Inter (BIDI11) entrega recordes, mas mercado quer mais; entenda por quê

O Banco Inter (BIDI11) vive um claro embate entre expectativa e realidade após a divulgação do balanço do 2º trimestre. O banco entregou um lucro quase 7 vezes maior do que um ano atrás, mas o mercado esperava mais. As operações de crédito cresceram 87% em um ano, mas o mercado esperava mais. As receitas de intermediações financeiras duplicaram, mas esperava-se mais.

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Isso porque o preço da ação do Inter está muito esticado em relação ao lucro do banco, e os analistas esperam que o lucro tenha um forte crescimento neste ano e no próximo, deixando a relação entre preço e lucro (P/L) mais próxima dos bancos tradicionais.

Além disso, o mercado espera ver um desempenho mais forte do Inter no mercado de crédito, que ainda representa uma parcela muito pequena dos negócios.

Aposta do mercado no Inter é grande

O P/L é um indicador importante de análise de ações, e é preciso entender esta métrica para compreender o tamanho da aposta do mercado no modelo de negócio do banco da Família Menin, dona da MRV.

O preço da ação dividido pelo lucro indica em quantos anos a empresa conseguiria pagar o investimento dos acionistas com o lucro que gerou nos últimos 12 meses. O P/L do Banco Inter está em 2.034,9. É isso mesmo. O Inter levaria 2034 anos e nove meses para devolver os aportes aos seus acionistas com base no que o banco lucra atualmente.

Seus concorrentes, os bancos tradicionais, como Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11), por exemplo, têm 10,09 e 9,70 de P/L, respectivamente. Valores que podem ser contabilizados em uma vida humana.

As apostas no Inter são realmente grandiosas, mas não são números ao vento. Na estimativa do BTG, esse P/L deve diminuir para 324,3 ao final deste ano e para 85,3 no final do próximo, finalizando 2023 em 45,7 – valor próximo ao da Weg (WEGE3), por exemplo.

Porque sim, a tal da expectativa é de muito lucro para o banco digital, com base no modelo de negócios em que se vê valor nos dias atuais.

Ação caiu após o resultado

A queda da ação do Banco Inter depois do resultado é algo que ocorre com frequência com outras empresas. Depois de entregar números grandiosos no balanço, os papéis do banco caíram nas negociações seguintes na bolsa de valores, com o mercado decepcionado pelo banco digital não ter alcançado suas projeções.

Isso porque diferentes agentes do mercado financeiro fazem estudos com base na operação da empresa e no momento do país para estimar seus ganhos naquele período. E quando a empresa não atinge os valores esperados, sem choro nem reza, é queda! Para o Inter custou 6,16% de desvalorização na quinta-feira, dia 12, pós-balanço trimestral.

É uma grande desvalorização para um dia de pregão? É! Mas não faz nem cócegas nos 239,36% de ganho do banco digital com os papéis BIDI11 nos últimos 12 meses.

Menos ainda nos 2.114,14% que as ações BIDI4 valorizaram desde o seu IPO em maio de 2018.

Inter (BIDI11) vs IBOV
Fonte: BB Investimentos

O negócio de ouro do Banco Inter

No segundo trimestre de 2021, o número de clientes do Inter atingiu 12 milhões, mais do que o dobro do ano passado e 18% superior ao trimestre anterior. Foram cerca de 30 mil novas contas por dia, 1 mil a mais diário do que nos três primeiros meses do ano.

Em relatório, o BTG destacou que 46% dos clientes ativos afirmam usar o Inter como banco principal, enquanto 36% diz que usa como banco secundário. A Genial Investimentos estima que o Inter já possui 6% do total de contas correntes da indústria.

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“O ecossistema digital e seus atributos criam barreiras de entrada, gerando fidelização e crescimento da base de clientes acima da concorrência, com baixo custo de aquisição, difíceis de serem replicados”, afirma Bruno Bandiera, analista da Genial.

São 3 os produtos principais do Banco Inter no segmento bancário:

  • a conta corrente, sendo 100% digital e isenta de tarifas, fazendo com que seja a porta de entrada para novos clientes.
  • o cartão múltiplo, que gera receita através da taxa de intercâmbio, uma porcentagem do valor de cada transação, e do crédito rotativo; e
  • concessão de crédito, focando em crédito colateralizado, ou seja, quando há alguma garantia por trás do empréstimo, modelo que reduz a inadimplência.

A Genial explica que, assim como na conta corrente, no cartão, o Inter se destaca pela sua diversificação frente outros bancos digitais. “Enquanto, o Nubank apostava até recentemente em um cartão único, o Inter já possuía categorias “gold” e “black”. O Next, banco digital do Bradesco (BBDC4), ainda possui somente um cartão”, diz relatório.

