S&P: perspectiva de risco de crédito da Kraft Heinz é negativa

A agência de classificação de risco S&P Global Ratings mudou a perspectiva de risco de crédito da Kraft Heinz. Nesta sexta-feira (22) a perspectiva passou de estável para negativa. Entretanto, a agência manteve a classificação para a dívida de longo prazo em BBB.

A alteração na perspectiva foi feita após a divulgação dos resultados do quarto trimestre da Kraft Heinz. Os números apresentados pela empresa de alimentos foram decepcionantes, registrando uma redução dos dividendos. Além disso, a Kraft Heinz recebeu uma intimação de abertura de investigação da Securities Exchange Commission (SEC).

Além da mudança desta sexta, a S&P salientou que poderá rebaixar ulteriormente a nota de crédito da Kraft Heinz nos próximos 12 a 24 meses.  Isso ocorrerá caso as atividades da gigante dos alimentos continuem fracas. Também será avaliada sua capacidade de controlar custos e as taxas de crédito. Além disso, caso a investigação da SEC revelar irregularidades contábeis graves, também poderá haver um rebaixamento da nota.

Entenda o caso

As ações da Kraft Heinz desbaram 20% no after hours da última quinta-feira (21) após a notícia de uma intimação recebida da Securities and Exchange Commission (SEC). Além disso, a negociação dos papéis foi influenciada negativamente pelo corte nos dividendos.

Junto com seus resultados do quarto trimestre de 2018, a Kraft Heinz informou que foi intimada pela SEC  em outubro passado. A empresa, de propriedade da brasileira 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, está sendo investigada pelo órgão de vigilância da Bolsa de Valores dos Estados Unidos. No específico, estão sendo analisadas as práticas contábeis da empresa.

Além disso, a Kraft Heinz anunciou uma corte de US$15,4 bilhões no valor das marcas Kraft e Oscar Mayer. Também foi anunciada uma perda no quarto trimestre, chegando a US$ 12,6 bilhões. E um corte de seu dividendo por ação para US$ 40 centavos. O mercado esperava um dividendo de US$ 62,5 centavos por ação. Segundo analistas, esse corte sinalizaria como a pressão sobre o caixa da empresa continua intenso.

No acumulado de 2018, a Kraft Heinz registrou um lucro de US$ 84 centavos por ação e uma receita de US$ 6,89 bilhões. Um resultado aquém das expectativas do mercado, que previa um lucro de US$ 94 centavos e uma receita de US$ 6,93 bilhões.

Após essas notícias, as ações da empresa acabaram sendo negociadas abaixo de US$ 38.

A Kraft Heinz salientou estar cooperando plenamente com a SEC e informou ter lançado uma investigação interna após receber a intimação. “A empresa está no processo de implementar certas melhorias em seus controles internos para mitigar a probabilidade de isso ocorrer no futuro e tomou outras medidas corretivas”, informou a Kraft Heinz.

A intimação da SEC seria relacionada às “políticas contábeis, procedimentos e controles internos” nas aquisições. Após a notificação, a Kraft teria modificado o “custo dos produtos vendidos” em US $ 25 milhões. Entretanto, a empresa considerou que o aumento era “imaterial para o quarto trimestre de 2018 e os trimestres já reportados de 2018 e 2017”.

A empresa informou que está aprimorando seus controles e procedimentos internos para evitar futuros casos similares.

Momento de tensão

A notificação da SEC chega em um momento turbulento da história da Kraft Heinz. Em abril do ano passado, Marcel Telles deixou o board da empresa. Além disso, os investidores estão se mostrando insatisfeitos com a gestão da empresa. E isso tudo aumentou a pressão sobre o CEO Bernardo Hees.

“Ainda acreditamos firmemente que nosso modelo está funcionando e tem muito potencial para o futuro”, declarou Hees em uma videoconferência com analistas e investidores. O CEO da Kraft Heinz salientou como a administração estava “desapontada” com os níveis de lucratividade. “Estávamos muito otimistas em entregar cortes de gastos que não se concretizaram”, afirmou o executivo.

As ações da Kraft Heinz estão registrando fortes perdas na Bolsa de Valores de Nova York. No pregão desta sexta-feira os papeis da gigante dos alimentos amargam uma queda de 28,14% na Nasdaq, cotadas a US$ 34,62.

Carlo Cauti

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