Copom: mercado prevê alta mínima de 1,25%, trazendo Selic para passado sombrio

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta semana em meio ao momento mais tenso da economia brasileira em 2021. A deterioração das expectativas pela inflação, intensificada pelo descalabro do controle fiscal do País, mudaram as projeções nos últimos dias.

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Com a mesma velocidade que levou a taxa básica de juros da economia (Selic) para a mínima histórica, o Copom deve utilizá-la como ferramenta de política monetária para acompanhar as estimativas do mercado.

Na última semana, com os temores do possível furo do teto de gastos se materializando, não poderia ser diferente: juros futuros se movimentaram. O Certificado de Depósito Interbancário (CDI), negociado para janeiro de 2023, já está na casa dos 11%.

A divulgação da decisão de política monetária, a ser realizada pelo BC amanhã, servirá para ancorar as perspectivas para os próximos meses e deve mostrar a autoridade monetária cada vez mais pressionada pela necessidade de austeridade. 

A deterioração do cenário vez economistas voltarem atrás e traz a perspectiva da Selic em dois dígitos — como em um passado sombrio não tão distante.

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Segundo projeções de sete casas consultadas pelo Suno Notícias, o Copom elevará a taxa Selic em até 1,5 ponto percentual, acelerando o ciclo de alta vigente. Confira quais são:

  • Goldman Sachs;
  • BTG Pactual (BPAC11);
  • Itaú BBA;
  • Bank of America;
  • Suno Research;
  • Guide Investimentos;
  • Banco ABC.

Alta de 1,25 ponto percentual é o mínimo do Copom, diz Goldman

Em relatório, o Goldman Sachs disse que em função dos recentes desenvolvimentos macrofinanceiros relevantes, o Copom elevará a Selic em, ao menos, 1,25 ponto percentual. Isso faria com que a taxa de juros ficasse um nível modestamente acima do neutro, de 7,50%.

Contudo, existe um probabilidade (avaliada em 33%) de que a alta da Selic possa atingir 150 pontos-base. Essa decisão, de acordo com o banco de investimento, dependeria do IPCA-15 de outubro. E ele não foi nada bom para as perspectivas da política monetária.

A prévia da inflação acelerou 1,2% no período, na maior variação para o mês desde 1995. A expectativa mediana do mercado era por 1%. No acumulado do ano, o resultado é de 8,30. Em 12 meses, atinge 10,34%.

Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram aumento nos preços na primeira quinzena de setembro e segunda quinzena de agosto, categoria sensível para a política monetária.

A visão do mercado é de que o Banco Central (BC) terá de correr atrás — isso significa acelerar o aumento da taxa de juros –, prejudicando ainda mais a atividade econômica.

“As previsões de mercado e a percepção da política fiscal, que orienta o orçamento público e a gestão fiscal, atingiu um limite que apontam para desenvolvimentos pertubadores do mercado.”

BTG crava alta de 1,5%

Para o BTG Pactual, o cenário é mais claro.

A reunião de amanhã deve concretizar uma alta de 1,5 ponto percentual, após o quadro fiscal entre as reuniões do Copom apresentar “significativa deterioração, com a com a possibilidade eminente de manutenção da expansão dos gastos com benefícios sociais no próximo ano”.

Na última semana, as perspectivas do mercado (leia-se curva de juros e mercado acionário) reagiram ao rompimento do teto de gastos. O furo da regra fiscal, que deve ficar na ordem de R$ 30 bilhões, servirá para bancar o novo Bolsa Família, chamado de Auxílio Brasil, por R$ 400 mensais aos beneficiários.

Além disso, o governo também criará um “auxílio diesel” de R$ 400 mensais para cerca de 750 mil caminhoneiros.

Curva de juros até 2031. Fonte/Reprodução: BTG/Bloomberg
Curva de juros até 2031. Fonte/Reprodução: BTG/Bloomberg

Com o fim do teto de gastos — ao menos por ora –, economistas já enxergam um cenário de estagflação em 2022. Ou seja, crescimento nulo, com inflação em alto patamar.

