas, as empresas pagarão R$ 185,04 a mais por um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, R$ 74,25 pelo desconto de R$ 20 mil em duplicatas por 90 dias e apenas R$ 8 a mais pela utilização de conta garantida no valor de R$ 10 mil por 20 dias.

Veja o comunicado do Copom na íntegra

Veja o comunicado de hoje na íntegra:

Em sua 242ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 7,75% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

No cenário externo, o ambiente tem se tornado menos favorável e a reação dos bancos centrais frente à maior persistência da inflação deve levar a um cenário mais desafiador para economias emergentes;

Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores divulgados desde a última reunião mostram uma evolução ligeiramente abaixo da esperada;

A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços veio acima do esperado, liderada pelos componentes mais voláteis, mas observam-se também pressões adicionais nos itens associados à inflação subjacente;

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;

As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 9,0%, 4,4% e 3,3%, respectivamente; e

No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,60*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 9,5% para 2021, 4,1% para 2022 e 3,1% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,75% a.a. neste ano e para 9,75% a.a. durante 2022, terminando o ano em 9,50%, e reduz-se para 7,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 17,1% para 2021, 5,2% para 2022 e 5,1% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias “escassez hídrica” em dezembro de 2021 e “vermelha patamar 2” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.

Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, para 7,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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Ciclo de altas da taxa Selic

Com uma política monetária mais contracionista diante da piora recente dos índices de preços, a Selic continua em um ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegou a 6,5% ao ano, em março de 2018.

Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até chegar ao menor nível da história em agosto de 2020, em 2% ao ano. Começou a subir novamente em março deste ano, quando avançou para 2,75% ao ano e, no início de maio, foi elevada para 3,5% ao ano. Em junho e agosto, subiu para 4,25% ao ano e 5,25% ao ano, respectivamente.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas podem conter a atividade econômica. Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

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Entretanto, as taxas de juros do crédito não variam na mesma proporção da Selic, pois a Selic é apenas uma parte do custo do crédito. Os bancos também consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.

O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.

Entidades do setor produtivo consideram alta da Selic excessiva

A elevação da taxa Selic recebeu críticas de entidades do setor produtivo. Para o comércio e a indústria, a decisão do Copom foi excessiva e aumenta o risco de recessão econômica em 2022.

Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, informou que a decisão prejudica a retomada do emprego e a recuperação da economia. Para a entidade, o BC poderia não ter acelerado o ritmo de reajuste, porque existe uma defasagem e os efeitos dos aumentos nos últimos meses sobre a inflação começam a ser sentidos.

“Os aumentos anteriores da taxa de juros já começaram a ter reflexos na economia. Percebemos que a atividade econômica dá sinais de desaquecimento e, nos próximos meses, os efeitos defasados do aumento da Selic vão continuar contribuindo para desestimular o consumo e desacelerar a inflação”, avalia Andrade. Para ele, aumentaram as chances de recessão em 2022 por causa do impacto negativo dos juros mais altos sobre o crédito para os consumidores e as empresas.

Para a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a elevação da Selic trará custos maiores para o comércio e para o setor produtivo em geral. Em comunicado, a entidade argumentou que o aumento de juros não se justificaria porque os preços estão sendo pressionados por problemas de oferta, como alta nos combustíveis e na luz, não por causa de excesso de demanda.

Segundo a ACSP, o reajuste da Selic dificultará o acesso ao crédito. A associação cobrou a resolução do impasse entre o governo federal e o Congresso em torno da situação fiscal, o que contribuiria para a valorização do real e a queda dos preços.

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) entende que um aumento da taxa básica de juros da economia (Selic) em 1,5 ponto percentual foi excessivo neste momento. “O quadro inflacionário atual e as expectativas para a inflação, principalmente por conta da piora da situação fiscal e da recomposição da demanda, justificam a manutenção do ciclo de alta da taxa de juros. Porém, entendemos que acelerar o ritmo de aumento foi precipitado e poderá comprometer a recuperação de uma economia ainda fragilizada”, avaliou a Firjan.

A nota da federação diz ainda que, diante de perspectivas futuras de maior expansão do gasto público, a aprovação das reformas administrativa e tributária se faz “inadiável e inegociável”. “Só assim será possível manter as contas públicas equilibradas, resgatar a confiança dos empresários e promover um crescimento sólido da atividade econômica”.

Taxa Selic e pressão inflacionária

Para 2021, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior é 5,25%.

No último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado no fim de setembro pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, fecharia o ano em 8,5% no ano

Em setembro, o IPCA subiu 1,16%, ante a taxa de 0,87% registrada em agosto. Trata-se da maior variação para um mês de setembro desde 1994, quando o índice foi de 1,53%. A informação foi divulgado no último dia 8 de outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA apontou para 10,25% de inflação acumulada em 12 meses. No ano, o indicador soma 6,90%, contando os nove meses de 2021.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta em setembro. O maior impacto e a maior variação vieram de Habitação, que acelerou em relação a agosto.

O resultado do grupo Habitação foi influenciado principalmente pela alta da energia elétrica. Em setembro, passou a valer a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos. Em agosto, a bandeira vigente era a vermelha patamar 2, na qual o acréscimo é menor (de R$ 9,492 para os mesmos 100 kWh).

Além disso, dentro dos subitens de Habitação estão os preços do gás de botijão que  também subiram e acumulam alta de 34,67% nos últimos 12 meses.

No relatório Boletim Focus divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (24), o mercado elevou  a previsão para o IPCA para próximo de 9%.

De acordo com os economistas ouvidos pelo BC, a inflação do Brasil deve terminar o ano com acúmulo de 8,96% de alta nos preços, registra o Boletim Focus. A revisão aponta um aumento de 0,27 ponto percentual (p.p.) acima da última projeção. Trata-se da 29ª elevação consecutiva do mercado para a estimativa de inflação do País em 2021. Há um mês, o Boletim Focus registrou que a projeção de alta era de 8,45%.

O mercado também elevou a projeção da taxa Selic, que se manteve neutra por mais de um mês no Boletim Focus. A nova expectativa para a taxa básica de juros da economia ao final de 2021 é de 8,75% frente aos 8,25% anteriores.

Com Agência Brasil e Agência Estado

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Marco Antônio Lopes

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