Grana na conta

Após deixar Americanas (AMER3), Rial renuncia à presidência do Conselho do Santander (SANB11)

O executivo Sergio Rial, que no último dia 11 anunciou o rombo de R$ 20 bi na Americanas e deixou o cargo de CEO da varejista nove dias depois de assumir o posto, saiu de outra empresa. Rial renunciou nesta sexta (20) à presidência do Conselho Administrativo do Santander (SANB11).

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Em comunicado à CVM, a empresa informou sobre a saída de Rial. No seu lugar, assume interinamente Deborah Stern Vieittias, que ficará na presidência do Conselho até 28 de abril, quando está marcada a Assembleia Geral Ordinária da companhia.

Rial ficou no Conselho do Santander por um período de quase seis anos. Ele também deixou os postos nos comitês de assessoramento ao conselho que ele integrava. O pedido de renúncia foi entregue pelo executivo nesta sexta-feira, 20.

CEO do Santander até o início de 2022

O comunicado do banco não traz maiores detalhes a respeito da renúncia de Rial, que foi o CEO do banco no Brasil até o início de 2022.

O executivo voltou aos holofotes na semana passada ao renunciar ao cargo de CEO da Americanas, após menos de duas semanas, diante da descoberta do rombo contábil da ordem de R$ 20 bilhões.

Desde a revelação do rombo, a Americanas vive uma crise sem precedentes. Em cerca de uma semana, a companhia teve de abrir negociações com os bancos credores.

Em um primeiro momento, Rial assessorou os acionistas de referência da varejista nestas negociações, mas acabou deixando esse posto com a contratação do banco Rotschild.

Rial, que havia sido anunciado pela Americanas em agosto do ano passado, afirmou nesta semana, em postagem em seu Linkedin, que especulações em torno das circunstâncias de sua passagem pela varejista seriam “leviandades”.

Rial tem 62 anos, é carioca e tem experiência de 26 anos no setor bancário. Também trabalhou no segmento de frigoríficos: por 11 anos ocupou o cargo de CEO na Marfrig (MRFG3).

O ex-CEO da Americanas é formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Direito pela Universidade Gama Filho. Começou a carreira em 1984, passando por instituições financeiras como o banco ABN AMRO.

“Correção de rota”

Rial saiu do comando da varejista na quarta (11) em meio ao imblóglio no balanço das Americanas, que culminou com o pedido de recuperação judicial nesta quinta (19), com dívidas de R$ 43 bi.

Na terça (17) Rial abriu o jogo sobre o período de nove dias em que atuou como presidente da Americanas, quando descobriu o rombo contábil de cerca de R$ 20 bilhões na companhia. O ex-CEO da varejista ressaltou que “jamais transigiria” a sua biografia.

No texto publicado no LinkedIn, o ex-Santander Brasil (SANB11) explicou que uma das suas primeiras tarefas na varejista foi entrevistar os executivos remanescentes junto com Andre Covre, ex-CFO da companhia. Assim, a dupla identificou o rombo na Americanas e levantou as informações divulgadas no fato relevante da última quarta (11) “com transparência e fidedignidade”.

Quaisquer especulações ou teorias distintas disso são leviandades. Eu jamais transigiria com a minha biografia.

“Portanto, com a conclusão do diagnóstico inicial, surgiu a necessidade premente de correção de rota. E essa correção partiu da transparência e do apoio incondicional que recebi do conselho de administração e dos acionistas de referência [3G Capital]”, prosseguiu Sergio Rial.

O executivo disse que essa experiência trouxe um aprendizado de que “ser líder não é ser corajoso, mas ser responsável e ético; não é ser herói ou heroína, mas ter a resiliência para defender a verdade e fazer o que é certo”.

Com a descoberta das inconsistências contábeis da Americanas, Rial e Covre pediram demissão da companhia. Essa decisão também surpreendeu o mercado, tendo em vista o pouco tempo em que a dupla estava na liderança do negócio.

No posicionamento, Rial afirmou que viu a necessidade de abrir espaço para uma reestruturação da empresa a partir de um ponto “totalmente distinto” do que ele esperava encontrar.

“É preciso saber o momento de se posicionar dentro de um novo contexto que se apresenta. Foi o que fiz, sem me descomprometer em ajudar no que estivesse ao meu alcance. Vou, portanto, neste momento, continuar a contribuir com minhas capacitações, experiência, seriedade e transparência, seguindo sempre as premissas que nortearam toda minha trajetória profissional e pessoal”, destacou.

Americanas: pedido de recuperação judicial e R$ 43 bilhões em dívidas

Uma semana após a descoberta do rombo bilionário, a Americanas (AMER3) formalizou hoje (19) o pedido de recuperação judicial com cárter de urgência na 4ª Vara Empresarial Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. As dívidas da empresa somam R$ 43 bilhões em meio a mais de 16,3 mil credores.

Na petição sobre recuperação judicial da Americanas enviada ao TJ-RJ, a varejista afirma que devido à desvalorização das ações, que registraram quedas superior a 80% desde a divulgação dos R$ 20 bilhões em inconsistências contábeis, junto ao rebaixamento de seus ratings, fizeram com que seus credores financeiros ficassem “em polvorosa”, drenando mais de R$ 3 bilhões do caixa.

