Localiza (RENT3), Movida (MOVI3) e Unidas (LCAM3): alta da Selic atrapalha, mas não assusta

Há duas semanas, o Copom deu início ao que o mercado espera que seja mais um ciclo de alta da taxa básica de juros na economia (Selic). A decisão pode impactar empresas intensivas em capital e que têm a maior parte do endividamento ligado ao CDI — como as locadoras de automóveis Localiza (RENT3), Movida (MOVI3) e Unidas (LCAM3).

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A expectativa de parte do mercado, segundo o Boletim Focus, é que a Selic termine o ano em aproximadamente 5%. Por conta disso, o custo da dívida das locadoras pode crescer, diminuir o resultado financeiro e impactar o lucro líquido, como é o caso da Localiza.

A maior empresa do setor possui R$ 6,12 bilhões em dívida líquida, sendo quase a totalidade está atrelada ao CDI. Embora tenha os próximos três anos de endividamento cobertos pelo caixa e aplicações financeiras (cerca de R$ 3,96 bilhões), um aumento significativo da taxa de juros pode encurtar essa folga financeira.

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As locadoras costumam mensurar o próprio sucesso encontrando a diferença entre o Retorno sobre Capital Investido (ROIC) e o custo da dívida. Com um aumento da Selic, essa métrica pode afetar a percepção de valor das companhias.

No entanto, a diversificação dos negócios destas empresas e o potencial de crescimento deste mercado devem ajudar neste momento. Confira a opinião dos especialistas consultados pelo SUNO Notícias.

Gestão de frotas alivia efeito negativo dos juros

O efeito negativo da alta da Selic será, em partes, aliviado pelos fato de que os contratos para fornecimento de frotas para empresas são reajustados pelo CDI.

Com isso, a empresa pode realizar um aumento de ticket em caso de necessidade — ainda sem perder mercado, dada a subpenetração do setor no Brasil. “Neste sentido, a elevação da taxa de juros não é algo que me preocupa”, diz Leo Monteiro, analista da Ativa Investimentos.

Segundo ele, os reajustes dos contratos de gestão de frotas são uma “defesa” contra o aumento do endividamento em caso de elevação da taxa de juros, tanto para Localiza, como Movida e Unidas.

Já no segmento de locação de veículos, as dívidas são pós-fixadas. Com isso, é possível que as locadoras tenham que elevar a tarifa aos consumidores para compensar a alta nos custos, segundo Brunno Donadio, analista da gestora Equitas.

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Dos três segmentos de atuação das empresas — aluguel de veículos (RAC), gestão de terceirização de frotas (GTF) e seminovos — a grande âncora no ano passado foi o relacionamento com as empresas.

Os resultados do segmento demonstraram a resiliência deste mercado, segundo Monteiro, mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que impactou a mobilidade das pessoas.

Setor de seminovos se beneficia do dólar em alta

Além da taxa de juros, outro indicador que impacta de forma expressiva as companhias do setor é o câmbio. Desde o início da pandemia, o dólar se valorizou mais de 40% frente ao real.

De acordo com os especialistas, o dólar nas alturas é benéfico para Localiza, Movida e Unidas pois beneficia o segmento de vendas de carros seminovos.

“Os seminovos não poderiam estar em um melhor momento. Com a depreciação do real e a dificuldade das montadoras conseguirem reestabelecer a cadeia de produção, a oferta de veículos está restrita e, junto com o aumento de custos da indústria, o preço do carro zero subiu muito, disse Donadio ao SUNO Notícias. “Isso puxa o preço do usado para cima.”

Esse cenário trouxe reflexos positivos para parte do setor. A operação de seminovos era o calcanhar de Aquiles da Movida nos últimos anos, e indiretamente a pandemia acabou mudando esse estigma. Em 2020, a companhia registrou uma expansão de 11,4% no ticket médio dos veículos vendidos.

O quarto trimestre marcou um recorde, com o valor de R$ 50,1 mil por seminovo. A margem Ebtida do negócio, que não costuma ser relevante para o lucro operacional, atingiu 11,7% no período entre outubro e dezembro, se recuperando frente aos trimestres anteriores.

“Na lógica do consumidor, se o carro zero está muito caro, ele vai para seminovos — que também passa a ter maiores preços. Foi o que aconteceu com as três empresas. Vimos um número de vendas recorde a um preço vantajoso”, comenta Monteiro.

Resultado em 2020 foi bom, mas ações estão em queda

Embora não colabore de forma relevante com o lucro, os seminovos dão um gás à receita líquida das companhias. O faturamento da Localiza atingiu R$ 10,30 bilhões em 2020 (+1,1% contra 2019), a Movida somou R$ 4,08 bilhões (+6,5%) e a Unidas registrou R$ 5,49 bilhões (+17,5%).

Entre ganhos e perdas, essa dicotomia nas operações das empresas também separa o desempenho das ações entre 2020 e 2021.

Enquanto os papéis das empresas apresentaram um bom desempenho no ano passado, ao passo que o Ibovespa subia apenas 2%, as companhias recuam de forma mais intensa que o índice neste ano — mesmo estando no melhor momento operacional da história.

20202021LUCRO LÍQUIDO 2020 (VS. 2019)
LOCALIZA46,85%-16%R$ 1,04 BILHÃO (+25,7%)
MOVIDA9,17%-21%R$ 233,6 MILHÕES (+2,5%)
UNIDAS32,32%-19%R$ 401,8 MILHÕES (+15,2%)

Ações precificam interferência de Cade em fusão de Localiza e Unidas

Segundo Monteiro, a recente queda das ações das companhias não pode ser atribuída somente à elevação da Selic pelo Copom. Para ele, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve receitar algum “remédio” à criação do gigante do setor, e o mercado já pode estar precificando isso.

“Existe um risco real de não aprovação. Com certeza terá uma intervenção forte, e talvez o mercado já precifique isso”, afirma o especialista.

Para ele, o maior risco para o mercado caso a fusão ocorra recai sobre a concorrência. Juntas, Localiza e Unidas podem dominar 60% do setor, cortando cada vez mais market share das concorrentes. Por conta disso, a autarquia autorizou quatro empresas do setor a levarem seus questionamentos a juízo acerca das razões pelas quais a transação não deve ser aceita.

“A decisão do Cade não é simples. Ao mesmo tempo que o setor não possui possui grandes barreiras de entrada, seria permitida a criação de um player muito maior que seu competidor. No longo prazo, minha visão é que a maior e melhor empresa nesse cenário terá um tamanho desproporcional ao crescimento de lucros da indústria”, diz Donadio.

A concretização do negócio é muito importante para Localiza e Unidas, e um grande risco à Movida. “Se hoje existe uma baixa possibilidade de a Localiza se tornar essa maior e melhor empresa do segmento, se aprovada a a fusão acabou o jogo”, afirma o analista da Equitas.

Para ele, não demoraria para a companhia mineira se tornar uma versão brasileira da Enterprise, gigante norte-americana que possui quase 1 milhão de veículos em sua frota.

Embora as três empresas encontrem desafios à frente, o setor ainda pouco explorado no Brasil e a flexibilidade em seus negócios prometem um futuro resiliente à Localiza, Movida e Unidas. O aumento da Selic não deve interromper esse processo de forma permanente.

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Jader Lazarini

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