Selic em 9%? Copom indica possível mudança no ritmo de cortes e analistas projetam próximas reuniões

Na quarta-feira (21), o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou a sexta redução consecutiva da Selic, com um corte de 0,5 ponto percentual, levando a taxa básica de juros para 10,75%. A redução veio em linha com a expectativa do mercado, que estava concentrado no comunicado sobre qual seria o ritmo dos futuros cortes.

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“O comitê, com razão, optou por encurtar a sua prescrição futura em meio a mais incertezas, sinalizando outro movimento de 50 p.b. na sua próxima reunião, usando singular, enquanto a prescrição de ritmo de 50 p.b. vinha se estendendo para duas reuniões desde o início do ciclo”, afirma o BBA, que estima a taxa Selic em 9,25% ao ano até o final de 2024. 

Segundo o BTG Pactual, o comunicado surpreendeu um pouco para o lado hawkish, principalmente pelo fato de prever apenas uma redução adicional de 50bps na próxima reunião. 

“Aguardaremos mais detalhes na ata na próxima semana, mas a nova mensagem do comitê e nossa avaliação atual do cenário sugerem que um corte de 25pb pode ocorrer já em junho (e não apenas no segundo semestre). Por enquanto, mantemos nossa taxa terminal da Selic em 9,5% em 2024”, afirma o BTG.

Na decisão, o Copom informou que seu “cenário base não mudou substancialmente”. No entanto,  devido à maior incerteza e à necessidade de mais flexibilidade na condução da política monetária, os membros decidiram por unanimidade comunicar que, se o cenário evoluir conforme esperado, eles antecipam uma redução da Selic de mesma magnitude na próxima reunião. 

“O Copom sinalizou a necessidade de manter uma postura monetária contracionista até que o processo desinflacionário se consolide e as expectativas de inflação se ancorarem em torno de suas metas. A caracterização do balanço de riscos para a inflação não mudou: permaneceu amplamente neutra/balanceada”, diz o Goldman Sachs. 

A casa estima que o Copom reduza a Selic em 50 pontos-base na reunião de maio, podendo mudar para um corte mais cauteloso de 25 pontos-base na reunião de junho. A mudança na orientação deve ter um pequeno impacto positivo na curva de taxas de DI do mercado, informa o banco. 

Sinalização dos próximos cortes da Selic foi ponto chave, diz BofA

De acordo com o BofA, em uma declaração mais curta do que o habitual, o conselho destacou preocupações com as medidas subjacentes à inflação e um cenário externo incerto. 

“A orientação futura mudou, comprometendo-se com mais um corte de 50 pontos-base (em vez de pelo menos dois encontros). Dito isso, o Copom destacou que o cenário base não mudou tanto assim (potencialmente em um esforço para conter uma reação mais negativa)”, comenta o banco. 

Em sua declaração, a diretoria do Banco Central continua mencionando a volatilidade no cenário externo, exigindo cautela. A incerteza sobre o início do ciclo de afrouxamento nas principais economias têm exercido impacto. 

No lado doméstico, o Copom destacou a desaceleração da atividade econômica em linha com suas expectativas. “Apesar da continuidade da tendência desinflacionária, o comportamento das medidas subjacentes é uma preocupação. Os membros do conselho também reforçaram a importância de alcançar as metas fiscais para ancorar as expectativas de inflação, como nas declarações anteriores”, afirma o BofA. 

Apesar da mudança na orientação futura, o banco não espera uma mudança total de afrouxamento ou uma desaceleração no ritmo. “Continuamos esperando a taxa Selic em 9,50%, com mais dois cortes de 50 pontos-base e um corte final de 25 pontos-base em julho.”

XP: comunicado teve “sinais dúbios”

Em relatório assinado por Caio Megale, economista-chefe da XP, e pelos economistas Rodolfo Margato e Alexandre Maluf, a casa diz que o comunicado do Copom “trouxe sinais dúbios”.

Explicam: “Por um lado, o Copom escreveu que as medidas de inflação subjacente – que exclui os itens mais voláteis – se mostraram ‘acima da meta de inflação nas divulgações mais recentes’ – ao invés de ‘se aproximam da meta’ como no comunicado anterior.”

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Por outro lado, diz o relatório da XP, “as projeções de inflação do BC (que mantém um cenário no qual a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de US$/BRL 4,95) ficaram estáveis em 3,5% para 2024 e 3,2% para 2025, mesmo com estimativas mais altas para a inflação de bens administrados – o que significa que o Comitê prevê uma menor inflação para os preços livres, que são mais sensíveis à política monetária.”

O relatório da XP sobre o sexto corte da Selic acrescenta: “Considerando os indicadores de atividade e de mercado de trabalho recentemente mais fortes, acreditávamos que o Comitê pudesse alterar sua avaliação sobre o crescimento econômico. Todavia, o comunicado repetiu que ‘o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom.’”

A XP lembra que o colegiado do BC destacou a “maior incerteza sobre ‘as conjunturas doméstica e internacional’, mas sem elaborar muito sobre o tema. O restante do comunicado foi semelhante ao anterior.”

Conclui a XP: “Apesar do ajuste na orientação futura, não mudamos nosso cenário de que a taxa Selic chegará a 9,00% em setembro deste ano. No entanto, vemos riscos altistas para a dinâmica da inflação à frente, devido às taxas de juros mais altas no mundo (principalmente nos EUA), o que pressiona o real, e à demanda doméstica aquecida. Avaliamos que o balanço de riscos em torno das projeções de inflação e juros está inclinado para cima.”

Selic: expectativa do mercado

No mercado, era unânime a expectativa pela sexta queda consecutiva da Selic de 0,50 ponto porcentual do juro básico, para 10,75% ao ano, seguindo a sinalização dada em janeiro pelo comitê de que “antevê redução de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic nas próximas reuniões”.

Conforme a pesquisa do Projeções Broadcast, todas as 55 instituições consultadas esperam que a Selic cairia a 10,75% na decisão do Copom desta semana.

Mas, diante dos dados mais fortes de atividade e dos alertas da inflação de serviços, a discussão seria se o BC manteria a sinalização de novos cortes da Selic do mesmo tamanho no plural, ou se indicaria a continuidade com a dose atual até maio.

No levantamento do Projeções Broadcast, 80% das casas (44) ainda aguardam mais duas quedas do mesmo tamanho nos encontros de maio e junho. Outras 11 preveem alteração no ritmo de cortes de juros na reunião de junho: uma para 0,75 ponto e dez (18%) para 0,25 ponto.

No início deste mês, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, reconheceu que o Copom vai analisar “para frente” o risco-retorno do atual forward guidance.

Com a baixa esperada da Selic para 10,75%, o afrouxamento monetário chegaria a 3,00 pontos porcentuais – de 13,75% -, mais da metade do caminho previsto pelo Boletim Focus, que projeta juro de 8,50% no fim do ciclo. Nas comunicações oficiais, a autoridade monetária tem repetido que a magnitude total do processo de alívio dos juros dependerá da evolução da dinâmica inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

No Boletim Focus, a mediana para a inflação de 2024 passou de 3,81% no último Copom, em janeiro, para 3,79% na última divulgação, de hoje. Já para 2025, houve alta, de 3,50% para 3,52%, enquanto a estimativa para 2026 continuou estacionada em 3,50% – todas desancoradas em relação à meta contínua de 3,00%. No primeiro encontro de 2024 as projeções do próprio Copom eram de 3,5% em 2024 e 3,2% para 2025.

A taxa está no menor nível desde março de 2022, quando também estava em 10,75% ao ano. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

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Vinícius Alves

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