“Menos de 6 horas depois da divulgação ao mercado do fato relevante no dia 11 de janeiro, alguns credores, sem qualquer embasamento contratual ou legal, já haviam declarado o vencimento antecipado das obrigações da companhia — alguns assenhorando-se de valores bilionários, fechando as portas para qualquer tipo de negociação amigável viável”, destaca o documento sobre o pedido de recuperação judicial da Americanas.

No final da tarde desta quinta, a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da Americanas e nomeou quem serão os administradores judiciais.

O juiz Paulo Assed, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, deferiu o pedido de recuperação judicial feito pela Americanas (#AMER3).

Foram nomeados como administradores judiciais a Preserva-Ação Administração Judicial e o escritório de advocacia Zveiter.

Americanas: veja o posicionamento de Rial na íntegra

Tenho feito várias reflexões sobre a minha rápida passagem pela liderança das Americanas, algumas das quais compartilho com vocês.

A liderança das Americanas, projetava diversos desafios inerentes a uma empresa de varejo chegando aos seus 100 anos. Na pauta de objetivos estava um projeto de crescimento onde consumidor, tecnologia, marketing, entre outras competências se entrelaçavam. Foi esse o meu propósito, a minha motivação ao aceitar a posição que os acionistas me confiaram: agregar minha experiência profissional e reoxigenar o legado em prol do desenvolvimento da companhia.

Nesses breves nove dias como presidente, os desafios e os ensinamentos, contudo, foram outros, mas extremamente importantes.

Coube-me, como executivo-líder, primeiro entrevistar executivos remanescente, questionar e entender quaisquer preocupações e novas perspectivas. Nessas conversas, informações e dúvidas foram compartilhadas e com o natural aprofundamento para entendê-las e dar-lhes direcionamentos conjuntamente com o novo CFO, Andre Covre, chegamos ao quadro do fato relevante com transparência e fidedignidade! Quaisquer especulações ou teorias distintas disso são leviandades. Eu jamais transigiria com a minha biografia.

Portanto, com a conclusão do diagnóstico inicial, surgiu a necessidade premente de correção de rota. E essa correção partiu da transparência e do apoio incondicional que recebi do CA e dos acionistas de referência. Aqui, minha segunda reflexão: ser líder não é ser corajoso, mas ser responsável e ético; não é ser herói ou heroína, mas ter a resiliência para defender a verdade e fazer o que é certo.

Quanto à minha saída, ela decorre do entendimento da necessidade de abrir espaço para que a empresa pudesse se reestruturar de um ponto de partida totalmente distinto do que eu esperava encontrar. É preciso saber o momento de se posicionar dentro de um novo contexto que se apresenta. Foi o que fiz, sem me descomprometer em ajudar no que estivesse ao meu alcance. Essa é a minha terceira reflexão. Vou, portanto, neste momento, continuar a contribuir com minhas capacitações, experiência, seriedade e transparência, seguindo sempre as premissas que nortearam toda minha trajetória profissional e pessoal.

São lições profundas de governança, autenticidade e coerência que esses nove dias escreveram na minha história.

Rial apontou falta de transparência e revelou motivo da demissão após descobrir rombo bilionário

No dia seguinte ao pedido de demissão na Americanas, o executivo havia destacado que não havia dúvidas de que a companhia precisaria ser capitalizada. Ria apontou ainda uma falta de transparência nos dados e revelou o motivo da sua demissão.

“Os R$ 20 bilhões são a nossa melhor estimativa dentro do que tivemos de informação nesses nove dias”, comentou Rial durante uma conferência com os acionistas da companhia.

O executivo avisou que será necessário uma capitalização da Americanas, mas que ainda não é possível estimar o tamanho do aporte financeiro necessário para solucionar esse problema contábil. “Ninguém definiu o valor, até porque o número não foi auditado. Mas sabemos que não será uma capitalização de [apenas] milhões”, relatou.

Rial reforçou que o 3G Capital, acionistas de referência da Americanas, estão comprometidos com o negócio. “Mas eles não podem ser a solução por si só. ‘Me dá um cheque e tá resolvido’, não é assim”.

Na conferência, o ex-Santander (SANB11) explicou que percebeu problemas no reporte de itens da conta “Fornecedor” no balanço da Americanas e que muitos pagamentos aos fornecedores, quando eram financiados por bancos, não eram vistos como dívidas nas planilhas.

“É um tema [no setor do varejo] que permanece desde a década de 1990, um problema de estruturação de risco sacado que não era reportado como dívida”, detalhou. Mesmo com a situação delicada do negócio, o executivo buscou ser otimista e afirmou que “quanto mais vendermos, menor será o problema”.

Rial também abriu o jogo sobre como identificou o problema nesse curto espaço de tempo em que liderou o negócio: “Em uma dimensão mais conceitual, é a capacidade, sob o ponto de vista de liderança, de que talvez o nível de transparência e a vontade da própria gestão de querer falar de problemas e desafios não estivesse tão fluida na organização como deveria”.

Com informações da Agência Estado

Marco Antônio Lopes

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