Para continuar evoluindo, a maioria dos relatórios de recomendação indicam que o banco precisa focar em crédito. “Somente 0,25% do total de operações do Inter são de crédito. Nossa tese de investimento se baseia no fechamento da assimetria entre a participação do número de contas e a penetração de crédito nos próximos anos” analisa a Genial Investimentos.

Os desafios do banco digital

De modo geral, neste segundo trimestre, o Inter evoluiu nas suas frentes de negócio, segundo o BTG. “A receita líquida foi um destaque positivo com todas as verticais indo muito bem: bancário, crédito, shopping, seguros e investimentos.” Porém, apesar do crescimento das múltiplas linhas de negócio, as receitas ainda são muito concentradas no segmento bancário (84% em 2021).

Em termos de crédito, o segmento imobiliário é o que mais cresceu. Desde o início de 2020, o banco ganhou 0,15 pontos percentuais (p.p) em participação de mercado, 0,10 p.p nos últimos dois trimestres (4T20 e 1T21). Contudo, este é um mercado muito concentrado em bancos estatais, como a Caixa e Banco do Brasil (BBAS3). Com isso, outras possibilidades se abrem no segmento.

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A estratégia de digitalização surtiu efeito no crédito pessoal, vertente que conta com produtos de empréstimo consignado e cartão consignado. De 2012 a 2020, a taxa de crescimento anual composta (CAGR) do Banco Inter no crédito pessoal foi de 11,2%, impulsionada por uma inadimplência controlada.

Isso, além do rápido crescimento de correntistas, que permitiu um ganho de 0,5 p.p. de market share no crédito pessoal para o banco digital desde o início de 2020, batendo 0,95% em produtos consignados.

Outro CAGR, porém menor, mas que oferece oportunidades também, é o de crédito para pessoas jurídicas: crescimento de 4% entre 2012 e 2020. Os produtos oferecidos são antecipação de recebíveis e duplicatas: quando uma empresa efetua a venda a prazo e contrata o empréstimo para receber o dinheiro na hora, fazendo com que seu credor passe a dever para o banco.

Operações de crédito do Inter
Fonte: Genial Investimentos

Com mudanças recentes no sistema recebíveis, a Genial destaca que “o Inter e outras companhias menores terão condição de ofertar crédito para clientes jurídicos que antes estavam “presos” nos bancões”.

O Marketplace, os investimentos e os seguros

Além de conta, cartão e crédito, operações em que o Banco Inter trabalha há mais tempo, nos últimos anos o banco digital abriu mais linhas de negócios. Com aquisições de corretoras e e-commerce, ampliou seus serviços no Inter Shop e no portfólio de investimentos, além de fazer parcerias para a venda de seguros e processamento de pagamentos. Tudo dentro do seu aplicativo.

O BB Investimentos destacou em relatório que o Inter continua crescendo em ritmo vertiginoso nas suas múltiplas dimensões:

  • na horizontal, com aumento das receitas em linhas já existentes, como conta, cartão e crédito; e
  • na vertical, com a solidificação de novos negócios internos como seguros, investimentos e e-commerce; ou também
  • via parcerias, como as recém anunciadas com o Banco ABC (ABCB4) em mercado de capitais e com a Stone no ambiente de processamento de vendas.

“Ainda que exista pouca visibilidade sobre o período do tempo – se mais cedo ou mais tarde – todo esse crescimento se transformará em lucratividade condizente com este apetite”, diz o BB Investimentos. E acrescenta “vemos o Inter como um dos principais agentes da “nova era bancária”, e um dos operacionalmente mais capacitados para capitalizar sobre o ambiente de competitividade que se acirra no setor”.

Recomendações sobre o Banco Inter e cotação

Genial, Itaú BBA, BB Investimentos e BTG Pactual recomendam compra das ações BIDI11 do Inter, no Ibovespa. O preço-alvo de cada recomendação varia, sendo a faixa de R$ 75,00 a R$ 100,00.

“Em suma, esperamos que as ações reajam positivamente”, diz Itaú BBA, em relatório. “Os resultados confirmam a capacidade do Inter de aumentar simultaneamente sua base de clientes rapidamente e expandir suas ferramentas de monetização.” Entretanto, as ações do Banco Inter acumulam queda de 9,05% na última semana, valendo R$ 65,65 após o pregão de sexta, 13. Hoje, o papel abriu em queda de cerca de 2%.

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Monique Lima

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