Segundo o BTG, a reabertura da economia e o ritmo positivo da vacinação continua impulsionando a alta nos preços do segmento de serviços, permanencendo assim por mais tempo que o esperado pelo Banco Central.

“Esperamos que a reunião de dezembro também seja acompanhada de uma alta superior à 1,0 p.p., ou seja, a Selic mais próximo de 9%.”

BofA assume erro: Selic em dois dígitos já é realidade

Em relatório divulgado ao mercado, o Bank of America reconheceu que errou.

“Por um tempo, dissemos que as taxas de juros não voltariam aos dois dígitos com o pico do crescimento e da inflação. Nós estávamos errados”, afirmaram os analistas.

Segundo o banco, à medida que a âncora fiscal enfraquece, o BC terá de usar seu principal instrumento, a Selic, para tentar fazer com que os cenários voltem a ancorar.

A expectativa da instituição é que as duas últimas reuniões do Copom no ano reservem altas de 150 pontos-base cada. Ou seja, a taxa de juros terminaria 2021 em 9,25%.

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A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 8,5% para 9,1%, com o reajuste no preço dos combustíveis em outubro e contínua alta dos alimentos.

Mesmo com a Selic em ciclo de alta — o que sugere um arrefecimento na deterioração do câmbio –, o BofA estima um dólar na casa de R$ 5,50 no fim deste ano (ante projeção de R$ 5,10), e de R$ 5,70 no ano que vem (frente R$ 5,30).

Mercado vê Copom sem ter para onde correr

Antes, a narrativa do colegiado do BC era de que a inflação seria temporária, ocasionada por conta do desequilíbrio na oferta nas cadeias de produção globais, e que logo isso seria reajustado.

Contudo, a vacinação em massa no Brasil, trazendo reabertura total da economia, junto com a perda da referência fiscal, que aflorava o maior risco do País nos últimos meses, mudaram essa percepção.

O Itaú BBA já prevê que haverá recessão no ano que vem, com o Produto Interno Bruto (PIB) caindo 0,5%.

Para a equipe econômica do banco de investimento, elevar a Selic em apenas 1 ponto percentual a 1,25 ponto percentual “seria uma resposta inadequada, pois sinalizaria uma disposição excessiva para acomodar os riscos de inflação mais elevada”.

Por outro lado, a instituição vê que o reajuste de 1,5 ponto percentual levaria “a uma taxa de juros terminal que colocaria a economia em recessão profunda”.

Com o IPCA-15 acima das projeções, “a expectativa é de que o Banco Central eleve os juros 1,5 p.p. para mais”, comentou Gustavo Sung, economista da Suno Research.

“Além do cenário fiscal e pressão inflacionária, um aperto maior da política monetária tiraria um pouco da pressão para próxima reunião de dezembro. Para o final do ano, a tendência que a Selic termine entre 9,25% a.a. e 10% a.a.”

O Banco ABC também prevê uma elevação da taxa de juros em 1,5 ponto percentual. “Isso em decorrência da materialização dos riscos fiscais prévios — tal como captado no Boletim Focus desta semana.”

Já a Guide Investimentos estima um aumento de 125 pontos-base. “A aceleração se deve sobretudo após a quebra da regra fiscal. Vale lembrar que o BC leva muito em consideração, em seu balanço de riscos, justamente o risco fiscal”, comenta Victor Beyruti, economista da corretora.

Ele ressalta que a janela de atuação do BC está se fechando conforme 2022 se aproxima. Há um atraso em relação à atuação da política monetária e os reflexos na economia, tanto em termos de crescimento como para estancar a inflação.

O Copom divulgará sua decisão na próxima quarta-feira, por volta das 18h30. O caminho, o mercado já espera; a visão do colegiado, coloca uma pulga na orelha; o futuro é nebuloso.

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Jader Lazarini

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