Risco de calote da Americanas (AMER3) pode tirar R$ 7 bilhões de bancos; entenda

A novela da inconsistência contábil da Americanas (AMER3) não deve acabar tão cedo. Com o pedido de recuperação judicial aceito e a dívida na ordem de R$ 43 bilhões, a varejista pode obrigar os bancos a reservar em balanço pelo menos R$ 7 bilhões para cobrir o eventual risco de calote da varejista.

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De acordo com executivos do mercado financeiro, Bradesco (BBDC3), Santander (SANB11), Itaú Unibanco (ITUB4), Banco Safra, BTG Pactual (BPAC11) e Banco do Brasil (BBSA3) são, pela ordem, as instituições com os maiores volumes de empréstimos à Americanas. O valor que cada banco emprestou varia, mas vai de cerca de R$ 5 bilhões, no Bradesco, a R$ 1,3 bilhão, no BB.

As instituições não informam os valores por respeito ao sigilo bancário. Pela legislação em vigor, elas são obrigadas a reservar uma parte do dinheiro para cobrir o risco de devedores duvidosos, o chamado provisionamento.

No caso da Americanas, o valor final vai depender de fatores como se os sócios de referência — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira — vão injetar recursos novos na companhia ou se a Americanas vai pedir recuperação judicial.

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Calote reduzirá lucro dos bancos

Caso ocorra um calote da Americanas nos bancos, isso não os descapitalizaria, mas poderia reduzir seus lucros. Para o provisionamento, não é preciso reservar o total da dívida, mas uma parte de acordo com o risco.

Considerando um cenário em que os bancos reservariam metade dos empréstimos, o Bradesco teria de separar R$ 2,3 bilhões para cobrir perdas com a Americanas; o Santander, R$ 1,8 bilhão; o Itaú, R$ 1,7 bilhão; o BTG, R$ 950 milhões; e o BB, R$ 650 milhões. Os cálculos são do analista Rafael Frade, do Citi. Procurados, os bancos não comentaram.

O montante, porém, dependerá do desenrolar das negociações entre os bancos e a Americanas. Uma recuperação judicial não necessariamente levaria o crédito a ser considerado inadimplente, e haveria uma negociação em torno de descontos. Até aqui, os bancos já deixaram claro que só farão acordo se a Americanas for capitalizada – o que gerou um impasse entre as instituições e os acionistas de referência.

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“Se a empresa pedir recuperação judicial e não houver nenhum tipo de capitalização, será o pior cenário. Isso poderia fazer com que os bancos, em um prazo de seis meses, provisionassem 100% das operações”, diz o diretor responsável por entidades financeiras da S&P, Guilherme Machado.

Já a Genial Investimentos estimou que, nesse cenário mais negativo, o lucro líquido dos bancos poderia cair de 1,8% (no caso do BB) a 6,9% (no do Bradesco).

Vencimentos

Parte dos bancos credores tem ido à Justiça para garantir a cobrança antecipada das dívidas da Americanas, o que ajudaria a reduzir perdas. O BTG e o BV (ex-Votorantim), por exemplo, alegam ter liquidado operações após a divulgação do fato relevante que informou o rombo de R$ 20 bilhões da varejista. Para se proteger desse movimento, a Americanas obteve na semana passada uma liminar para evitar o bloqueio de recursos.

“Todos os créditos que o Banco BV possuía na referida data (da publicação do fato relevante) com o grupo Americanas foram extintos”, afirmou o BV. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, as operações somavam cerca de R$ 400 milhões.

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O BTG, por sua vez, conseguiu retomar nesta quarta-feira (18) R$ 1,2 bilhão da Americanas, e teria saldo de R$ 1,9 bilhão ainda em aberto. O Bradesco recorreu nesta quarta à Justiça para ter o mesmo direito, e a expectativa de especialistas é de que outros bancos credores se movimentem na mesma direção.

Esse maior risco da companhia é percebido pelas agências de classificação de risco. A Fitch, por exemplo, cortou a nota da Americanas para C, enquanto a S&P rebaixou a empresa para D. Na Moody’s, o corte foi para Caa3. Nos três casos, as notas significam um risco de calote alto ou muito alto.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo

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Janize Colaço

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